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ELEIÇÕES 2018
Bolsonaro é uma ameaça à vida dos negros no Brasil
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.
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Jair Bolsonaro expressa uma potencialização do racismo que já é presente e cotidiano no Brasil, atuando estruturalmente a partir das instituições estatais – como a polícia e o judiciário –, das relações de trabalho, entre tantos aspectos da vida. Queremos aqui discutir com cada negro porque é necessário combater seu projeto de país com organização e luta.

Um país racista em cada aspecto

O racismo que existe no Brasil é profundo e a cada dia ataca de muitas formas as vidas dos negros no país. A violência policial, que mata mais de cinco mil por ano no país, atinge sobretudo os negros. De acordo com o Atlas da Violência 2018, “É como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos. Em 2016, por exemplo, a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0 por 100.000 habitantes contra 40,2) (...) Em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%”. As mulheres negras também são atingidas por uma taxa de homicídio 71% maior do que das mulheres brancas.

Nas prisões, está a extensão dessa violência policial. O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de junho de 2016 atesta que a população carcerária brasileira quase dobrou em dez anos, passando de 401,2 mil para 726,7 mil, de 2006 a 2016. É a terceira maior do mundo. 40% dos presos sequer passaram por julgamento. As condições nas prisões são absolutamente desumanas, com o dobro de presos do que os presídios tem capacidade de abrigar e com doenças como tuberculose, AIDS e Hepatite C atingindo os detentos. 64% deles são negros.

A desigualdade salarial é mais uma face visível e cruel do racismo. Dados do IBGE mostram que ela segue crescendo. A média salarial dos homens negros é de R$ 1.507 para os negros e R$ 2.814 para os brancos, ou seja, o valor do salário dos homens negros não chega a 54% do valor dos homens brancos. Segundo PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) divulgada pelo IBGE em 2017, a diferença salarial média entre uma mulher negra e um homem branco é em média de 60%, podendo chegar a 80% em alguns cargos.

Esses são apenas alguns aspectos mais chamativos entre tantos, que vemos a cada dia se manifestar, como no absurdo caso da advogada algemada enquanto exercia seu trabalho, os policiais que assassinaram um menino negro de dez anos e acabam de ser inocentados ou o candidato negro reprimido pela Guarda durante panfletagem.

O racismo de Bolsonaro está a serviço dos lucros capitalistas

É nesse país que o STF rejeitou denúncia de racismo contra Bolsonaro por suas declarações escandalosamente racista contra quilombolas durante palestra no Clube Hebraica do Rio em abril de 2017. Ele disse: “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual essa raça que tá aí embaixo ou como uma minoria tá ruminando aqui do lado.” E ainda, falando sobre um quilombo que teria visitado: “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com eles.”

Declarações como essa, entre muitas outras que Bolsonaro repete impunemente e com a conivência do judiciário, expressam mais do que um racismo individual, mas sim um projeto de país em que se aprofunda sobre os negros todo o racismo por parte do Estado, dos patrões e de setores de extrema direita organizados. Essa ideologia é parte da chapa de Bolsonaro, também expressa pelo seu vice, General Mourão, que já falou que é necessário que os brasileiros se livrem da "herança africana" que é a da "magia" e da "malemolência", de achar que "vai dar tudo certo", mensagem que ele repetiu recentemente, e, tal como Bolsonaro, tenta esconder por trás do mito da democracia racial, afirmando que "não existe preconceito no Brasil"

Mas, diferente do que muitos tentam pintar, Bolsonaro não é um “alucinado” que não representa em nada o pensamento da classe dominante. Como dissemos aqui, alguns dos principais capitalistas brasileiros estão por trás de Bolsonaro. A agenda econômica e de reformas políticas de Bolsonaro atende seus interesses, com a continuidade dos ataques de Temer que se sintetiza no que o candidato do PSL disse nos debates: “O trabalhador vai ter que decidir um dia: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego”.

