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A unidade que precisamos para enfrentar a direita é com partidos burgueses como o PSB?
Iaci Maria

Que é preciso uma unidade para barrar os ataques da direita e dos golpistas aos trabalhadores e lutar contra a prisão de Lula, parece ser um consenso na esquerda. Mas é possível uma unidade política com partidos burgueses? Para o PSOL, que assina o Manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil” com partidos conciliadores de classe como o PT e PCdoB, e partidos burgueses como o PDT e o PSB, a resposta parece ser positiva, e o horizonte dos trabalhadores e jovens deveria se circunscrever a um projeto de país neodesenvolvimentista.

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Em fevereiro foi lançado o “Manifesto Unidade para reconstruir o país”, assinado pelo PSOL juntamente aos conciliadores PT e PCdoB, e partidos diretamente burgueses PDT e PSB. Semana passada, os signatários desse manifesto lançaram uma frente ampla ao redor de alguns eixos, agora com a adesão do PCB e PCO.

O PSB hoje encontra-se com suas alas internas divididas, o que levou a que em seu último congresso, 6 deputados rompessem com o partido, o que leva a falsa ideia de que o partido vem se colocando à esquerda. Aqui queremos mostrar alguns motivos pelos quais não existe nada plausível que justifique uma unidade com um partido burguês como o PSB, e como não pode ser com uma unidade dessas que se forme uma frente que possa de fato derrotar os ataques da direita e dos golpistas (trataremos do PDT em artigo à parte).

É um partido burguês!

Embora leve o nome “socialista”, o PSB não é um partido de esquerda. É um partido burguês, que nas eleições de 2016 foi um dos que mais elegeu candidatos às prefeituras do país afora, tendo hoje um total de 414 prefeitos eleitos. Além desses, o partido possui grandes bancadas parlamentares, sendo 101 deputados eleitos, 4 senadores, além de governarem 5 estados brasileiros, sendo um deles nada menos do que o estado de São Paulo – ou seja, o PSB governa assim o maior número de habitantes que qualquer outro partido que possua governador.

O PSB apoiou o impeachment e o golpe institucional iniciado em abril de 2016. Esse partido também até pouco tempo contava com Paulo Skaf em suas fileiras, o conhecido carrasco presidente da FIESP, que foi uma das grandes entusiastas das manifestações da direita verde-amarelas, colocando seu pato amarelo – e agora um sapo verde – na Av. Paulista e distribuiu marmitas de filé mignon para os manifestantes pró-impeachment. Ou seja, diretamente golpistas.

O PSB abriga políticos como o senador Fernando Bezerra Coelho (CE), o deputado federal Heráclito Fortes (PI), o deputado federal José Reinaldo (MA), e a senadora Lídice da Mata (BA), todos acusados por crimes que variam desde corrupção ativa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, recebimento de vantagens financeiras (ver reportagem do UOL).

Márcio França, atual governador de SP, era vice do Alckmin, e seu grande apoiador

Geraldo Alckmin, do PSDB, reconhecidamente de direita, saiu do governo do estado de SP para disputar as eleições presidenciais, e quem assumiu foi seu vice Márcio França, do PSB. O então vice esteve ao lado de Alckmin – e, consequentemente, do PSDB – em todos os ataques do governador, que sabemos não foram poucos. Foram escândalos de roubo de merenda, ataque aos servidores, política de privatização do metrô e terceirização das bilheterias, e recentemente a silenciosa entrega de escolas inteiras para as mãos de empresários.

Agora, como governador, logo que assumiu Marcio França disse achar sensacional o número de assassinatos na cidade de São Paulo. Ele ignora que a cidade é a maior envolvida em mortes violentas no país, e que uma das principais causas dos homicídios é a violência policial, que inclusive bateu recorde histórico ano passado, tendo dobrado na gestão Alckmin.

E por falar em Alckmin, França está declaradamente apoiando o tucano para a presidência, dizendo que ele é seu candidato do coração, e ainda colocando que não há dúvidas de que o atual governador seja também o candidato do coração do presidenciável, na disputa pela sua sucessão na direção do estado. Nesse tempo, Alckmin atacou professores, estudantes universitários e secundaristas, e outras categorias do movimento operário, sem nenhum pio do PSB. É possível estar com Alckmin e com a esquerda ao mesmo tempo?

Ainda no estado de SP, Jonas Donizette na prefeitura de Campinas é um verdadeiro destruidor da saúde pública

A cidade de Campinas está sob a prefeitura de Jonas Donizette do PSB, e o que não faltam são mostras do reacionarismo do prefeito, e seus sucessivos ataques aos trabalhadores e à população. Se nos atentarmos apenas aos ataques nesses primeiros 4 meses de anos, já temos uma grande lista.

Logo em fevereiro, com a instauração da rede Mario Gatti e unificação do sistema municipal de saúde, veio a ameaça de mais de 1500 demissões de funcionários da saúde. O Hospital Ouro Verde, investigado por desvio de recursos públicos, está no centro dos ataques aos trabalhadores da saúde e do acesso à saúde da população. No início do mês, as pessoas que precisaram recorrer a esse hospital chegaram a ter que passar por 10 horas da fila de espera do pronto atendimento pois, segundo os próprios pacientes, haviam apenas 3 médicos para atender.

Jonas Donizette também deixou mais de 5700 crianças sem creche na cidade. A média de espera que esses milhares de mães e pais aguardam para conseguir matricular seus filhos no ensino infantil municipal da cidade é de dois anos.

