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RIO GRANDE DO SUL
Lições da greve de 2017 do magistério do RS: preparando as próximas lutas
Movimento Nossa Classe, Rio Grande do Sul

O dia 11 de setembro de 2015 ficou marcado para professoras e professores do RS pelo golpe da direção do CPERS na assembleia em que enterrou uma grande luta contra Sartori. Em 2017 mais uma vez uma grande greve da categoria sacudiu o estado. Um ano depois do seu inicio, publicamos uma balanço dessa luta, que conquistou a simpatia de amplos setores da população e junto com a greve dos municipários contra o prefeito Marchezan, colocou a possibilidade de derrotar o projeto golpista no Rio grande do Sul.

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Nas eleições para o governo do estado do Rio Grande do Sul duas candidaturas representam a continuidade direta com o governo Sartori e suas medidas de parcelamento e privatização. Além de Sartori, Eduardo Leite do PSDB fez parte da base de apoio ao governo de Sartori, e avalizou o parcelamento de salários. Jairo Jorge se coloca como alternativa, mas seu partido PDT, também fez parte do governo Sartori. Nelson Marchezan Jr., prefeito tucano de Porto Alegre, indicou qual será o itinerário do golpismo em 2019: aprovou na Câmara dos Vereadores a odiosa reforma da previdência municipal (POAPrev), com o apoio do líder da bancada do PDT, Márcio Bins Ely, que foi revertida temporariamente por que o próprio Bins mudou seu voto. Além deles, o PT e o PCdoB que estão na direção do CPERS e do Simpa, vão entrar na disputa com um discurso de oposição contra Sartori, contra os parcelamentos e contra as privatizações. No entanto, não podemos confiar em em Miguel Rossetto, que fez parte da coordenação da campanha de reeleição da Dilma. Na prática, não tem um plano diferente para combater a crise fiscal do estado e se o candidato do PT, Miguel Rossetto, ganhar não podemos esperar outra coisa que novos ajustes. A exemplo do que já está fazendo o governador petista de Minas Gerais, Fernando Pimentel, ou a prefeitura de Sâo Leopoldo, governada pelo PT e que parcela os salários.

Não será nessa disputa eleitoral, que carrega a marca do golpe institucional, que conseguiremos resolver os problemas candentes do Estado e do país. Nenhum candidato que venha a ocupar o Piratini no próximo governo tem um plano que não passe por ataques as condições de vida da classe trabalhadora e dos servidores para resolução dos graves problemas da crise. O caminho para reverter a atual situação, acabar com os parcelamentos e com as privatizações, é o caminho da mobilização dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, caminho que já foi trilhado em nosso estado nas greves de 2015 e 2017. Com esse texto queremos colaborar, a partir das lições da última greve, com os novos embates que se darão no ano que vem, ganhe quem ganhe as eleições.

Ficou gravada na memória dos educadores gaúchos o triste fim da greve de 2015 e a histórica traição do CPERS (dirigido pelo PT e pelo PCdoB), com o golpe que desrespeitou a decisão da categoria em assembleia massiva no Pepsi On The Stage. Essa derrota imposta pela direção do sindicato foi a forma encontrada por esta burocracia para construir a desmoralização da categoria e abriu espaço para o governo Sartori seguir e aprofundar ataques contra os educadores e o conjunto do funcionalismo do estado, com aumentos da contribuição previdenciária e atrasos sistemáticos de salário. A nível nacional, a atuação do PT e do PCdoB nas lutas operárias – através da CUT e da CTB – desatadas desde o golpe institucional não foi outra: construir a desmoralização dos trabalhadores, para que não emergissem como sujeito político à esquerda do PT que pudesse enfrentar de fato os golpistas ligados a Temer, os empresários e os governos estaduais, como vimos na traição da greve geral do 30 de junho de 2017

A política de Sartori de destruição dos serviços públicos e da educação, a serviço de garantir as polpudas isenções fiscais aos grandes empresários e de pagar a dívida do estado com a federação, jogou os professores numa situação desesperadora. No final de 2016 num ato de desespero uma professora aposentada tentou atear fogo no próprio corpo em Pelotas.. Mesmo com essa situação, o CPERS seguiu sem convocar medidas contundentes de mobilização. No primeiro semestre daquele ano foram os secundaristas, ocupando centenas de escolas contra o governo, que levaram muitos professores à greve, enquanto o sindicato seguia sem construir a mobilização da categoria. Seria só no segundo semestre de 2017 que a revolta transbordaria a inação do sindicato.

