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ELEIÇÕES 2018
Para Mourão, vice de Bolsonaro, torturadores e assassinos como Ustra são "heróis"
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Na última sexta-feira, o General Hamilton Mourão, vice da chapa de Bolsonaro à presidência, foi entrevistado pela Globonews um dia após a facada em Juiz de Fora (MG) contra o presidenciável pelo PSL.

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Como não podia deixar de ser, o ataque contra Bolsonaro foi o ponto de partida dessa entrevista, cujos debatedores buscavam medir os decibéis da chapa de extrema-direita em resposta ao ocorrido. O militar, que logo após do atentado havia declarado em tom de vingança que “se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”, insistiu que iriam reverter o clima de “guerra”, anunciada pelo presidente do PSL, Gustavo Bebianno, contra “a esquerda”.

A linha de acalmar os ânimos foi instruída ao general diretamente pelo capitão hospitalizado em conversa telefônica, como declarou na entrevista. Agraciados pela redobrada tensão “entre os extremos” que o incidente gerou, buscaram competir com o posto de “vítima” do regime da qual Lula e o petismo tem se beneficiado frente à proscrição judicial da sua candidatura, despolarizando o discurso agora que o foco momentaneamente foge das arbitrariedades jurídicas contra o seu principal adversário. Diga-se de passagem, um cenário ainda mais complicado para Alckmin que precisava arrancar votos de Bolsonaro, quando o vetor passa a apontar uma tendência inversa.

A virulência dessa chapa de extrema-direita, no entanto, em minutos voltou a feder na boca de Hamilton Mourão. Não foi possível apagar antes da facada o seu histórico recente de sugestões de golpe militar, sua defesa “sociológica” do racismo, ou da horripilante justificativa das torturas e assassinatos de seus “heróis” ditadores do período militar. A Globo, ao mesmo tempo, respeitou cada afirmação do número 2 de Bolsonaro, corroborando com opiniões como a de Nassif, de que a rede de TV fundada no período militar quer reconstruir a figura de Bolsonaro, alimentando essa sua vitimização.

Um dos entrevistadores remeteu a uma declaração feita em setembro de 2017, de que “ou as instituições solucionam o problema político por ações do Judiciário retirando da vida pública os elementos envolvidos em ilícitos”, ou então “teremos que impor uma solução”. Essa declaração aventava abertamente uma “intervenção” militar direta na política, golpe, possibilidade questionada pelos entrevistadores e que Mourão fez questão de legitimar enquanto uma “interpretação” da Constituição, uma “hipótese” para situações de “anarquia generalizada” ou de “anomia” da capacidade de decisão dos poderes constituídos.

E quem poderia decidir que a situação está de “anarquia”, devolveu uma entrevistadora. Nas palavras de Mourão, caberia ao “comandante” não só o papel de “interpretar” a Constituição, mas também “decidir” se a situação é de anarquia. E quem seria esse comandante? “O presidente é o comandante-chefe das Forças Armadas”. Respaldado pelo Congresso, segundo Mourão, há a possibilidade de “autogolpe”, como em outros países que geraram regimes sanguinários.

Nesse sentido, Mourão prevê a possibilidade de o Exército atuar como interventor político, com capacidade de interpretação e decisão, até mesmo sob “medidas de força”. Como se não bastasse, o general reiterou que o torturador coronel Brilhante Ustra, invocado por Bolsonaro diversas vezes, responsável direto por pelo menos 43 mortes ordenadas pelo Estado, seria o seu “herói”. “Heróis matam”, completou, sem se dar conta que há poucas horas haviam dado uma facada contra o seu cabeça de chapa, mas certamente louvando as balas e métodos medievais da ditadura militar. O general demonstrou que a campanha de ódio e violência explícita contra a esquerda, os trabalhadores e o povo pobre é marca indelével da chapa, mesmo após o ocorrido em Juiz de Fora.

Não fosse o bastante, reafirmou suas “teses sociológicas” sobre a “indolência do indígena” e a “malandragem do negro”, para tentar “amenizar” o seu racismo desavergonhado. Idêntico ao que propõe Bolsonaro, que não promete menos que o massacre da população negra nas favelas com ainda maior respaldo da justiça e do armamento de latifundiários contra a vida das populações indígenas.

Apesar da tentativa de amenizar o discurso, ficou evidente com a entrevista de Mourão que a extrema-direita veio para escravizar os trabalhadores e arrebentar os desgostosos com a perseguição aos negros, indígenas, movimentos sociais, pregando o ódio às mulheres, aos LGBTs e o fuzilamento dos “esquerdistas”.

As circunstâncias do surgimento dessa extrema-direita virulenta não são fortuitas. A tentativa da Lava-Jato, das distintas instâncias do Judiciário e da PF, de controlar quem poderá participar das eleições, prendendo Lula arbitrariamente e agora barrando a todo custo o seu registro e inserções televisivas, com um ferrenho discurso anticorrupção, gestou essa figura da “solução radical” para a corrupção encarnada em Bolsonaro. Na realidade, Bolsonaro e seu “posto Ipiranga”, Paulo Guedes, anunciam que farão de tudo para contemplar os objetivos do golpe de aprovar a Reforma da Previdência, privatizar as principais estatais, e aprofundar a degradação de direitos trabalhistas a lá Temer.

Não obstante, não é possível depositar qualquer confiança de que o PT sendo eleito, via Lula ou Haddad, virá a se enfrentar com os objetivos centrais do golpe, pois demonstrou no segundo mandato de Dilma que respeitam inviolavelmente as leis da crise capitalista. Quando ela vem, não há qualquer benesse por fora de atender os interesses dos capitalistas, mesmo que signifique cortes bilionários na saúde e uma sequência “diluída” de ataques aos trabalhadores. Além disso, em seus anos de governo foram responsáveis por fortalecer a direita, os capitalistas e seus métodos de corrupção, se aliando com os golpistas até mesmo nessas eleições, tudo em prol da “governabilidade”, argumento que permitiu que chegássemos a situação de hoje, inclusive para que Bolsonaro seja bem quisto em uma parte daqueles que confiaram no PT.

 
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