Todos os ataques, como a terceirização, a reforma trabalhista e os que planejam Bolsonaro e Ciro Guedes atingem sobretudo os negros, mas não será simples para o próximo presidente aprova-los. Aí que o racismo exacerbado de Bolsonaro pode também cumprir um papel funcional para os capitalistas. Da mesma forma que foi o “racismo científico” e as desculpas morais da Igreja dizendo que “os negros não tinham alma”, inventados pelos ideólogos do capitalismo há séculos atrás, serviram para justificar a escravidão e fazer com que os traficantes de escravos e os senhores de engenho lucrassem muito com a barbárie contra o povo negro da África, hoje o racismo de Bolsonaro serve para aumentar ainda mais a repressão e o massacre nas favelas e morros, para justificar a retirada de direitos, diferenças salariais e todo tipo de barbárie capitalista moderna contra o povo negro.

O racismo foi inventado pelo capitalismo para aumentar seus lucros, e até hoje cumpre essa função fundamental, além de dividir os próprios trabalhadores para enfraquecer sua luta contra a exploração. O rebaixamento salarial e a retirada de direitos dos negros – e em primeiro lugar das mulheres negras – serve como instrumento para fazer isso com toda a classe trabalhadora. Os presídios lotados, os massacres policiais servem para “pacificar” uma sociedade fundada na desigualdade e exploração. E não é à toa que em um momento de crise, em que para os capitalistas é fundamental aprofundar essa exploração para manter seus lucros, surja um figura como Bolsonaro, disposta a exacerbar o racismo já existente e aprofundá-lo, a aprimorar a violência policial e a brutalidade contra os negros. Por trás de uma hipócrita condenação moral a Bolsonaro, como fazem setores patronais como a Globo, o racismo é para todos eles uma peça fundamental de sua dominação.

Só a organização e a luta dos negros e da classe trabalhadora pode frear o avanço da direita

Hoje o debate do “voto útil” contra Bolsonaro toma conta de grande parte dos que estão verdadeiramente alarmados com a possibilidade de que o candidato do PSL chegue à presidência e seu projeto reacionário esteja na condução do país. Muito se debate sobre se seria Ciro ou Haddad o candidato capaz de derrota-lo nas urnas. Para nós, não se trata disso, pois não consideramos Ciro e seu programa como uma alternativa à direita golpista, nem defendemos o PT como “mal menor” capaz de apresentar uma perspectiva diferente da que levou adiante nos treze anos, em que não se avançou para combater o racismo, e, muito pelo contrário, se abriu espaço para a extrema-direita de tipo Bolsonaro (que era de um partido da base governista, o PP).

Nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) construímos junto a outros companheiros o Quilombo Vermelho, uma agrupação de negros anticapitalistas, com a perspectiva de organizar de forma independente dos patrões e seus partidos a nossa luta, muito para além dessas eleições manipuladas pelo judiciário. Apresentamos candidaturas para fortalecer essa perspectiva, mas não colocamos nossa perspectiva em “derrotar no voto” Bolsonaro e sua ideologia racista. Vencendo ou não nas urnas, ele seguirá fortalecendo o racismo, e só com os métodos da luta de classes poderemos fazer frente a ele. É necessário combater pelo fim da violência policial, com julgamento feito por júri popular de cada caso de assassinato cometido pela polícia, como o da policial Katia Sastre que usa a cena brutal em que mata um jovem negro como campanha eleitoral. Contra esse judiciário racista, precisamos lutar para que todos os juízes sejam eleitos e revogáveis, e que ganhem o salário de uma professora. Para garantir dinheiro para os direitos sociais, defendemos o não pagamento da dívida pública que leva um trilhão de reais por ano dos cofres públicos – um roubo que vem sendo pago por todos os governos de todos os partidos. Precisamos revogar as reformas de Temer. As empresas e os bens dos corruptos têm que ser confiscados e colocados sob controle dos trabalhadores. As terras dos povos indígenas e quilombolas devem ser garantidas, tomando dos latifundiários como Katia Abreu – vice de Ciro Gomes – que matam e escravizam no campo. Para tudo isso, lutamos por uma Assembleia Constituinte impulsionada pela luta dos trabalhadores, das mulheres, negros e LGBTs, em que possamos acabar com esse regime político apodrecido.

 
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