Sartori iniciou o ano de 2018 fechando seis escolas em Porto Alegre, ameaçando e perseguindo professores que fizeram greve no ano anterior e mantendo a política de parcelamento. Mais recentemente Sartori foi novamente derrotado na ALERGS ao tentar aprovar o plebiscito para privatização das estatais gaúchas, mostrando como a força da greve de 2017 se mantém viva para influenciar na correlação de forças da Assembleia. Agora, em meados de 2018, visando a reeleição para o estado, Sartori deixou de parcelar o salário dos professores durante meses. Mas apenas conseguiu isso ao vender, em abril, 2,9 milhões de ações ordinárias do Banrisul na Bolsa de Valores de São Paulo (com várias suspeitas de irregularidade), arrecadação que possui prazo de validade (o estado conseguiu R$ 52 milhões com a venda das ações). Ou seja, a suspensão temporária dos parcelamentos se deu pela via de aprofundar o processo de privatização do Banrisul tão esperado pelos banqueiros.

Ao mesmo tempo, em outros estados professores fizeram fortes greves contra seus governos nesse semestre, como em Minas contra os ataques do governo de Pimentel (PT) e no Amazonas contra o governo de Mendes (PDT). Os professores e servidores de São Paulo organizaram uma grande batalha derrotando a prefeitura de Dória (PSDB) fazendo recuar o projeto de Reforma da Previdência na capital paulista. No primeiro semestre de 2018, professores da rede privada de São Paulo derrotaram a tentativa da patronal de implementar a Reforma Trabalhista na categoria através de uma ampla mobilização. Os servidores municipais de Porto Alegre também se enfrentam contra Marchezan para derrotar sua reforma da previdência local. É com essas lutas que passamos o primeiro semestre de 2018. Para pensar os próximos passos no RS, é imprescindível uma reflexão sobre a grande greve de 2017.

Em 2017 vimos as centrais sindicais traindo a greve geral do 30 de junho, deixando esfriar o forte movimento da greve geral de 28 de abril. O governo federal aprovou a reforma trabalhista e abriu ainda mais espaço para a direita se fortalecer e canalizar a imensa insatisfação popular com o governo, além da prisão de Lula como um novo passo do golpe institucional que retira do povo o direito de votar em quem quiser, revelando o caráter fraudulento e proscritivo das eleições. No final de maio de 2018 a paralisação dos caminhoneiros defendeu demandas patronais como a diminuição do preço do diesel via diminuição de impostos, e fez setores ultrarreacionários conquistarem espaço no cenário nacional. O PT e seus aliados, pela via da traição do 30 de junho, abriram espaço para a direita ganhar força e tentar canalizar a insatisfação popular contra Temer e os golpistas.

A greve de 2017: fruto legítimo da revolta acumulada

Depois da greve iniciada em agosto e encerrada criminosamente pela direção central do CPERS, quando essa começava a ganhar força, já estava evidente a renovada disposição de luta dos educadores e educadoras do RS.

Quando Sartori anunciou um novo parcelamento para o mês de setembro, a panela de pressão já estava prestes a explodir, apesar do imobilismo com que mais uma vez a direção do CPERS tentava evitar a greve. A direção central havia convocado uma assembleia geral somente para o dia 05/09, mas a revolta começou a transbordar antes e, mesmo sem o chamado do sindicato ou das correntes de oposição, a greve começou pela base.

Essa é uma primeira lição fundamental da greve de 2017: os professores organizados pela base são mais fortes que o imobilismo da direção petista do sindicato. Com reuniões e assembleias de base, em cada escola, a greve já era uma realidade em muitas escolas e na assembleia do dia 05 a direção central não teve outra saída que não se somar à mobilização para mantê-la sob controle. Mas essa mobilização espontânea por baixo não seria suficiente por si só, como veremos, para evitar que a direção petista do sindicato reassumisse o controle da greve e bloqueasse uma derrota decisiva do governo Sartori.

