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RACISMO INSTITUCIONAL
Absurdo caso de racismo em concurso público de Goiás
Allan Costa
Militante do Grupo de Negros Quilombo Vermelho - Luta negra anticapitalista

No último dia 15, um concurso público na pequena cidade Morrinhos, sul de Goiás, deu mais um exemplo de como a lógica racista está enraizada nas instituições.

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Foto: TV Anhanguera/Reprodução

Não é de hoje que o racismo encontra diversas formas de perpetuar seus valores asquerosos na sociedade. Isso acontece através de meios que vão desde piadas e estereótipos de beleza até a violência policial e a naturalização das condições sub-humanas a que a grande maioria dos negros é submetida hoje no mundo.

A prova do concurso para o cargo de "Fiscal de Posturas" foi feita por mais de 3 mil pessoas e trazia em suas páginas uma proposta de reflexão sobre a "Origem do Racismo", onde listava uma série de afirmações supostamente históricas e religiosas seguidas de alternativas onde todas as possíveis respostas eram escancaradamente racistas. O texto descrevia a ideia formulada século XV por teólogos europeus de que a escravidão seria "natural", baseando-se no trecho bíblico que dizia que Canaã, um dos netos de Noé, havia sido punido com a servidão depois de seu pai ver seu avô nu e embriagado.

Logo após, a prova pedia para apontar qual era a alternativa correta ligada a esse tema. As alternativas, para a revolta de vários candidatos, eram: “negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu”; “negro quando não suja na entrada, suja na saída”; “negro deitado é um porco, e de pé um toco” e "Negro só tem de gente os dentes", sendo que esta última, segundo os organizadores, seria a resposta "correta".

Apesar de a organização do concurso negar que a questão tenha um cunho racista, vários candidatos, dentre eles muitos negros, se sentiram constrangidos e ofendidos com a questão. Uma denúncia foi feita e agora os responsáveis serão chamados para esclarecimentos na Polícia Civil.

Ao mesmo tempo em que usam um argumento bíblico totalmente descontextualizado para explicar a servidão na antiguidade (que nada tinha a ver com a cor da pele), os organizadores demonstram completa falta de crítica histórica sobre a elaboração das teorias racistas como forma de justificativa para a absurda e catastrófica empreitada europeia que escravizou milhões de negros africanos, empreitada essa profundamente ligada com o desenvolvimento do próprio capitalismo moderno. Ou seja, não explicavam a origem do racismo e ainda, pelo contrário, destilaram racismo ao não colocar uma explicação que de fato repudiasse essas teorias racistas.

Em tempos de crise e reformas, fazer um concurso público é para muitos trabalhadores a chance de conseguir um emprego que garanta alguma estabilidade (cada vez mais frágil com a aprovação das reformas). Porém, para a maioria do povo negro que tem seus direitos mais básicos a educação negados, essas provas são um filtro que garantem que a grande maioria não consiga acesso a essa possibilidade. Para os que passam por cima de tudo para tentar, ainda resta ter que se deparar com esse tipo de conteúdo humilhante nas provas.

 
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