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EDITORIAL NACIONAL
Movimentos no xadrez da burguesia em favor de Bolsonaro, no limiar das urnas
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A movimentação nas frações burguesas, que se seguiu à divulgação das pesquisas Ibope e Datafolha, tem um primeiro resultado mais evidente: o fortalecimento da candidatura de Bolsonaro, às vésperas do primeiro turno.

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Ambas as agências conferem de 31% e 32% de intenção a Bolsonaro, e coincidem em marcar dois movimentos simétricos para Haddad, o segundo colocado: seu estancamento entre 21% (o Ibope desta quarta-feira lhe confere 23%), e o aumento íngreme de sua rejeição (ao redor de 11% em uma semana). A resultante é um golfo maior a favor de Bolsonaro no primeiro turno, e a proximidade da taxa de rejeição de Bolsonaro e Haddad num eventual segundo turno.

Bolsonaro e Mourão representam os desejos mais escravistas da classe dominante contra a classe trabalhadora. Estes defensores de torturadores, que entusiasmam oficiais de alta patente do Exército e o reacionário Clube Militar, e que foram beneficiados pelas manobras autoritárias do judiciário, odeiam as mulheres, os negros, os indígenas, os LGBTs. As bancadas da bala, do boi e da bíblia depositam suas esperanças de ajustes sangrentos contra a população na vitória de Bolsonaro, que tem apoio de setores das finanças e dos mercados.

Em eleições completamente manipuladas pelos agentes do golpe institucional, que não tem pudores em assaltar qualquer vestígio de soberania popular, a leitura desses resultados fez com que distintos setores da burguesia colocassem seus anseios escravocratas na cesta de Bolsonaro, dissipando dúvidas e enaltecendo suas capacidades para aplicar pesados ajustes contra os trabalhadores, com um sentimento sintetizado pelo economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale: "Se o candidato é autoritário ou não e se seu vice-presidente aludiu a um autogolpe se necessário, não são questões relevantes para o mercado".

As pesquisas de opinião feitas pelo Ibope e pelo Datafolha, que ainda levando em consideração a modificação na metodologia apontam uma tendência mais pró-Bolsonaro, não vieram sozinhas. A última semana prévia ao primeiro turno trouxe à luz movimentos mais profundos no interior do regime.

O Tribunal Superior Eleitoral havia literalmente roubado 1,5 milhão de votos no Nordeste (600.000 só na Bahia) através do cancelamento do registro biométrico (nacionalmente 3,3 milhões de votos foram surrupiados, a esmagadora maioria da população pobre). É notório como o Nordeste é um centro de votos do PT, o que torna esta manobra francamente favorável a Bolsonaro, que não prospera na região. Em seguida, o ministro do STF Luiz Fux veta a autorização de Ricardo Lewandowski para que Lula pudesse dar entrevistas antes de terminadas as eleições. O presidente do STF, Dias Toffoli, concordou com Fux. A razão? Das mais convincentes: "A desinformação do eleitor compromete a capacidade de um sistema democrático para escolher mandatários políticos de qualidade". A qualidade dos mandatários precisa ser autenticada pela oligarquia judicial, que já pisoteou o direito da população votar em quem quiser.

Como se não bastassem estes serviços prestados a Bolsonaro, na mais rudimentar manobra golpista que relembra a conduta da revista Veja em 2014, Sérgio Moro "quebrou o sigilo" da delação de Palocci contra o PT, que já havia sido descartada pelo próprio MPF por falta de provas. O objetivo? Sua esposa deixou claro, fazendo campanha em prol de Bolsonaro no Instagram. O capitão reformado começa a ser agraciado pela pró-imperialista Lava Jato, que busca instalar constitucionalmente (uma "constituição de notáveis" como defende Mourão?) a violação cabal de todos os direitos democráticos que já são violados nos morros e periferias cotidianamente.

Por sua vez, Donald Trump deu declarações falando contra uma suposta “dureza” do Brasil nas relações comerciais, o que é parte de uma política que "confere o empurrão" para a que mais setores burgueses se alinhem a Bolsonaro, que propõe privilegiar a relação com os EUA em detrimento da China. A despeito dos editoriais do The Economist contra "a catástrofe de Bolsonaro", outro setor das finanças - representados pela Bloomberg - manifestaram seu agrado com o ascenso do capitão.