A greve era mais que um embate salarial, era nós ou eles

Desde o início da greve nós do Movimento Nossa Classe viemos alertando sobre como ela não configurava uma simples luta de pressão salarial, mas sim um verdadeiro combate de classe. O estado do Rio Grande do Sul, de fato, encontra-se em uma forte crise econômica, fruto da crise econômica internacional e de particularidades regionais cujo drama da dívida com a União assola o estado há décadas - dívida que já pagamos inúmeras vezes. A combinação entre esses dois fatores impõe ao estado uma situação onde ou se descarrega a crise nas costas da população ou se atacam os privilégios dos capitalistas, da casta política e dos ricos. Por sua vez, a dívida pública que a União mantém com os bancos todos os anos serve para garantir uma trilionária transferência de renda dos mais pobres para os grandes bancos - o sistema da dívida pública configura uma das espinhas dorsais da submissão do Estado brasileiro ao capital internacional. Em momentos de crise, as contradições se acirram e pouca margem de manobra sobra para manter uma suposta estabilidade.

E mais, momentos como esses colocam em relevo as contradições do sistema capitalista como um todo. A saída que o grande empresariado gaúcho, junto à maior parte dos partidos da ordem e a grande mídia capitaneada pela RBS, é a saída de descarregar a crise em nossas costas. Para isso defendem privatizar o patrimônio público, arrochar os trabalhadores, precarizar os serviços públicos da saúde e da educação, e retirar direitos da população. Os ricos aplaudem enquanto o povo sofre.

Para uma saída em que a minoria não pague a conta seria necessário atacar os capitalistas, cobrando os sonegadores (que hoje chegam na casa dos bilhões que devem ao estado), confiscando seus bens e garantindo o dinheiro para pagar os salários em dia. É necessário deixar de pagar a divida do estado com a federação como parte da luta pelo não pagamento da dívida pública nacional, pôr um fim nas isenções de impostos para os grandes empresários, que já somam mais de R$ 9 bilhões - carga tributária perdoada sistematicamente pelo estado. Além disso, precisamos taxar as grandes fortunas do estado, é um absurdo um sistema tributário onde os pobres pagam mais do que os ricos proporcionalmente. E por último, atacar os privilégios dos políticos e do judiciário. Como se não bastassem os penduricalhos de auxílio-moradia para juízes e os inúmeros benefícios de CC’s, o custo dos deputados da ALRS somam mais de R$ 500 milhões ao ano.

Para implementar esse conjunto de medidas contra a crise no estado, seria necessária uma mobilização muito mais ampla do que a que houve no ano de 2017, com a unificação de todos os servidores em luta, junto a outras categorias, com a construção de alas classistas e socialistas nos sindicatos que fossem alternativa às burocracias sindicais. Isso permitiria que na queda de braço com o governo, empresários e grande mídia, os trabalhadores pudessem ganhar hegemonia na sociedade e trazer junto a si toda a população que vem sofrendo com os ataques e impor uma derrota contundente ao andar de cima.

Esse debate abre uma grande discussão a nível nacional - a necessidade de não pagamento da dívida pública. Ao passo em que a União ganha controle do estado pela via das dívidas, impondo contrapartidas neoliberais como as que estamos vendo neste momento, os grandes bancos submetem o Estado brasileiro pela via da dívida pública, configurando um trilionário mecanismo de usurpação da renda dos mais pobres para os mais ricos. Por isso é necessário defender com todas as letras o não pagamento da dívida pública.

O caminho para a vitória: transformar luta dos educadores em uma grande causa popular

A greve dos professores começou forte e foi se expandindo ao longo de setembro. O apoio popular se expressava na porta das escolas, e apesar das tentativas da grande mídia de colocar a população contra os professores o apoio era grande na comunidade escolar como podemos ver neste link, e aqui.

Nas escolas e universidades começava a se desenvolver, por fora da política das direções das entidades estudantis (notadamente o PCdoB e PT), uma tendência à unificação entre estudantes e professores. Em Canoas, na UFRGS, nas escolas de Caxias, na UCS e em várias partes do estado se desenvolvia essa tendência à unificação.

Era preciso transformar essas tendências espontâneas em uma luta unificada de estudantes e professores. A partir dessa unidade, cada escola em greve poderia ser um ponto de concentração para expandir a luta e mobilizar a comunidade escolar unificando forças contra o governo Sartori.

