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GREVE NA USP
USP: estudantes de Filosofia em greve soltam carta contra a ação de professores que tentam desmobilizar
Redação

Publicamos a carta do comando de greve dos estudantes de Filosofia da USP contra a atitude dos professores que arbitrariamente despiquetaram o prédio passando por cima da deliberação estudantil votada em assembleia. Esses professores tem atuado burocraticamente contra os métodos de greve e o direito dos estudantes deliberarem suas formas de luta

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“Aos alunos do Curso de Graduação em Filosofia”

Nós, Comando de Greve do curso de Filosofia da USP, viemos por essa nota repudiar o ocorrido no dia 15 executado pelos professores do departamento de filosofia. Na noite de sexta para sábado, um grupo de professores do departamento de filosofia resolveu expressar um posicionamento cediço explícito para estudantes desde o início da greve: são contrários à greve, mas, apesar disso, apoiam o direito de greve (reflexões que a lógica reluta em nos proporcionar). Decidiram, assim, que têm tanto poder sobre uma greve estudantil quanto os próprios estudantes e resolveram, diante disso, decretar o fim da greve, ou, pelo menos, que deve ser feita da maneira como bem entendem. Enfim, em uma apresentação cafona, a boy band tirou selfies na intervenção "descadeiraço".

As decisões relacionadas à greve estudantil foram tiradas em assembleias estudantis. Tal grupo explicita a estudantes nada que já não saibam: que professores compactuam com a judicialização de estudantes; que chamam de diálogo uma decisão que passa por cima dos mesmos; que buscam conversar na posição de vítimas, a saber, houve tentativa de aproximação, mas preferem, de saída, se posicionarem contra a greve para, então, reclamarem que os corredores da faculdade ficam vazios durante a greve estudantil (porém não nos permitem utilizar livremente a sala 111, que não foi piquetada, mostrando que a verdadeira preocupação deles não é o esvaziamento do prédio); que preferem pensar em assembleia não uma proposta a ser repassada a estudantes (como havia sido comunicado aos estudantes), mas uma ação que visa desmobilizá-los, provocar ruídos entre grevistas e não-grevistas, forçar o curso normal das coisas em uma situação anormal; em suma, que os professores mentem para os estudantes.

Os professores são incapazes de encontrar outros métodos para terminar seus devidos cursos? Já foram informados, aliás, que os estudantes não são contra a reposição das aulas. É tão necessária a esse departamento a manutenção da normalidade? Exigem um método alternativo, inovador, relacionado à greve, mas, além de, de saída, mostrarem-se indiferentes em relação à greve (indiferença expressa, por exemplo, por um dos professores ao pontuar uma greve no ano passado que não existiu e uma no futuro que não chegou a existir), esses professores não conseguem pensar em outra atitude a ser tomada diante de uma adversidade a não ser o castigo. Ao que parece, esse método, tão desejado por professores, é bem conhecido por todos: aquele que mantém um castigo velado dentro de cada um; que incomoda ninguém, com seus apaziguamentos, suas pacificações e conciliações. Enfim, reitera-se apenas o desprezo por isso que causa vergonha em estudantes desse departamento. Discute-se, no momento, que dignidade têm esses profissionais da educação. Discute-se para que servem tantas teses, títulos e diplomas se estes tão renomados profissionais se posicionam como polícia, homem da lei ou conselheiro tutelar diante dos confrontos.

Assumimos que a retirada do cadeiraço pelo departamento é louvável pela união, pela força física empregada, pela cooperação, por cada fala, suor e pensamento em torno de uma causa. como nunca antes. Por outro lado, é lamentável, pois essa é dirigida para um símbolo político de resistência, contra o grito e o pedido dxs estudantes. Pois o cadeiraço é o poder do mais fraco em uma situação de vulnerabilidade, em que ele precisa gritar, Precisa para as aulas para que o departamento olhe para nós!. É como se esse trabalho dos filósofos em desempilhar cadeiras, um dos poucos momentos em que a divisão entre trabalho intelectual e manual se expressa no recinto fechado da intelectualidade da filosofia uspiana, apagasse o símbolo de uma luta, para de novo voltar a lógica normal da divisão do trabalho. Viva as aulas! Mesmo que não tenham alunxs, mesmo que não comam, mesmo que se matem, mesmo que não tenham onde dormir… Ou que haja apenas uma casta privilegiada de iluminados que ocupam o local onde estão pela criação de uma desigualdade desde os tempos mais remotos. Os dos nosso sangue foram mortos e explorados para que os iluminados discutissem o imperativo categórico sem preocupações, tendo o que comer e onde morar, tendo a tranquilidade para ser um pensador. Mas o ato do cadeiraço não era uma agressão aos professores e alunos.

Como um empilhado de cadeiras que pulsa para uma chamada radical de um problema por que passam muitos de nós, como falta de comida, depressão, falta de moradia, uma vida miserável e insossa, é uma agressão para eles? Não sabemos se o problema são as cadeiras ou quem vê em um grito de socorro uma perturbação ao seu sossego.

Pensamos se haverá um dia em que todo esse ímpeto coletivo dos professores serão direcionados para redigir um manifesto em defesa de nossas pautas, em que eles farão um ato em conjunto contra os retrocessos na educação ou em que colocarão seus esforços físicos por permanência. Tudo indica que dificilmente. Mas, mesmo assim, seguimos lutando, não porque gostamos, mas porque precisamos.

Convidamos todos e todas para compartilharem a nota. E convidamos todas as entidades estudantis, as demais categorias, movimento e organizações para assinarem a nota.

 
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