Já a âncora econômica do Globo, Myriam Leitão, levanta suspeitas sobre a capacidade de reformas que tem Bolsonaro, em coluna intitulada "Investidores escolhem o autoengano ao apostar em Bolsonaro reformista". O mercado estaria tentando se enganar, segundo a analista, já que Bolsonaro sempre votou contra as reformas na Câmara. Naturalmente, a família Marinho quer extrair de Bolsonaro as certezas necessárias depois do desaparecimento de Paulo Guedes. Ou seria "colocar um ovo em cada cesto"?

As divisões ainda existem com vigor nas distintas esferas do regime; não há homogeneidade nas decisões das instituições e frações da burguesia. O que é inegável é que os franco-apoiadores de Bolsonaro saíram dos bueiros da classe dominante para exprimir seu voto.

Estes setores sociais, das bancadas evangélica, do agronegócio e da bala, junto a setores das finanças, querem da extrema direita odiosa tudo aquilo que ela promete: imediata reforma da previdência, estraçalhar direitos sociais, o fim da legislação trabalhista, aplicação real da terceirização total do trabalho, cortes de gastos em todo o orçamento público para pagar a dívida pública aos banqueiros internacionais.

O dogma da conciliação petista

O PT quer convencer seu público eleitor de que a saída para enfrentar Bolsonaro é um amplo arco de alianças com os golpistas (não apenas do MDB e do Centrão, mas também do PSDB) e com o capital financeiro. O problema é que os "mercados" não estão satisfeitos com os ataques já prometidos pelo PT em campanha, e começam a olhar com mais confiança para Bolsonaro.

Haddad, apoiado por Lula e a cúpula do PT, fez incessantes movimentos para agradar os capitalistas e o golpismo: se disse comprometido com o ajuste fiscal e com a reforma da previdência (encontrando mérito até mesmo na proposta de Temer); apresentou a autocrítica de Tasso Jereissati como um "bom sinal de aproximação" com o PSDB, acenando para o MDB e o Centrão; anunciou que não reverteria a venda da Embraer para a Boeing, e enalteceu sua função na criação de "Parcerias Público-Privadas"; mostrou ser fiel pagador da fraudulenta dívida pública.

Os gurus intelectuais do petismo se pronunciam em favor do "alargamento do arco" de acordos com a direita não-bolsonarista. André Singer admite que o PT tem duas tarefas: "De um lado, a de agregar todos os que rejeitam a volta da ditadura. De outro, romper com o bloqueio neoliberal quanto à política econômica", assumindo que "parte dos neoliberais é sinceramente democrática" (sic). Luiz Nassif o secunda: "O desafio consistirá em alargar o arco, convidar todos os setores comprometidos com a democracia, desarmar os espíritos e começar o trabalho de reconstrução institucional", inclusive com o judiciário golpista. Luís Costa Pinto vai além: "Haddad precisa encarnar, já, o papel de aglutinador de todo o polo democrático e independente do país [...] Haddad, nesse momento, tem de olhar mais para JK e menos para Lula. Mais para Arraes, que sempre se aliou à direita e governou com agenda progressista".

Todos admitem o pacto com os "escravistas democráticos" na composição de um governo nacional com PSDB, MDB, Centrão. "Lidar com os demônios é tarefa daquele que tem vocação para política", dizia com certa indecência Max Weber. Trata-se do mesmo caminho que levou ao golpe institucional, e agora fortalece Bolsonaro.

Cumpre esclarecer que esta direita não é menos escravista que Bolsonaro: pelo contrário, estaria tranquilamente na base de um eventual governo da extrema direita ultraneoliberal. Foram agentes do golpe institucional, que ora busca ser coroado com Bolsonaro. Ou há dúvida de que Alckmin e a latifundiária Ana Amélia são representantes do escravismo mais grotesco, propondo acabar inclusive com o Ministério do Trabalho? Que dizer do MDB de Temer, que controla os grotões do país com métodos coronelistas? Haveria uma "empatia democrática" num grupo de partidos como o Centrão, verdadeira fossa onde desaguam todas as imundícies do regime burguês?

A força que a nova extrema direita vai manter depois das eleições, seja qual for o resultado, são um prova evidente de que o golpe institucional não se vai derrotar com votos, como o PT pretende que se acredite.