A partir do Movimento Nossa Classe e das páginas do Esquerda Diário insistimos na necessidade de um grande ato político contra o governo Sartori para transformar em força material o enorme apoio popular. Um ato assim poderia ter reunido dezenas de milhares e modificado o panorama político do estado, mas a direção do CPERS insistia em convocar atos de manhã que só dispersavam a força dos educadores. As condições estavam dadas para transformar a greve dos educadores numa grande causa comum de todo o povo gaúcho, mas a direção central do CPERS não tinha nenhum interesse em desenvolver essas tendências, e as correntes de oposição (CEDES, CS/PSOL, PSTU, MLS em POA) com peso nos núcleos de Porto Alegre e região, atuaram na greve de forma rotineira, como se fosse apenas mais uma greve salarial.

Era possível cerrar fileiras contra Sartori e Marchezan

A greve seguia forte depois de um mês de mobilização como expressam os depoimentos que publicamos no Esquerda Diário e nenhuma das manobras de Sartori para dividir os professores teve efeito. Frente à ameaça de demitir os contratados que entravam massivamente na greve, a categoria se colocou em defesa dos contratados, que por sua vez mantiveram uma grande moral de combatividade, como expressa esse testemunho. Era preciso forjar uma aliança ainda mais profunda entre efetivos e contratados, incorporando como parte do programa da greve a efetivação de todos os professores contratados.

Desde o início do ano também o funcionalismo municipal estava mobilizado para resistir aos ataques do Marchezan e a direção do Simpa (sindicato do funcionalismo municipal também controlado pelo PT e PCdoB) foi adiando mês a mês a deflagração de uma grande luta. Já no início de setembro teria sido possível deflagrar a greve dos municipários ao mesmo tempo em que a categoria dos educadores entrava em greve, mas a direção do Simpa segurou a greve por mais um mês. Ao mesmo tempo, no início de outubro, também os rodoviários da Carris iniciaram um processo de mobilização com uma assembleia histórica. A unidade entre os educadores, municipários e rodoviários poderia ter articulado um volume de forças que, somadas ao grande apoio popular e ao enorme rechaço a esses governos, poderiam ter levado cada uma dessas lutas à vitória. Essa perspectiva esteve colocada ao longo de todo o mês de outubro.

Ao invés de se apoiar nessas mobilizações para ampliar a luta contra os ataques, a CUT e a CTB, direção do SIMPA e do CPERS, fizeram de tudo para não unificar as lutas, chamando atos separados, em horários e locais diferentes, sempre de manhã e impedindo que o amplo apoio popular existente pudesse se transformar em força ativa nas ruas, com milhares de trabalhadores, estudantes e população em geral marchando lado a lado com os professores e municipários e golpeando com um só punho.

Por uma greve geral em todo o estado para derrotar Sartori, Marchezan e todos os ataques

A nível nacional o processo de mobilização, que teve como auge a greve geral do dia 28 de abril, tinha entrado em refluxo pela traição das direções no dia 30 de junho. Assim, Temer tinha se livrado das acusações da JBS e aprovado a reforma trabalhista. A situação do estado do Rio Grande do Sul, a partir de setembro e ainda mais a partir de outubro com a confluência das três categorias mobilizadas, poderia ter sido uma contratendência a esse refluxo a nível nacional.

Para isso era preciso se apoiar nas mobilizações em curso e convocar uma greve geral que poderia parar o estado e derrotar o plano dos governos gaúchos que foram a base local para o governo golpista de Temer. Nós do Movimento Nossa Classe propusemos e aprovamos junto à assembleia dos professores de Caxias uma moção chamando a efetivar essa paralisação do estado. No entanto, o chamado não encontrou eco sequer entre as correntes da oposição, mas que tinha um grande eco entre a população de Porto Alegre, que vivenciava a interrupção dos serviços públicos provocada pelas greves e que, contra os políticos corruptos do estado se identificava com essas lutas. Isso significa que outros setores poderiam aderir a um chamado desse tipo para que a situação fosse resolvida o mais rápido possível e de forma favorável aos trabalhadores.

