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ENTREVISTA
Diana Assunção "Eleições manipuladas pelo judiciário retiram o direito do povo decidir em quem votar"
Redação

Diana Assunção, candidata a deputada federal pelo MRT em São Paulo, deu entrevista ao La izquierda Diario argentino, parte da rede de diários internacionais Esquerda Diário, sobre a situação nacional pós atentado a Bolsonaro, a divulgação da pesquisa Datafolha e a substituição da candidatura de Lula por Fernanda Haddad nesta terça-feira em Curitiba.

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1) Dentro de 4 semanas, no dia 7 de outubro, a população brasileira irá eleger seu novo presidente. O PT, desde Curitiba (onde se encontra preso Luiz Inácio Lula da Silva), acaba de anunciar a candidatura presidencial de Fernando Haddad apoiado por Lula, no limite do prazo dado pela justiça eleitoral. Como foi tomada essa decisão e quais são as possibilidades de Haddad?

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que são eleições manipuladas pelo judiciário, então o que aconteceu hoje foi um novo capítulo do golpe institucional impedindo a candidatura de Lula, e o PT indicando Haddad. O PT estava dividido entre seguir ainda mais com Lula ou já anunciar Haddad, porém de fato hoje Lula anunciou Haddad por meio de uma carta, ainda que deixava claro que quando sair da prisão vai governar junto com Haddad. Nós denunciamos fortemente o golpe institucional e o veto a Lula, que impediam o direito do povo decidir em quem votar, porém sem dar nenhum apoio político ao PT, que inclusive governou com a direita e abriu caminho para o golpe institucional.

Sobre as possibilidades de Haddad, de fato precisamos ver quanto Lula consegue transferir seus votos ou não. Em sua carta pediu fortemente aos que iam votar nele, que votassem em Haddad. É importante marcar que as intenções de voto de Lula são muito altas. Quase 40% de intenção de votos em um candidato que está preso. Ou seja, expressa de forma distorcida uma resistência das massas diante do golpe institucional. Depois se vemos as pesquisas, o PT tem 29% de apoio, diante de 5% de todos os outros partidos, além disso, 33% desses eleitores dizem que votariam no candidato de Lula e mais 16% dizem que talvez votariam. Somente isso daria 49%, e a última pesquisa começa a mostrar a transferência de votos, com Haddad passando de 5% para 9% no nordeste e em setores com salários menores de 2% para 13%, sem que tivesse sido declarado oficialmente candidato. Existem outros candidatos também como Ciro Gomes que buscam ser o mal menor e principal competidor de Haddad, ou Marina Silva. Agora precisamos ver para onde vai com o efeito Lula a Haddad.

Ainda assim, precisamos deixar aberta a possibilidade de novos incidentes e inclusive fraudes, porque se trata de um processo marcado pelo golpismo, o que coloca cenários imprevisíveis.

2) Como foi no Brasil, o ataque contra Bolsonaro? Quais foram as repercussões depois do ataque e como fica sua localização nas pesquisas?

O ataque a Bolsonaro foi um fato de muita repercussão no Brasil. Um retrato da polarização que vivemos hoje, que vai além das eleições. Se dizíamos que os votos de Lula expressavam de forma distorcida uma resistência passiva diante do golpe, também é importante falar da ascensão de uma extrema direita com 23% da intenção de votos.

As repercussões foram em geral de certa unidade de muitos partidos pedindo uma atitude do Estado diante do atentado, e em geral uma trégua dos outros candidatos deixando de atacar Bolsonaro que é uma figura machista, racista, xenófoba. Todos os candidatos mudaram seu tom nas campanhas. Nas redes sociais teve muita repercussão uma dúvida se realmente havia acontecido ou se era uma mentira, uma invenção. Porém o principal efeito foi aumentar a polarização com o PT. Nós analisamos que ele poderia subir alguns pontos, e foi o que se passou, variando de 22% para 24% dentro da margem de erro, além de que sua taxa de rejeição não diminuiu, com muito peso das mulheres contra Bolsonaro.

