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RIO GRANDE DO SUL
Não somos prendas! Um grito das mulheres gaúchas contra o conservadorismo e a opressão
Steffany Cardoso

O tradicionalismo gaúcho torna o Rio Grande do Sul um dos estados brasileiros onde o conservadorismo é mais presente. Dentro disso, Caxias do Sul, que é uma cidade operária, “da fé e do trabalho”; descarrega sobre os ombros das mulheres e gurias com ainda mais peso o machismo estrutural da sociedade, para nos impor o lugar de prendas.

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Enquanto aos homens cabe a imagem de peões, que domam as dificuldades e se sobressaem sobre aqueles que os ameaça, as mulheres devem ser criadas para ser um presente, um enfeite, àquele homem que for merecedor de formar uma família e agregar no sobrenome. Nossa educação é sobretudo doméstica; crescemos sobre o teto sustentado pelo nosso pai e boa parte das mulheres só sairão de casa para se abrigar sobre outro teto sustentado pelo marido. Segundo as tradições, estamos fadadas à tutela de um homem. Assim é que dita a cultura tradicionalista, criada e sustentada pelas elites do Rio Grande do Sul, que tem ainda mais peso em cidades do interior como Caxias do Sul.

Mas mais do que isso, o que nos sujeita à subordinação é a podridão do sistema capitalista que, no marco de uma fusão entre a burguesia e o patriarcado, busca nos tirar toda perspectiva de independência. Essa cultura machista do Rio grande do Sul, entende que aquela mulher que tanta se desvencilhar dos grilhões que a prendem, é vista como “china”, que nas gírias locais é o correspondente das prostitutas. Falar em independência econômica é abstrato para quem sofre todos os dias com as intermináveis tarefas domésticas, com os empregos mais precários fora de casa, com a precariedade da educação pública e da rede de saúde pública municipal.
Esse Estado que é destinado nitidamente para gerir os interesses dos capitalistas, não está preocupado com as nossas vidas. Está preocupado em nos domar. Querem que sejamos mais uma máquina que produz mercadoria para o lucro dos ricos, mas que acima de tudo reproduz a própria força de trabalho barata que seguirá a garantir esses lucros. Nós somos a classe trabalhadora, e somos também a mão de obra barata; e a nossa função é fabricar mais trabalhadores para esse mesmo destino. Nós lavamos, passamos, educamos e cozinhamos; garantimos a sobrevivência da classe operária.

Não nos dão condição nenhuma para decidir e controlar nossas próprias vidas pois os interesses deles são opostos a isso. Nas escolas não temos educação sexual para poder decidir ou entender o que está acontecendo com nosso corpo. Em casa aprendemos que o toque é pecado; mas também aprendemos a atender as necessidades dos homens. Também não nos garantem gratuitamente contraceptivos de qualidade para que possamos evitar uma gravidez indesejado. E nos deixam morrer se tentamos abortar. Esse Estado não é nosso, e não serve a nós. Por isso não basta a ascensão de algumas de nós e nem basta ocupar os espaços de poder; precisamos é que já não existam mais espaços de poder.

Em resultado, não é surpresa que em Caxias do Sul os candidatos de extrema direita tenham crescido com tanta facilidade. Falar abertamente que merecemos ganhar menos por sermos mulheres e afirmar improdutividade por uma gravidez ou menstruação é um total absurdo. Bolsonaro se fortalece muito aqui, e é defendido pelo cidadão de bem que quer salvar a família tradicional gaúcha das “ameaças de esquerda”. Mas que salvador é esse que publicamente diz a uma mulher que não a estupra porque ela “não merece”? Ou que salvador seria Alckmin repetindo o que fez com a educação em São Paulo; com a demissão de professoras, o fechamento de salas de aula e roubando a merenda dos alunos? Mas também não podemos ter ilusão em uma gestão dita de esquerda ou de pura representatividade feminina. Afinal, com treze anos de governo PT milhares de mulheres morreram vítimas de abortos clandestinos. E a própria Dilma, nossa primeira presidenta mulher, no início do mandato tranquilizou a Igreja Católica dizendo que não precisavam se preocupar com ela, que governaria junto aos conservadores, sendo cúmplice e dessa de que muitas outras mulheres morressem vítimas da violência machista, que é estrutural dentro dessa podridão toda.

Tampouco esquecemos o que fez Eduardo Leite em Pelotas, onde mulheres estão morrendo vítimas de câncer e vítimas da mercantilização do sistema de saúde. Lá os exames preventivos de câncer eram feitos por amostragem, a partir de parcerias público-privadas com os laboratórios, que visavam não a saúde das mulheres mas seus próprios lucros. Nem de Sartori, que foi prefeito em Caxias do Sul, que saiu do ventre da nossa cidade, e que fadou famílias inteiras à fome com o parcelamento do salário dos professores e professoras estaduais. Não podemos mais deixar nossas vidas nas mãos dos representantes do capital. Não podemos mais acreditar em candidatos como o Assis Melo, legítimo caxiense operário, que direciona todas as forças da classe trabalhadora para as eleições e arranca a sua autonomia e abre mão da independência de classe. Precisamos é tomar a luta em nossas mãos.

Nós sentimos todos os dias na pele e na nossa carne a dor da exploração e da opressão. Dói tanto quanto o golpe de um mango. E justamente quem mais sofre é que tem a gana por mudança. Não queremos mais adaptações, não nos satisfazemos com pequenas conquistas. Queremos tudo; o pão e tudo de básico e necessário que há para sobreviver; mas também as rosas e a plenitude de uma vida com sentido, a qual valha a pena ser vivida. Já estamos na linha de frente dos ataques que um regime baseado no acúmulo de capital nos aplica. E tomaremos a linha de frente da batalha por um novo mundo. Não somos uma no poder, somos milhares nas ruas; e já estamos derrubando as portas das nossas casas.

 
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