Comando de greve com representantes das escolas para democratizar a direção da greve

Desde o início esteve colocada a questão da direção cotidiana da mobilização quando os professores em suas escolas, à revelia da direção, iniciaram a greve. Desde o início a base da categoria impulsionou a luta adiante nas escolas. Entretanto, a direção da greve, que decidia as medidas cotidianas de ação unitária da categoria, o que fazer em cada dia, que negociava com o governo e falava com a imprensa, ficava nas mãos da direção central do CPERS. Ou seja, enquanto a greve fervilhava “por baixo”, se conservava as rédeas da greve “em cima”, e com o aval de grande parte da oposição. Para colocar a greve nas mãos dos professores, era preciso abrir de fato o comando de greve para que cada escola elege-se seus representantes - um organismo democrático como esse permite ligar de forma mais orgânica a base da categoria com os rumos da mobilização. Certamente os anseios da categoria que vinha se radicalizando desde o início tornaria o rumo da greve muito distinto, permitindo a base se posicionar. Com isso o movimento poderia dar um salto para avançar na unificação com municipários, tornar a greve uma grande causa popular e parar o estado para cerrar fileiras contra Sartori. Mas, também por conta da própria oposição, isso não foi possível.

Um comando de greve democrático permitiria também que as distintas posições dentro da categoria pudessem ser expressas, e que dessa diversidade pudesse nascer uma poderosa unidade contra Sartori. Após 80 dias de greve foi aprovado em assembleia geral a abertura do comando de greve para a base dos professores, mas o PT e o PCdoB aprovaram uma resolução que rasgou a decisão da assembleia em reunião do conselho de representantes: - ampliaram o comando apenas para um diretor por núcleo. Isso em nada altera o caráter “clube de correntes” do comando de greve, onde a base da categoria não tem voz. Parte das correntes de oposição fez coro com a direção central aqui. Mas todas as que dirigem os principais núcleos de oposição, como 38 e 39 (com grupos que vão do PSOL ao PCB, passando pelo PSTU), possuem a responsabilidade de esse debate não ter ocorrido desde o início da greve. A incapacidade de oferecer um caminho alternativo ao da direção impôs desarmar a categoria para enfrentar a traição no momento decisivo - quando a direção central decidiu acabar com a greve não foi possível improvisar um comando democrático e aberto. E isso abriu caminho para o controle e a traição por parte do PT e PCdoB.

A política do PT e do PCdoB foi mais uma vez de traição aberta à greve

Como já dissemos antes, ao invés de se apoiar nessas mobilizações para ampliar a luta contra os ataques, a CUT e CTB, direção do SIMPA e do CPERS, fez de tudo para não unificar as lutas. Dirigindo praticamente todos os DCE’s das principais universidades do estado e da capital, importantes sindicatos como os dos bancários e de metalúrgicos da zona metropolitana da capital, com inúmeros parlamentares, o PT e o PCdoB, pela via da CUT e CTB, poderiam organizar um amplo apoio para tornar a greve em uma verdadeira causa popular de todo o Rio Grande e construir uma verdadeira greve geral que parasse o estado. Esse seria um caminho a se tomar para desenvolver uma dinâmica de luta à altura do desafio colocado. Mas, pelo contrário, tomou o caminho de uma greve rotineira, com um comando de greve fechado para a maioria da categoria, onde apenas correntes políticas opinavam sobre os rumos diários da greve. Foi um verdadeiro esforço de traição por parte do PT e PCdoB.

No polo oposto de uma estratégia para avançar a mobilização, o PT e PCdoB defenderam do início ao fim uma estratégia de desgaste do Sartori visando tão somente as eleições de 2018. O PSOL e conjunto da oposição faziam coro com o PT, satisfeitos com um comando de greve cheio de correntes mas sem a base da categoria, e dizendo que o parcelamento de salários e a crise no estado era “falta de vontade política” de Sartori. Também não propunham nada de concreto além de cobrar os sonegadores, medida que em si mesma ainda seria insuficiente. Nós do Movimento Nossa Classe dizíamos que os professores deveriam impulsionar a auto-organização nas escolas, elegendo representantes nas escolas para um comando de greve geral que pudesse se unificar com os municipários e outros setores em luta para transformar a greve em uma grande causa popular e construir uma greve geral no estado que parasse o Rio Grande. Tudo isso junto à unidade de efetivos e contratados. Os professores, enquanto categoria, fizeram tudo o que podiam durante os 92 dias de greve, deram uma verdadeira demonstração de forças heroica. O que faltou foi uma direção política capaz de desenvolver uma mobilização unificada que arrastasse o conjunto da população contra o governo. Com isso seria possível apontar para uma saída real, que aplicasse os pontos programáticos de cobrar de fato os sonegadores, taxar as grandes fortunas, atacar os privilégios e impor o fim das isenções fiscais para grandes empresários, bem como avançar pelo não pagamento da dívida pública que vem saqueando os cofres gaúchos há décadas - um conjunto de medidas que, junto à auto-organização e mobilização ampla, se enfrentaria diretamente com a ordem capitalista e o pacto federativo com a União.

