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BICENTENÁRIO MARX
Marx e internacionalismo: trabalhadores uni-vos!
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro

“Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”. O célebre chamado que encerra o Manifesto do Partido Comunista elaborado por Karl Marx segue sendo não apenas vigente, como impressionante

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“Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”. O célebre chamado que encerra o Manifesto do Partido Comunista elaborado por Karl Marx segue sendo não apenas vigente, como impressionante. Impressionante por ser uma sentença tão curta, mas ao mesmo tempo tão cheia de significado estratégico. Se colocava assim que a luta dos trabalhadores é nacional em sua forma, e internacional em seu conteúdo. Marx ao desvendar a natureza do capitalismo como modo de produção possível apenas pela expropriação privada da riqueza pelos trabalhadores desvendou também a essência internacionalista da luta pela emancipação dos trabalhadores de seus exploradores.

É certo que a análise e a delineação da importância do internacionalismo proletário se darão de forma mais completa com as elaborações de Lenin, como em sua teoria do imperialismo, e de Trotsky com a teoria da revolução permanente. Isso deriva fundamentalmente do fato de que o capitalismo em seu máximo desenvolvimento englobando o conjunto do mundo, isto é sua fase imperialista, se inicia na virada do século XIX para o século XX. É a partir de então que os monopólios, originados pela fusão entre o capital bancário e industrial, interligam a economia capitalista internacionalmente de uma forma mais profunda e inédita.

No entanto, Karl Marx já havia desvendado os elementos fundamentais da natureza internacional do capitalismo, e disso já havia derivado que a estratégia da revolução socialista teria que ser internacionalista. O encadeamento da economia internacional como totalidade se expressa em diversos de seus escritos, como por exemplo no artigo Deslocamentos do Centro de Gravidade Mundial em que avalia o impacto da descoberta de minas de ouro na América, que caracteriza como um “fato mais importante que a revolução de fevereiro de 1848”. A esse respeito dirá:

Uma segunda vez o comércio mundial muda de direção. O que eram, na Antiguidade, Tir, Cartago e Alexandria, na Idade Média, Gênova e Veneza, e, até agora, Londres e Liverpool, a saber, os empórios do comércio mundial, serão no futuro Nova Iorque e São Francisco, São João de Nicarágua e Leão, Chagres e Panamá. O centro de gravidade do mercado mundial era a Itália, na Idade Média, a Inglaterra na era moderna, e é hoje a parte meridional da península norte-americana. A indústria e o comércio da velha Europa terão que fazer esforços terríveis para não caírem na decadência, como aconteceu com a indústria e o comércio da Itália no século XVI, isto se a Inglaterra e a França não quiserem tornar-se o que são hoje Veneza, Gênova e a Holanda. Daqui a alguns anos teremos uma linha regular de transporte marítimo a vapor da Inglaterra a Chagres, de Chagres e São Francisco a Sidney, Cantão e Singapura.
[1]

Caracterizando de forma absolutamente precisa essa mudança do centro de gravidade da economia internacional, Marx não apenas aborda as consequências que isso traz de maneira analítica, como destaca as tarefas do proletariado frente a isso. Dirá que a única forma que os países europeus de capitalismo desenvolvido terão de não caírem na dependência dos Estados Unidos seria realizando a revolução social, o que levaria ao desenvolvimento de novas e superiores forças produtivas. E de fato, desde que Marx elabora essas linhas até o momento aberto após a eclosão de duas guerras mundiais é inquestionável que o centro de gravidade do capitalismo se deslocou para os Estados Unidos, país imperialista de primeira ordem.

Outro aspecto do internacionalismo de Marx se demonstra nas elaborações sobre a luta anticolonial. Seus escritos sobre a Índia, e os movimentos camponeses russos, e a Guerra do Ópio como forma de dominação britânica sobre a China demonstram o aprofundamento da reflexão que Marx elabora sobre o caráter do próprio colonialismo, e seu impacto que transformava de conjunto aquelas sociedades que eram subjugadas. Dessa forma, Marx indica claramente como a dominação colonial na Índia transfigura a antiga sociedade de casta, em nome do lucro e realizado em base ao derramamento de sangue do povo local. Diz:

Tudo o que a burguesia inglesa for obrigada a fazer na Índia não emancipará a massa do povo nem melhorará substancialmente sua condição social, conquanto esta depende não somente do desenvolvimento das forças produtivas mas também de sua apropriação pelo povo. Mas o que não deixará de fazer é criar as condições materiais para realizar as duas. A burguesia jamais fez mais? Ela jamais efetuou um progresso sem conduzir os indivíduos e os povos através do sangue e da lama, através da miséria e da degradação?
[2]

Nesse sentido, Marx precisa também as tarefas da classe trabalhadora em especial das nativas das nações dominadoras, como a britânica, para a luta anticolonial. Define como a própria classe trabalhadora britânica tem como tarefa emancipar-se do julgo da sua burguesia, ao mesmo tempo em que deve encontrar nos trabalhadores das nações subjugadas seus aliados, e que pelos muitos laços que atam as cadeias da economia internacional um triunfo dos trabalhadores dos países mais importantes teria efeitos direitos sobre a das colônias.

Como decorrência disso, com o aprofundamento da crise que golpeia o cenário europeu após a derrota das revoluções de 1848, Marx assinala recorrentemente como os trabalhadores dos distintos países devem unir-se. Denuncia e combate os anseios da burguesia europeia a levar a uma guerra na qual se oponham os trabalhadores da Inglaterra e dos Estados Unidos. Coloca dessa forma uma lição estratégica que é um verdadeiro pilar do marxismo: a de que a única guerra que pode ir ao encontro dos interesses dos trabalhadores é contra a burguesia, jamais contra os trabalhadores de outros países. Isso é o que está na base da elaboração dos estatutos da I Internacional, em que se coloca que “Que todos os esforços tendentes a esse grande fim têm até aqui falhado por falta de solidariedade entre as múltiplas divisões do trabalho em cada país e pela ausência de um laço fraterno de união entre as classes operárias de diferentes países”.

Num momento em que atravessamos uma grande crise política, econômica e social em uma série de países, inclusive no Brasil, retomar esse aspecto legado pela obra e vida de Karl Marx é fundamental. Entendermos que a luta revolucionária dos trabalhadores é internacionalista não apenas por um problema de solidariedade, decerto muito importante, mas de estratégia que decorre da própria natureza do capitalismo é mais que urgente.

Notas:

[1] https://www.marxists.org/portugues/marx/1850/02/deslocamento.htm

[2] https://www.marxists.org/portugues/marx/1853/07/22.htm

 
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