As mulheres serão muito importante para as eleições do país. No início da campanha eleitoral já eram um setor estratégico para os candidatos por serem maioria dos votos e a maioria também entre os indecisos (há dois meses atrás 80% das mulheres não tinham definido em quem votar). Dois meses depois, isso se confirma ainda mais com a onda que atingiu as redes sociais nas últimas semanas de "Mulheres contra Bolsonaro" e a #EleNão e que culminará em atos convocados para o dia 29 de setembro. É sintomático que, como parte de um fenômeno internacional de mulheres, esse seja o setor que se levante nestas eleições e canalize a raiva que existe contra o candidato Jair Bolsonaro, de extrema-direita, reconhecidamente machista, homofóbico e racista. Mas a adesão de personalidades reconhecidas da direita como Rachel Sheherazade, de revistas internacionais como The Economist, de presidenciáveis como Alckmin mostram um grande perigo, porque querem transformar o ódio das mulheres ao Bolsonaro em palanque eleitoral para candidatos de um mal menor como PT, Ciro e até mesmo Alckmin.
Nesta conjuntura de eleições manipuladas pelo judiciário e feitas para continuar o golpe e aprofundar os ataques aos trabalhadores e a entrega do país ao capital estrangeiro, algumas questões saltam aos olhos quando olhamos para as mulheres. As suas maiores preocupações nas eleições apontadas na pesquisa do Datafolha são saúde (46%), educação (18%) e desemprego (8%). A diferença é gritante com os homens cujas prioridades são segurança e corrupção.
Não é a toa essa diferença, a maioria das famílias no país dependem justamente das mulheres, e é sobre as mulheres trabalhadoras que recai o papel de reprodução da vida, de cuidar dos filhos, dos familiares, da casa, levar ao médico, se preocupar com a educação dos seus filhos. Quando olhamos para a economia do país, as mulheres são maior parte entre os desempregados. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego entre as mulheres é cerca de 15%, enquanto a dos homens está em 11%.
Os impactos da reforma trabalhista atinge primeiro o setor de serviços, com contratos mais precários, setor no qual estão empregadas a maioria das mulheres. A terceirização e precarização do trabalho, que já era realidade para as mulheres durante os anos do governo petista, se aprofunda com o aumento da informalidade e a aprovação da terceirização irrestrita. A expressão das preocupações femininas em torno das eleições, poderia se resumir no seguinte questionamento: a serviço do que e de quem estará voltada o governo e a economia do país no próximo período?
Isso nos faz voltar ao noticiário econômico. Como expressão das incertezas do período eleitoral no Brasil e do cenário internacional o dólar subiu aos patamares mais altos desde a criação do real, permanecendo na casa dos 4 reais. E a dívida pública aumentou em 0,98% (3,7 bilhões de reais) em apenas um mês, como consequência da maior volatilidade do câmbio. O que o mercado quer é a certeza de que terá um candidato que garanta o ataque aos direitos dos trabalhadores como a reforma da previdência para seguir pagando o roubo que significa a dívida pública do país.
Esse é um assunto que é pouquíssimo explicado e as gigantescas cifras do montante da dívida pública brasileira (que é de cerca de 5,5 trilhões de reais se for considerado a união, estados e municípios) deixa muito mais distante da nossa realidade. O que as mulheres trabalhadoras tem a ver com esse roubo? Muito. Nossa economia é estruturada para o pagamento da dívida pública. Como já abordamos em outros textos no Esquerda Diário, pela via de leis como a de Lei Responsabilidade Fiscal se esconde uma armadilha que é a limitação para o crescimento dos gastos estatais e a restrição aos gastos para saúde e educação. Tudo isso para manter o mecanismo da dívida pública e impor corte dos gastos públicos, do SUS, das creches e escolas impactam diretamente as mulheres, para beneficiar alguns poucos banqueiros e capitalistas como Itaú, Bradesco, Santander, Goldman Sachs, Merrill Lynch, Citigroup, entre outros.
Pode te interessar: Quem são os detentores da dívida pública?
Sobre esse roubo que estrutura nossa economia, nenhum dos candidatos a presidência está disposto a questionar. Isto significa que Bolsonaro, Haddad, Ciro, Alckmin, Marina Silva, nenhum destes candidatos em ultima instância irão romper com a subordinação do país aos interesses e chantagens do mercado para realizar ataques aos trabalhadores.
O governo do PT durante os seus 13 anos de governo fez alianças com a direita e abriu espaço para esse setor que se fortaleceu com o golpe institucional. Em função dessas alianças, o petismo rifou pautas históricas das mulheres como o direito ao aborto. Mas além disso, os anos do petismo também foram anos em que se seguiu pagando a dívida pública, beneficiando imensamente os banqueiros e os empresários. Num período de crescimento econômico, o governo do PT foi aquele em que mais se pagou os juros e amortizações da dívida pública. Hoje, o candidato do partido Fernando Haddad, diretamente beneficiado pelo fenômeno de mulheres que acontece nas redes, já mostra a intenção de negociar com os empresários, capital estrangeiro, banqueiro, golpistas e conciliar até mesmo com PSDB para garantir a eleição, tudo isto "abrindo diálogo" aquilo que para eles é inegociável, o ataque ao direito dos trabalhadores com medidas como a reforma da previdência.
Por isso que é necessário que as mulheres, em especial as mulheres trabalhadoras, que hoje se colocam contra Bolsonaro, coloquem demandas que estão além do panorama eleitoral do voto, como a pauta do não pagamento da dívida pública, para romper com este roubo que ocorre no país e para que a economia do Brasil esteja a serviço dos trabalhadores, das mulheres, da maioria da população e não um punhado de bilionários. Sem se colocar temas como esse, que questionam a fundo a economia do país, as principais demandas das mulheres trabalhadoras e o próprio fenômeno que se expressou contra Bolsonaro será canalizado apenas para que se vote nas eleições em um candidato que seguirá os ataques. Uma demanda deste tipo poderia ser conquistada a partir da construção de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela força da mobilização que pudesse pautar questões centrais como essa, mas que também questionasse o regime de conjunto, defendendo que todo juiz ganhe como uma professora e demandas históricas do movimento de mulheres, como o direito ao aborto.
|