Essa polarização que existe e se aprofunda no país também aponta a um fortalecimento do PT, ainda que senil, seja pelo fato que as ilusões reformistas tendem a se chocar com os planos de ajustes que o mesmo PT teria que fazer (como Dilma fez quando veio a crise). Seja pelo fato de que como possível oposição, não resista seriamente aos ataques de um novo governo de continuidade do golpe, de direita ou extrema direita.

3) Os métodos arbitrários da operação judicial Lava Jato começaram a ser replicados, com diferentes intensidades, em países como Peru, Equador e também aqui na Argentina. Como vê a situação dos direitos democráticos no Brasil que virá?

Em primeiro lugar é preciso dizer que no Brasil a Lava Jato vem se desgastando, porque fica cada vez mais claro sua arbitrariedade, com toda a máfia que apoia o governo de Temer e demais partidos dominantes livres para fazer seus negócios. A maior demonstração desse desgaste são as pesquisas de intenção de voto em Lula ou outros candidatos que se opuseram ao golpe. Porque a pessoa está presa supostamente por corrupção e 40% das pessoas querem votar nela, ou seja, é evidente que não confiam na Lava Jato e a veem atuar com parcialidade. Me parece um dado e uma experiência muito importante para o que começa a acontecer na Argentina.

Os direitos democráticos no Brasil estão muito mais debilitados. Se fazem isso com um candidato com 40% de votos, o que podem fazer contra os trabalhadores, nossas greves, e com o povo negros nas favelas que já vivem em uma situação de repressão cotidiana?

4) No domingo o chefe do exército, general Villas Boas, se posicionou contrário a candidatura de Lula e sobre a debilidade do próximo governo. O que implica este pronunciamento dos militares em assuntos de política nacional?

Essa politização das forças armadas no Brasil é um fato gravíssimo. Foi o mesmo que aconteceu diante da prisão de Lula. Em geral, o faz com um tweet ameaçando desde a caserna o STF e os ministros que ganham mais de 100 mil reais por mês (e que em meio a essa crise aumentaram seus próprios salários!) e eles obedecem como um cachorro. Esse domingo, o general disse que a resolução da ONU sobre Lula ser candidato seria uma afronta contra a soberania nacional, exigindo algum tipo de intervenção. Mais uma ameaça para decidir em quem o povo pode ou não votar. Nós rechaçamos isso e exigimos a destituição dos militares que atuam como golpistas.

5) Diana, você é candidata da deputa federal em São Paulo como parte das candidaturas democráticas do MRT pelo PSOL. Conte nos um pouco dos eixos da campanha que vem fazendo os candidatos e candidatas anticapitalistas do MRT.

Sim, sou candidata a deputada federal em São Paulo, junto a outros companheiros de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul por filiação democrática no PSOL, a quem agradecemos por nos conceder sua legenda para defendermos nossas próprias ideias. Nossas candidaturas apostam numa mobilização independente dos trabalhadores, negros, mulheres e juventude contra o golpismo e para que os capitalistas paguem pela crise. Viemos levantando com peso a necessidade de lutar pelo não pagamento da dívida pública que é um verdadeiro roubo, de lutar também contra os privilégios da casta judiciária, para que os juízes possam ser eleitos e revogáveis, com júri popular, porém são medidas que precisaríamos lutar para impor através de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana para levar adiante como parte da nossa luta por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Damos essas batalhas, incluindo a luta pelo direito do povo decidir em quem votar, desde uma perspectiva de denúncia do PT que como eu já disse governou com a direita e a bancada evangélica, foi como os kirchners o governo que mais pagou a dívida pública, e assim foi abrindo espaço para o golpe e permitindo o avanço da direita, por isso tão pouco se pode cair na ideia do mal menor que nos leva a coisas assim.

Por isso apresentamos nossas candidaturas anticapitalistas nessas eleições manipuladas.

 
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