Enquanto isso as direções apostavam no discurso de que bastava “vontade política” para mudar o cenário da crise do estado. Em outra palavras, a direção do CPERS depositou suas energias para uma estratégia cujo objetivo não era e nunca foi o de derrotar até o final o plano neoliberal de Sartori, e sim o objetivo de eleger um candidato nas eleições este ano. Tal situação ficou clara com a atuação do presidente da ALRS, Edegar Pretto, que abriu um “puxadinho” no memorial da Assembleia para impedir com que os professores, que bloquearam as portas da ALERGS, paralisassem os trabalhos da casa num dia em que o governo destrancava a pauta para avançar nas medidas de ataque. Como se não bastasse, o deputado do PT ainda criticou o protesto dos professores. E essa situação ficou ainda mais clara diante das mensagens de whatsapp vazadas da diretora do CPERS, Helenir, fazendo de tudo para trazer ônibus do interior para votar pelo fim da greve, “nem que seja aposentados” segundo ela.

Investigando em detalhes as ações dos parlamentares petistas, vê-se muitas vezes coisas que não são alardeadas. Foi o caso das votações que o PT e o PCdoB fez junto do PMDB na Assembleia Legislativa que destrancou as pautas da casa e, nas palavras do próprio líder do PMDB na câmara, vai “avançar nas proposições que já estão pautadas a várias semanas e prontas para serem deliberadas pelo plenário”. Ou seja, o destrancamento das pautas em meados de novembro, concomitantemente aos esforços da direção central em acabar com a greve, foi o que permitiu Sartori avançar em seu ajuste fiscal na ALERGS. Apesar do PT e PCdoB se silenciarem sobre isso, publicamos matéria no Esquerda Diário mostrando cada passo dado. Nesse mesmo dia estava para ser votado na ALERGS um projeto de lei que avançava contra a liberação de lideranças sindicais de servidores do estado, suspeitando-se, portanto, que parte de rifar a greve tenha sido para negociar esse ponto que no dia mesmo foi derrubado.

A oposição não foi capaz de apresentar uma alternativa a altura

Entretanto ao longo dos 92 dias houve um momento em que um setor da vanguarda de professores conseguiu dar continuidade à greve apesar da vontade da direção central, derrotando-os em uma assembleia geral. Neste momento surgiu a oportunidade da oposição conseguir direcionar a greve para um caminho diferente, mas também foi incapaz de apresentar uma alternativa distinta e manteve uma política semelhante à da direção central. O que os núcleos 38º e 39º (os maiores de todo o estado e dirigidos pela oposição do CEDES, PSTU, MLS, CS, PCB e outras correntes) fizeram de fato para apresentar uma alternativa? Não apenas não conseguiram organizar desde Porto Alegre um caminho diferente, como algumas correntes barraram o potencial de auto-organização nas escolas e de mudança do caráter do comando geral, defendendo a continuidade de um clube de correntes ao invés de os professores, desde a base, dirigirem os rumos da greve. Tampouco depositaram esforços numa unificação real que pudesse ampliar a mobilização. Fizeram uma greve rotineira, de pressão sobre os parlamentares e o governo, que deixou a política nas mãos do PT e dos parlamentares do PSOL e que não se propôs a transformar a greve numa causa de todo o povo gaúcho.

