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SERGIO MORO
Quando o diabo mostra a cauda: Sérgio Moro no Roda Viva
Iuri Tonelo
Recife
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Na última edição do Roda Viva foi apresentada uma entrevista ao vivo com o juiz Sério Moro, conhecida cabeça da operação Lava Jato. Rasgando a roupa de juiz portador da neutralidade e da ordem, muitas nebulosas frases da entrevista expressavam aqui e acolá importantes significados políticos. Então o primeiro sinal intrigante a se observar foi: por que agora a entrevista? Porque o juiz avesso a exposição resolveu estar no centro das atenções?

Para responder essa questão temos uma definição geral e algumas hipóteses específicas. Como aqui as “minucias” nos interessam bastante, comecemos pelo mais geral, pela cereja do bolo.

Nos próximos dias será definido no país algo que pode determinar uma transformação abrupta do regime político brasileiro: se o STF julgar contrário ao Habeas Corpus de Lula, essa figura que, junto ao PT tem sido um dos pilares da “Nova República” – diga-se de passagem pilar da estabilidade dessa democracia degradada -, voltando, esse pilar sairá de cena (ou atuará em outros palcos), o que nos leva a dizer que significa uma mudança abrupta no sistema político brasileiro. Não há como negar que esse era o objetivo principal da Lava Jato, para o qual o golpe institucional esteve a serviço, e da qual Sergio Moro é figura emblemática: decapitar o PT, esfacelar o partido, definir quem não é candidato em 2018.

Além disso, não se pode deixar de notar, vide as pesquisas de Sérgio Moro em tempos de universidade, que um mão invisível da Operação Mãos Limpas também não deixa de se colocar presente, ou seja, atacando Lula e o PT, abrir-se-ia caminho para uma verdadeira “reestruturação” do regime político brasileiro, evidentemente não a favor da democracia, mas com golpes judiciários e um pouco de manha interna para impor vontades advindas dos gabinetes das petroleiras estadunidenses e outros interesses do grande capital que nem sempre são fáceis de se verificar.

Ou seja, e essa é uma conclusão fundamental: para os objetivos do capital internacional e de tudo o que está por trás da Lava Jato, o julgamento do Lula é o “all-in” do poker, ou em linguagem futebolística mais nacional, é aquele escanteio aos 47 do segundo em que vão todos pra área, até o goleiro....no caso, o goleiro que faz pose de neutro aí virou atacante, porque é momento de fazer política aberta, é tudo ou nada, dane-se que caia a máscara!

Inacreditável nesse sentido foi o apresentador interromper o andamento da entrevista para dizer: “basta ver o doutor Moro de perto para perceber que não se trata de um agente da CIA”. Ah, claro, porque um agente da CIA tradicional chegaria de helicóptero e pularia como James Bond no meio do programa, e como o apresentador olhou bem pro Moro, não percebeu nenhuma ligação com os EUA ou com James Bond.

Então o primeiro efeito da entrevista é nesse momento acirrar os ânimos da “opinião pública” pró Lava Jato, numa entrevista praticamente sem um pingo de emoção, parecia um palanque político! Pois bem, muitos apoios da classe média, entrevista virou trending topics mundial, deu até pra em duas perguntas fazer muita propaganda da série da Netflix sobre a Lava Jato, que também por sua vez não escondeu a falta de neutralidade nesse momento.

Objetivo claro então: retomar Lava Jato e mesmo Moro com protagonismo nos jornais. Dar novas energias para o exército de Brancaleone do golpismo.

Posto essa causa magna de Moro, fazer política ao máximo para pressionar o STF e incitar a opinião pública golpista, vejamos algumas das “minucias” que não podem deixar de ser remarcadas:

A primeira, decisiva, está no âmbito do julgamento do Habeas Corpus em 4 de abril. Como Moro dá um recado ao STF, ou seja, como fazer política?

Em primeiro lugar, faz grande “ode” a Teori Zavascki. Qual o recado? Apoiar num falecido juiz em uma morte suspeita. Jogada de manual de política, sensacionalista e apelativa, mas foi o que fez Moro sem parar.

Em segundo lugar, elogiar os arquireacionários golpistas do STF (a instituição inteira é podre, para que não haja dúvida, mas tem gradações): ministros Barroso e Fachin foram elogiados (ala dura interna da Lava Jato). Mas o intrigante estava na mensagem que foi dada de maneira bem calculada aos dois que podem ser influenciados para mudar o voto, aqui vale a máxima atenção as palavras quando o diabo mostra a cauda:

Temos um Supremo Tribunal Federal de qualidade, nós temos excelentes ministros. Há ministros, vou citar apenas um, eu acho que não me cabe aqui ficar fazendo avaliação sobre ministros ou censurando ou não o ministério público... [ato falho]... O Supremo Tribunal Federal. Mas nós temos ministros como o decano, Celso de Mello. Eu tenho um apreço especial pela ministra Rosa Weber, fui convocado, trabalhei com ela. Pude observar a seriedade da ministra, a qualidade técnica da ministra. Então eu tenho a expectativa de que esse precedente não vai ser alterado

Um professor de letras que quisesse fazer a análise do discurso teria nesse simples parágrafo um prato cheio (psicanalistas que entendem o embate Lava Jato Ministério Público também). Mas para destacar o fundamental, vejam que o juiz neutro não quer fazer juízos de valor, ele quer citar apenas um: Celso de Mello, e acaba citando dois....Rosa Weber, no caso, a ministra que aparentemente tem o voto menos “fechado” no caso em questão. Para bom entendedor, meia palavra basta. E pra quem não baste, explicamos: Sérgio Moro ao vivo cita dois ministros de sua escolha e diz que confia no trabalho deles....não os decepcionem, hein ministros.

Vejam que emblemático o comentário do editor executivo da Folha, Sérgio D’Avila, depois da fala de Moro: “Doutor Moro, primeiro registrar aqui a pressão sobre Rosa Weber, todos os olhos sobre ela, e agora tem o apoio do doutor Moro a favor dela, ela pode ser o fiel da balança como o senhor sabe”.

Um escândalo. Se Moro não foi fazer política, nós então não sabemos exatamente o que foi fazer. Como diria Dostoiévisky, se Deus não existe, tudo é permitido. Ou, ao menos, é permitido ao Diabo mostrar a calda.

Por fim, mas não menos importante: e se perder a aposta? Bom então a proposta do juiz é clara: se não podemos contar com o bonapartismo (simplificando, a arbitrariedade acima das leis) do judiciário, então que contemos com o bonapartismo do executivo. Por que não elegerem um candidato que faça uma emenda constitucional resolvendo o problema da segunda instância e nesse sentido voltando a Lava Jato ter autoridade pra prender quem quiser ao seu bel prazer político?

Esses foram os votos de Sérgio Moro, a dica para a população: cobre dos seus candidatos algo concreto contra a corrupção, ou seja, uma emenda constitucional que me favoreça. Já ofereceu a senha para entendermos a imbricação entre judiciário e executivo no futuro próximo, a nova fase ou continuidade do golpe institucional.

 
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