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QUESTÃO PALESTINA
Sobre a questão palestina: um debate com as posições de Jean Wyllys
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

O deputado pelo PSOL, Jean Wyllys se pronunciou de novo recentemente nas redes sociais sobre a questão de Israel. Num post datado do dia 15 de fevereiro Jean Wyllys lança um debate que só se presta a gerar confusão, ao mesclar as questões relativas ao “antissemitismo” e ao “antissionismo”.

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O deputado pelo PSOL, Jean Wyllys se pronunciou de novo recentemente nas redes sociais sobre a questão de Israel. Num post datado do dia 15 de fevereiro Jean Wyllys lança um debate que só se presta a gerar confusão, ao mesclar as questões relativas ao “antissemitismo” e ao “antissionismo”. Não é a toa que existe um conceito, uma denominação para cada coisa. “Antissemitismo”, como o próprio Jean Wyllys, é a designação das correntes que promoveram a matança de judeus, como os “pogroms” na Rússia czarista, e que depois se transformou em modus operandi dos nazistas durante a II Guerra Mundial com a ascensão de Hitler. Decerto existem várias correntes e tipos de “antissemitismo”. São absolutamente reacionárias e racistas. Já por “antissionismo” deve-se entender outra coisa. E para clarificar os motivos há que recorrer a um resgate sobre o que é o sionismo como corrente. E as bases da própria fundação do Estado de Israel.

Estado de Israel foi fundado a partir de uma resolução da ONU, em 1948. É um Estado artificial. Anteriormente à sua criação, o povo judeu vivia espalhado por diversos países da Europa. Inclusive no Oriente Médio, a Palestina, onde durante diversos séculos conviveram pacificamente com os árabes. Em 1917 conviviam nos 26 mil km2 da Palestina, conviviam cerca de um milhão de palestinos e cem mil judeus. Naquele momento, a Palestina era controlada pela Grã-Bretanha, que já em 1921 tentou dividir o território deixando 80% para os árabes, e 20% para os judeus.

Naquele momento os sionistas, isto é, aqueles setores dos judeus que tinham como projeto criar um Estado unicamente judeu, eram minoria. Inclusive diversos dirigentes revolucionários, como Rosa Luxemburgo, Leon Trotsky tinham origem judia e eram internacionalistas, isto é, lutavam pelos interesses de todos os trabalhadores do mundo. A ideia de um Estado judeu era rechaçada pela maioria deles. Desde o início, o movimento sionista esteve ligado ao imperialismo e aos setores mais altos da classe burguesa judia. Teodor Herzl, um dos principais fundadores do sionismo como corrente, não hesitou em firmar pactos com personagens antissemitas confessos, como membros do governo russo que prometeram no início do século XX financiar uma caravana em direção à Palestina sob a condição de que os sionistas convencessem os judeus a abandonar os partidos operários e socialistas na Rússia, e a sua luta contra o czarismo. Herzl foi o criador da máxima de que a Palestina seria “uma terra sem povo, para um povo sem terra”. No entanto, a Palestina estava longe de ser uma terra sem povo.

Mas foi após a Segunda Guerra Mundial que o movimento sionista obteve com o apoio do imperialismo norte-americano e das demais potências o aval para criar um Estado judeu. O imperialismo norte-americano utilizou-se da justa aspiração do povo judeu de viver em segurança após mais de 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas, para dar uma saída reacionária a essa demanda. Com isso o movimento sionista deixou de ser minoritário. Com a votação da criação do Estado de Israel imediatamente abriu o problema sobre o que fazer com os palestinos que viviam lá. A resposta do imperialismo e da burguesia sionista foi: expulsar. Após a guerra de 1948-1949 em que os palestinos organizaram uma resistência para manterem-se em suas terras ancestrais, que foi vencida pelos israelenses, houve uma ampliação do domínio do Estado de Israel por uma área de 20 mil km² (75% da superfície da Palestina). Isso provocou o deslocamento de aproximadamente 900 mil palestinos, que deixaram as áreas ocupadas por Israel. Com a guerra de 1967, Israel estendeu ainda mais suas fronteiras, expulsando e oprimindo muito mais os palestinos. Esse imenso contingente de refugiados permaneceu disperso pelos campos do Oriente Médio. Hoje existem cerca de 8 milhões de palestinos que vivem como refugiados, e não podem voltar para suas casas, e são proibidos por Israel inclusive de receberem ajuda humanitária.

Desde então foram inúmeras guerras e em todas e elas Israel buscou ampliar o seu território, e condenar os palestinos a viverem na Faixa de Gaza e num mínimo espaço na Cisjordânia. Portanto, o Estado sionista formou-se em base à ocupação colonial, dando início à escalada de expulsão e repressão dos palestinos. Utilizando-se do horror gerado pela política de extermínio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, o imperialismo cria no Oriente Médio o enclave que hoje conhecemos como Israel. Desse modo, o imperialismo resolveu a questão da aspiração judaica à “sua maneira”: de minoria oprimida a transformou em uma maioria opressora, responsável pela expropriação das terras palestinas, dezenas de milhares de presos políticos, milhões de palestinos exilados, e pela instauração de um Estado ilegítimo e racista.

Por isso a posição de Jean Wyllys que confunde o conteúdo de “antissemita” dentre os quais figuram ninguém menos que os nazistas, com os setores da esquerda e com o de todos os que se colocam contrários ao sionismo como corrente colonialista, é absolutamente errada e cumpre um papel completamente regressivo. Com essa posição Jean Wyllys que tanto se arvora a defender os LGBTs, negros e outros setores oprimidos se nega simplesmente a defender os direitos de um povo oprimido, localizando-se ao lado de um Estado racista, colonialista e opressor.

Ao contrário das opiniões de Jean Wyllys, o expansionismo colonialista não é uma fantasia, produto de uma “teoria da conspiração” como expressa em seu post de facebook. É algo muito real e concreto para milhões de palestinos, que são assassinados sistematicamente por Israel, ou presos arbitrariamente mesmo sendo jovens menores de idade, como ocorreu recentemente com Ahed Tamimi encarcerada por não deixar seus familiares serem presos. Uma política que é inclusive apoiada desde a fundação do Estado de Israel, e aprofundada hoje por Trump, que está alentando abertamente a expansão comandada por Netanyahu contra o povo palestino.

O que Jean Wyllys reivindica como acerto é seu grande erro. “Não adianta me dar lições de um marxismo ancorado em 1917”, afirmou Wyllys em seu post. Chega a ser chocante esse fetiche da ausência de estratégia. É justamente a falta de seu interesse em se debruçar sobre essas valiosas lições que faz com que Wyllys defenda o indefensável: o expansionismo colonialista de Israel. Não haverá paz enquanto o Estado de Israel existir. É preciso defender uma Palestina operária e socialista, não racista e laica sobre todo o seu território histórico. Em que possam conviver em paz novamente árabes e judeus. Em que todos os palestinos tenham garantido o direito ao retorno às suas terras ancestrais.

 
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