Vale ressaltar que o discurso de “falta de vontade política” permeia também a própria oposição, como se vê nos discursos do deputado estadual do PSOL, Pedro Ruas. Em outros lugares, como Santa Maria, onde a CUT e CTB dirigem, boa parte da base dos professores conseguiu manter a greve mesmo à revelia da decisão da direção central, situação que se manteve durante semanas. Esses e outros elementos mostram como houve uma forte disposição por parte de distintos setores da categoria para dar continuidade à luta apesar das decisões precipitadas da direção central em acabar com a greve. Ao mesmo tempo, fica claro como o PSOL não configura um partido voltado para a luta de classes - reproduzem muito das práticas petistas e não ofereceram nenhuma política alternativa à greve, bem como reproduziram o próprio discurso e lógica de compreender a crise gaúcha, como se tudo fosse “falta de vontade política”.

Com esses elementos em jogo a greve teve seu fim com um forte desgaste por parte da vanguarda ativa, com a recuperação das aulas ocorrendo ao longo de todo dezembro e parte de janeiro e muita pressão das direções. Com as derrotas de Sartori em cortar o ponto dos grevistas e demitir contratados, muitos professores saíram da greve de cabeça erguida. Esses fatores não são menores no cálculo final da batalha. Enquanto muitos setores da categoria propagandeiam que a greve foi derrotada acachapantemente, nós vemos colegas de cabeça erguida e orgulhosos de uma greve histórica que ainda vem batendo na cabeça de Sartori toda vez que ele tenta aprovar as privatizações na ALRS.

Um debate com o PSOL

Ao longo da greve o deputado do PSOL, Pedro Ruas, se colocou contra o governo Sartori e em apoio a greve dos professores. Participou de inúmeras reuniões do movimento e inclusive de negociações do comando de greve com representantes do governo Sartori. Ao longo de todo o processo de greve, porém, em nenhum momento Pedro Ruas ou o PSOL apresentaram uma alternativa a política da direção petista. Limitaram a sua intervenção à inócua atuação e pressão parlamentar, como a tentativa de formação de uma CPI do parcelamento.

A exemplo da atuação do PSOL da greve geral do dia 28 de abril e do dia 30 de junho, quando não criticaram a política da direção petista nem fizeram nenhuma exigência concreta para que a luta se desenvolvesse, e pior, no segundo semestre de 2017 blocaram com o petismo e sua demagógica defesa por eleições gerais, que visava nada mais que fortalecer Lula eleitoralmente, também na greve dos professores a atuação do PSOL foi ausente de críticas e exigências à direção petista.

Por um lado o PSOL é um partido mais eleitoral que militante, e sua construção e presença militante em professores é escassa. Por outro, sua atuação parlamentar não coloca centro da luta de classes e para que se desenvolvam as tendências anti-burocráticas e classistas na luta contra as direções petistas. O PSOL poderia ter usado suas forças para a unificação das lutas contra Sartori e Marchezan e pela transformação dessas lutas em uma grande causa popular. Para além de Pedro Ruas na assembleia legislativa, seus três vereadores (Roberto Robaina, Fernanda Melchiona e Alex Fraga) atuaram da mesma forma. Se colocassem seus mandatos a serviço dessa batalha, poderiam ter sido parte de fortalecer e ampliar a luta para derrotar os planos golpistas no Rio Grande do Sul, possibilidade que estava colocada em setembro e outubro. As outras correntes menores do PSOL gaúcho, como o NOS (atual Resistência), apesar da maior presença nos piquetes e manifestações, não levantaram nenhuma política alternativa à do MES.

Ao contrário de se apoiar nos mandatos parlamentares para articular uma política alternativa, que pudesse levar as lutas à vitória, poderíamos dizer que a política do PSOL é se apoiar nas lutas para levar suas candidaturas a vitórias eleitorais. Agora nas eleições, Roberto Robaina, o candidato do PSOL, tem um programa para a crise do estado que não ataca a raiz do problema. Se restringe à auditoria da dívida do estado, que não questiona a dívida enquanto um dos principais mecanismos de submissão do estado ao capital financeiro e acaba naturalizando parte da dívida, dividindo uma parte supostamente “legal” (que deveria ser paga), daquela sua “parte” ilegal: ou seja, o núcleo do programa essencialmente conservador da Auditoria Cidadã da Dívida, que capitula ao pagamento desse saque do capital estrangeiro integralmente ilegal, ilegítimo e fraudulento (como mostramos na campanha lançada pelo Esquerda Diário e o MRT). Este é um aspecto que liga o programa do PSOL a um programa de subordinação ao saque imperialista, como a defesa do “equilíbrio fiscal” (que significa ajustes anti-operários) no Manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil” que o PSOL vergonhosamente assina com PT, PCdoB, e os burgueses PSB e PDT.

