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JUVENTUDE
Organizar a revolução das filhas contra Bolsonaro e o golpismo
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

A revolução das filhas na Argentina serve como inspiração para organizar a luta das mulheres brasileiras contra Bolsonaro, o golpismo e a crise capitalista.

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Em menos de uma semana, mais de dois milhões de mulheres organizadas em um grupo de facebook denominado “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”. Em todo o país, diversos atos convocados para o dia 29 de setembro, buscando levar a mobilização das redes para às ruas. Tudo começou com um grupo, que virou o assunto do corredor da faculdade, da sala de aula, do almoço no trabalho. Era a estudante convencendo suas colegas a entrar, era a aluna debatendo com sua professora, era a mulher trabalhadora dialogando com sua amiga mãe. Na mesma semana em que o autoritarismo judiciário sob tutelada das forças armadas, aprofundou o golpe institucional ao retirar o direito do povo de decidir em quem votar, essa organização das mulheres aponta um caminho para nossa luta contra a extrema direita, que também precisa se enfrentar com o golpismo e fazer com que sejam os capitalistas aqueles que paguem pela crise.

O fenômeno internacional de mulheres, se expressou no Brasil combinado ao conturbado cenário político, marcado pela crise orgânica e as eleições manipuladas a serviço do golpe institucional. O enorme rechaço das mulheres a Jair Bolsonaro tem um grande potencial para despertar um movimento que nos coloque na vanguarda das lutas da nossa classe. O candidato da extrema direita representa o neoliberalismo ferroz contra a classe trabalhadora, em nome dos interesses dos grandes empresários capitalistas. Seus discursos de ódio contra mulheres, negros, indígenas e LGBTs, com declarações como a de que nós mulheres devemos ganhar menos porque engravidamos, ao mesmo tempo que quer retroceder nos casos onde o direito ao aborto já é legalizado, geram enorme repúdio.

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Na argentina, as mulheres jovens tiveram um forte protagonismo para que a luta pelo direito ao aborto se transformasse numa verdadeira maré verde que tomou conta do país, num processo conhecido como a revolução das filhas. Especialmente entre as meninas de 13, 14 anos, que convenciam seus pais, seus irmãos e seus avós, da necessidade de lutar para que o aborto fosse um direito legal e garantido no hospital, porque não queriam viver em um mundo onde as mulheres fossem condenadas a perder suas vidas por abortos clandestinos. A energia dessas jovens garotas, apaixonava suas mães, suas professoras, levando a que milhares de mulheres trabalhadoras também tomassem as ruas com seus lencinhos verdes. Mesmo com a derrota no senado a luta das mulheres seguiu forte, exigindo a separação da Igreja e do Estado. E agora essa revolução das filhas se expressa com muita força na luta estudantil contra os ajustes de Macri e do FMI, em defesa da educação pública.

Veja também: A “revolução das filhas” na Argentina: uma força que pode incendiar o Brasil

As lutas dessas jovens argentinas servem de inspiração para as mulheres brasileiras. Ao invés cair nos discursos de votar em qualquer mal menor frente ao medo de que Bolsonaro ganhe as eleições, ou da falsa ideia de estaríamos representadas se tivermos mais mulheres no poder, sem se importar a serviço de qual classe estão as políticas defendidas por essas mulheres. Podemos nos apoiar no exemplo de luta das nossas companheiras argentinas, para aqui no Brasil, batalhar para construir um movimento de mulheres a altura de se enfrentar com Bolsonaro e o golpismo, sem cair nos discursos de mal menor, como o do PT, que em 13 anos de governo abriu espaço para o golpe institucional ao governar com a direita, ao aumentar o trabalho precário que recaiu sobretudo em cima das mulheres negras, ao rifar nossas demandas em nomes de acordos com a bancada religiosa, não legalizando o direito ao aborto e permitindo com que milhares de mulheres continuassem morrendo por abortos clandestinos, e ao no segundo mandato do governo Dilma, frente a crise capitalista, dar início aos ajustes contra os trabalhadores, que atingem especialmente as mulheres.

Enquanto aqui, Bolsonaro e os generais vociferam contra a “ideologia de gênero” nas escolas, defendendo a militarização de nossos colégios e o Escola sem Partido. Na Argentina os estudantes, com as mulheres na linha de frente, retiram as imagens de santas dos colégios e faculdades, promovem debates sobre a educação sexual e o direito de decidir, se enfrentando com o conservadorismo das igrejas e das direções de escolas e universidades.

É por tudo isso, que nós do grupo de mulheres Pão e Rosas e da juventude Faísca, acreditamos que devemos nos apoiar nessa força imparável que o movimento de mulheres vem expressando em diversos países do mundo, como é com a revolução das filhas na argentina, para podermos fazer a terra tremer. Sabemos que somos nós mulheres que sentimos duplamente o peso da crise capitalista. A reforma trabalhista e da previdência, a terceirização irrestrita e o congelamento do orçamento em saúde e educação pelos próximos 20 anos são as forças que os capitalistas buscam destruir com qualquer perspectiva de futuro da juventude, em nome do pagamento da ilegítima dívida pública. Um mecanismo de subordinação do nosso país ao capital estrangeiro, que todos os principais candidatos a presidência prometem continuar pagando e por isso irão promover ajustes contra os trabalhadores e a juventude.

Para defender nosso futuro, precisamos como parte da nossa luta contra Bolsonaro, o golpe institucional e esses juízes que retiraram o direito do povo decidir em quem votar, também levantar a necessidade do não pagamento da dívida pública e por direitos que nos são negados, como o aborto legal, seguro e gratuito. Contrapondo-se ao avanço do autoritarismo judiciário e militar, por meio da defensa de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que possa avançar nestas e em outras medidas na perspectiva de um governo dos trabalhadores em ruptura com esse sistema capitalista.

Comecemos por nos organizar em cada local de estudo e trabalho, exigindo que nossas entidades estudantis e sindicais sejam ferramentas para impulsionar debates e assembleias que possibilitem nossa organização, para tomar às ruas no dia 29 de setembro. Buscando dar uma resposta que vai muito além do voto, uma resposta que passa por construir um plano de lutas capaz de fazer com que sejam os capitalistas aqueles que paguem pela crise. Defendendo as ideias de um feminismo socialista, baseado na independência de classe, para construir correntes militantes em nossas escolas, universidades e locais de trabalho.

DECLARAÇÃO DO PÃO E ROSAS – FEMINISMO SOCIALISTA E DE INDEPENDÊNCIA DE CLASSE: Mulheres à frente contra Bolsonaro, o golpismo e para que os capitalistas paguem pela crise

 
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