As burocracias sindicais petistas (como a CUT e a CTB), permanecem caladas e apostando no voto, depois de terem sido fundamentais para fragmentar, isolar e derrotar os trabalhadores, e com isso construir a passividade do movimento operário tanto no período anterior ao golpe institucional, como posteriormente. O PT e suas burocracias jogaram no lixo a enorme oportunidade gerada pelas contundentes greves gerais contra a reforma da previdência no primeiro semestre de 2017.

Nem Ciro Gomes, com um discurso cada vez mais direitista e semelhante ao de Alckmin, nem o PT e sua volúpia por pactos com a direita golpista e a institucionalidade burguesa podem ser saída para enfrentar a odiosa extrema direita. A política petista se fundamenta numa utopia reacionária, um sonho idílico de conciliação de classes que não existe.

Já vivemos a experiência do que foi o segundo mandato de Dilma. No dia seguinte às eleições jogou no lixo todo o discurso “de esquerda” que tinha feito na campanha eleitoral, colocou um banqueiro ultraneoliberal no Ministério da Fazenda (Levy) e atacou o direito ao seguro desemprego num momento de enorme recessão e desemprego em massa, cortou bilhões dos orçamentos na saúde e na educação e avançou na privatização da Petrobrás para seguir pagando fielmente a dívida pública aos banqueiros milionários e para ganhar o apoio de setores do capital financeiro internacional.

Enquanto isso, Bolsonaro, Hamilton Mourão, o Judiciário autoritário e o Alto Comando das Forças Armadas preparam a lâmina para que os trabalhadores paguem pela crise.

Uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana

Nenhum combate à extrema direita nefasta representada por Bolsonaro, ou o autoritarismo judiciário apoiado pelo Alto Comando das Forças Armadas, pode ser feito de mãos dadas com o capital financeiro e os golpistas. Não podemos derrotar a extrema direita odiosa pelo voto, como quer o PT, e sim pela luta de classes.

Contra esta saída, os socialistas revolucionários propomos uma medida de emergência: uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Uma Assembleia que possa votar livremente pelo não pagamento da dívida pública; pela reestatização sob gestão dos trabalhadores e controle popular de todas grandes empresas estratégicas como a Petrobras, a Eletrobras, os serviços de água e transporte, que passem a ter licitações públicas transparentes e controladas pela população; pela anulação de todas as leis reacionárias votadas pelos governos anteriores e a aprovação do aborto legal, seguro e gratuito; pela eleição por voto direto de todos os juízes e políticos, que passem a ganhar como uma professora e sejam revogáveis se traírem o mandato popular. Que todos os casos de corrupção sejam julgados por júri popular, assim como a abolição do Senado e a unificação em Câmara Única do Legislativo e do Executivo.

Quando dizemos que a Constituinte deve ser soberana queremos enfatizar que nenhuma instituição do regime burguês deve poder limitá-la, revisar ou vetar suas decisões.

Em outras palavras, esta Constituinte imposta pela luta deve ter plena liberdade para abordar todos os grandes problemas nacionais, as reivindicações populares e medidas de emergência, para que a crise seja paga pelos capitalistas. Neste sentido, a Constituinte Livre e Soberana tem como objetivo substituir não só o governo, mas também todas as instituições do regime.

Veja aqui: Batalhemos por uma Assembleia Constituinte para enfrentar o golpe institucional

Será uma experiência que permitirá avançar na compreensão da necessidade de lutar por um governo dos trabalhadores que rompa com o capitalismo, exproprie a burguesia e socialize os meios de produção sob controle democrático dos próprios trabalhadores, que é a perspectiva estratégica pela qual nós socialistas revolucionários lutamos.

Veja também: [VÍDEO] Assista aos programas eleitorais do MRT, uma campanha anticapitalista nestas eleições manipuladas

Para essa batalha colocamos todas as energias do Esquerda Diário, que alcança mais de 1,5 milhão de leitores por mês, e as candidaturas anticapitalistas do MRT em distintas cidades do país, a serviço da construção de uma alternativa política dos trabalhadores à esquerda do PT, que supere sua estratégia de conciliação e enfrentar seriamente os golpistas e os capitalistas.

 
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