Pela construção de uma alternativa política contra a direita e independente do petismo

Apesar de os professores não terem conseguido impor a reversão dos parcelamentos, não seria errado avaliar que a greve se configurou como o principal obstáculo para o conjunto dos planos do governo Sartori. Ainda que os planos de ataque continuam neste ano de 2018, com a aprovação do acordo de renegociação da dívida do estado e o prosseguimento dos parcelamentos e atrasos, Sartori não conseguiu avançar os planos de privatização. Os professores não triunfaram em garantir seus salário em dia e reajustado, mas impuseram um limite aos ataques de Sartori ao conjunto do povo gaúcho, e o governo não conseguiu passar as tentativas de demissões de contratados ou de corte de pontos, o que ajuda a categoria de professores a manter uma disposição maior de luta do que ao fim da greve de 2015. As mobilizações foram as grandes responsáveis por impedir o avanço das privatizações da CEEE, CRM e Sulgás no ano de 2017 e impedir a sua votação no início de 2018, com a derrota de Sartori na Assembleia Legislativa, bem como em derrotar a recente tentativa de aplicar um Plebiscito Popular para a venda das estatais em outubro. Da mesma forma, não fosse também a heroica greve dos municipários, com destaque para o DMAE, Marchezan estaria mais avançado em seus planos de vender o DMAE para os capitalistas. O mesmo pode se dizer da Carris que no mesmo ano viu uma assembleia histórica dos rodoviários ocorrendo. É de se ressaltar a importância decisiva das mobilizações da classe trabalhadora para atrasar ou diretamente impedir o avanço das privatizações e dos ajustes.

Com tudo isso fazemos um amplo chamado para a construção do Movimento Nossa Classe e do Esquerda Diário enquanto ferramenta dos professores e trabalhadores contra os governos, os ataques e pela construção de uma organização política que combata decididamente a direita golpista e os empresários, com total independência ao PT. Com o Esquerda Diário, ferramenta impulsionada pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) conseguimos construir uma voz independente nesse percurso, dando vazão à voz da base da categoria, expressando fenômenos de luta que a grande mídia conscientemente ignorar, batalhando todos os dias contra as manobras da direção central, defendendo a unificação das lutas com outros setores e como tornar a greve uma grande causa popular do povo gaúcho, expressando particularidades da greve em distintas cidades do estado e depositando todas as nossas forças para derrotar os planos draconianos de Sartori, Temer, RBS e grande empresariado. Para além das batalhas na educação, lutamos pela construção de uma organização anti-imperialista e com independência de classe e construímos as campanhas por uma Petrobrás 100% estatal com controle dos trabalhadores, a luta pela legalização do aborto com a força das mulheres argentinas, bem como a tão necessária luta pelo não pagamento da dívida pública. Nesses 94 dias de greve, publicamos cerca de 200 matérias pelo Esquerda Diário, chegando a centenas de milhares de gaúchos e brasileiros que apaixonadamente acompanhavam a luta. Pode-se ver neste link algumas dessas notas ao longo de todo o processo. O caminho a seguir é o caminho da luta de classes. Nessas eleições para o governo do estado, não se apresentam nenhum candidato que defenda a organização dos trabalhadores com independência de classe e com um programa anticapitalista; no estado do Rio Grande do Sul lançaremos nestas eleições uma política que tenha o objetivo de atacar o caráter fraudulento destas eleições que privam milhões de pessoas do direito de votarem em quem quiser, prendendo arbitrariamente Lula, sem dar nenhum apoio político aos candidatos do PT. Batalharemos nestas eleições por uma política de independência de classe e anti-imperialista que seja alternativa à trágica estratégia de conciliação de classes do PT, a serviço de construir uma força política socialista e revolucionária no estado que possa enfrentar na luta de classes as burocracias sindicais e políticas, e os ataques dos golpistas em cada local de trabalho e de estudo. É com essa perspectiva que queremos ampliar a nossa força no estado, nas cidades onde já atuamos enquanto corrente sindical, como Porto Alegre e Caxias do Sul, e fazer valer essa voz anticapitalista por todo o estado, chegando a ainda mais educadores, trabalhadores e jovens.

 
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