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Contra a estética de rebanho
Afonso Machado
Campinas
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O bizarro reinado da cultura capitalista traz um empobrecimento da nossa experiência sensível. O comando externo do mercado arrasta a linguagem para um ato que se repete sempre, como se fosse uma eterna reprise de nossas ações: na cena cotidiana do capitalismo é permitido apenas vender e comprar. Nenhum outro modo de produção na história conseguiu a façanha de homogeneizar sob a aparência de diversidade: a multiplicidade de mercadorias torna na realidade tudo muito parecido... Vestimos, compramos e comemos as mesmas coisas porque é o que a realidade permite. Movimentos gratuitos e atitudes espontâneas são reprimidos pelos estímulos visuais, pelos cheiros e pelos sons que no fundo dizem a mesma coisa: “compre! “. A natureza predatória de um sistema que para seu funcionamento requer exploração, desemprego, competição e guerra, sustenta a miragem da autonomia do indivíduo. Pensar estratégias para colocarmos a cabeça, os braços e o resto do corpo para fora das grades, é um ato que se faz a partir do ponto de vista da classe trabalhadora.

Não se trata de parar de comprar e mudar-se para a lua. A história do capitalismo trouxe conquistas incríveis, gerou produtos prazerosos e libertou os homens da sociedade estamental e dos laços de sangue. Entretanto, a escravidão assalariada impõe a necessidade de ruptura. No fim das contas ninguém quer abolir o refrigerante ou o computador. Não vamos cair em pobreza franciscana ou naqueles argumentos toscos de gente reacionária que diz: “ Você quer o socialismo? Então vá para Cuba ou para o meio do mato passar fome “. O socialismo(internacionalista e livre de deformações burocráticas) deve destruir as formas de exploração e opressão, assimilando as conquistas revolucionárias do capitalismo: o socialismo não traz a fome mas sim a fartura. Do ponto de vista da militância cultural, trata-se de preservar heranças culturais e combater a sociedade da alienação através do potencial político da arte.

O proletário é o sujeito universal proclamado por Marx porque somente ele possui as condições históricas para implodir as barreiras que impedem a emancipação humana. Esta é uma questão que exige resolução política: o movimento operário é a força social que permite sairmos do deserto da história das sociedades divididas em classes e seguirmos no rumo da libertação. Mas o que fazer diante das miragens/ideologia que a classe dominante estabelece ao longo da caminhada? Esta é uma questão política que exige uma resolução dentro da estética: necessitamos cada vez mais de imagens e de formas de comunicação que possam romper com uma cultura empenhada em administrar o humano. O contraponto estético pode deixar as ovelhas inquietas. A arte que informa, agita, destrói signos e desconstrói valores pode fazer com que ovelhas deixem de ser ovelhas para tornarem-se seres humanos.

O sistema capitalista estetizou a tal ponto a vida que a influência ideológica mutiladora das imagens (através de sofisticadas técnicas de manipulação), não poderia sequer ser imaginada por Marx. Ainda assim o Materialismo Histórico é a melhor bússola para a crítica e superação do capitalismo. Armados com a dialética marxista, podemos esboçar tentativas artísticas que mesmo sem apresentar semelhanças obvias com o marxismo, contribuem para acender o interruptor e expor a prisão existencial e a máquina de moer gente que é o capitalismo.
Em uma palavra a arte precisa ser libertária. Não basta ao artista socialista refletir o real, mas sim desconstruir por meio de variadas estratégias estéticas a ideologia dominante. Não somos ovelhas.

 
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