E como mesmo seria possível derrotar um ataque como a reforma da previdência se aliando a um partido que defende tal reforma? Sim, porque Jonas Donizette, seguindo bem a orientação de Temer de tentar fazer passar essa reforma nas esferas municipais, está ansioso por atacar a aposentadoria da população de Campinas. Inspirado no reacionário SampaPrev de João Dória, o prefeito de Campinas protocolou o PL 92/2018 no início desse ano, e agora se esforça para aprovar uma reforma da previdência municipal e retirar ainda mais os direitos dos trabalhadores. Então se combate golpista aliando-se com aqueles que seguem os planos dos… golpistas?

E se a justificativa for combate a corrupção, Jonas também deixa sua contribuição, já que tudo indica seu envolvimento em um esquema fraudulento no transporte público de Campinas, sendo inclusive alvo de uma ação civil no Ministério Público. Isso sem contar o absurdo valor da passagem na cidade, que chegou aos R$4,70 em 2018.

Na verdade, se for pra falar só do Jonas Donizette, poderíamos ficar mais muitos parágrafos aqui. Você pode conferir esses diversos escândalos clicando aqui.

Saindo de SP e subindo um pouquinho, chegamos a Brasília e nos deparamos com o governo de Rodrigo Rollemberg, à frente do Distrito Federal

Só para começar, saúde e educação nunca foram prioridades no governo de Rollemberg. Isso se expressa nas diversas mortes nos hospitais públicos devido a falta de vagas na UTI – e a absurda censura por parte do governador, que quis impedir as denúncias do seu descaso com a saúde, como nas diversas lutas dos servidores da saúde e da educação, como vimos na recente greve de professores.

Mas se tem algo que Rodrigo Rollemberg faz com excelência, é usar a força policial para reprimir com violência. Isso se mostrou nas greves de trabalhadores, onde a polícia a mando do governador espancou trabalhadores. Mas foi nas grandes manifestações nacionais em Brasília, principalmente contra a PEC do teto dos gastos ao final de 2016, como na grande marcha à Brasília em maio de 2017, que o desejo de reprimir violentamente ficou escancarado. Rollemberg colocou sua polícia militar à disposição do governo federal para ajudar a garantir que a PEC 55, que congela por 20 anos os investimentos em serviços básicos como saúde e educação, fosse aprovada. Ou seja, sua polícia torturou uma jovem mulher em praça pública, reprimiu violentamente milhares de trabalhadores e estudantes por horas, com suas bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cavalaria, e ainda prendeu dezenas de estudantes após encurralá-los, para garantir que os planos dos golpistas seguissem o traçado.

Ademais, o governo Rollemberg está envolvido em denúncia do corrupção por recebimento de propina da empresa Terracap, a maior empresa imobiliária do Brasil e responsável por todos os loteamentos e projetos de construtoras no Distrito Federal (ver aqui).

Se isso não é um governo tipicamente de direita e neoliberal, então fica aí um questionamento do que mais precisa ser para mostrar que de esquerda, o PSB só tem o nome.

E por falar em golpistas…

Os parlamentares do PSB votaram SIM pelo impeachment, atuando diretamente a favor do golpe, e romperam com o governo golpista de Temer apenas após o vazamentos dos áudios que incriminavam Temer nos escândalos da JBS. Mas vejam bem, como já mostramos acima, o PSB sai da base aliada de Temer, mas não deixa de se aliar com golpistas e corruptos de marca maior, como é o caso de Alckmin.

Por fim, a possível candidatura de Joaquim Barbosa

Nos últimos dias também Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, filiou-se ao PSB. Embora em suas declarações Barbosa não afirme que sairá candidato, dizendo que isso ainda está em aberto, logo que se filiou ao partido o juiz passou a aparecer nas pesquisas de intenção de voto, girando próximo dos 10%.

Mas o PSB quer Joaquim Barbosa presidenciável. E já está pensando em sua campanha, declarando que a intenção do partido para o ex-ministro é que ele seja o candidato “amigável às ideias do mercado financeiro”. O que o PSB quer com ele é lançar um candidato que defenda um “capitalismo de verdade”.

Barbosa é responsável pela famosa "teoria do domínio do fato", largamente utilizada por Moro e os procuradores da Lava Jato para justificar condenações "sem provas, mas com convicções". A arbitrariedade do judiciário está contida na figura do ex-ministro do STF.

Além disso, Marcio França, que já falamos por aqui, acenou seu interesse de que Joaquim Barbosa seja vice de Alckmin! Isso é uma coligação direta com a candidatura presidencial do PSDB. Como ficaria essa frente ampla “da esquerda” formada com um partido em que uma de suas principais figuras quer outra figura sua de grande expressão saindo vice de ninguém menos do que Geraldo Alckmin?

Mas então qual saída é possível?

Em primeiro lugar e com urgência, o PSOL precisa romper com essa frente. Há que se resgatar na memória os feitos por esses partidos – os burgueses e os conciliadores também – e não permitir que a história de conciliação e traição da classe trabalhadora se repita. Não há nada de progressista em partidos burgueses como PSB e PDT, mesmo que setores da população e da juventude vejam-se enganados pelos discursos inflamados.

É possível uma real saída à esquerda para essa crise do regime que estamos vivendo, que leva a que partidos tradicionalmente de direita sejam propositalmente confundidos com uma alternativa à esquerda. E quando o PSOL e PCB aliam-se a esses partidos, cumprem o papel de auxiliar o engano das massas, e auxiliares da criação de uma ilusão petista da possibilidade de se construir um “capitalismo humanizado”. Como definimos aqui nesse profundo artigo a respeito desse manifesto que busca reconstruir a essa ilusão capitalista “Precisamos romper com essa política e contrapor a ela uma política anticapitalista e revolucionária. Só assim poderemos responder às tarefas imediatas e históricas que cabem à classe trabalhadora brasileira, e sua verdadeira missão internacionalista de ajudar na libertação dos povos oprimidos da América Latina e de todo o mundo”.

 
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