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JUVENTUDE
É preciso um movimento estudantil anticapitalista e independente do PT para derrotar os golpistas
Tatiane Lima
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Nós jovens sentimos na pele a profunda crise econômica, política e social que se desenrolou no nosso país. Sofremos com a maior taxa de desemprego dos últimos 27 anos. E quando conseguimos fugir dessas estatísticas deixamos nossas vidas em postos de trabalho terceirizados ou nas novas formas ultra precárias de emprego, que não permitem alcançar sequer o salário mínimo. Essa é a realidade trazida pela Reforma Trabalhista e que se soma às outras reformas para destruir nosso futuro. Também nossa identidade e sexualidade estão no alvo dos reacionários, nos chamam de doentes, buscam legitimar o estupro e promovem um massacre policial que arranca nossas vidas até dentro das escolas. Dos cortes de investimentos, Reforma do Ensino Médio até a censura do Escola Sem Partido, vemos que cada ataque quer nos fazer pagar pela crise capitalista e que esperemos resignados por uma melhora da situação.

Nas universidades públicas os governos aproveitam a crise com duas medidas combinadas: De um lado, justificam a imensa precarização, vista nos atrasos dos salários, nos cortes de contratações de servidores e de permanência estudantil, que podem chegar à ameaça de fechamento, como mostra a UERJ. Com isso também ameaçam muitos Hospitais Universitários e promovem um grande ataque à saúde da população pobre que utiliza seus serviços, como a luta dos estudantes e trabalhadores do HU da USP denuncia. Por outro lado, buscam implementar a privatização, que vai desde os convênios, que entregam às multinacionais parte significativa das patentes produzidas, chegando até o argumento cada vez mais presente a favor do pagamento de mensalidades. Não sem base de apoio o Banco Mundial emitiu um relatório falando que o Ensino Superior gratuito deve ser revisto. Ambas medidas significam ataques muito profundos que colocam em risco o caráter público do ensino superior, favorecendo o projeto de um dos maiores monopólios de educação do mundo, a Kroton-Anhanguera, que foi antes alimentado pelos “incentivos” dos governos do PT.

São tempos de ofensiva dos capitalistas e seus governos para imporem seu projeto de exploração contra nós, mas não vamos nos resignar. Parte importante das centenas de milhares de jovens que despertaram para a vida política há pouco mais de três anos, quando as Jornadas de Junho abriram uma nova etapa da luta de classes em nosso país, também construiu a greve geral que parou o Brasil no dia 28 de abril deste ano, nós estivemos ao lado dos trabalhadores organizados e fizemos tremer os golpistas. Se hoje a mobilização reflui e os ataques se mostram mais ameaçadores, é o momento de abrirmos um grande debate sobre qual caminho deve a juventude trilhar para derrotar o projeto de país levado adiante pelos golpistas. Esse debate é urgente de ser realizado com todos os coletivos de juventude dirigidos pela esquerda nacionalmente e o primeiro passo é a compreensão de que nas eleições de 2018 toda essa disputa de classes terá eco, mas não poderá ser resolvida nesse terreno, como prega o PT para justificar sua passividade diante dos ataques e seu perdão aos golpistas.

Mesmo não sendo mais governo federal o PT continua seguindo a agenda do Congresso Nacional e sufocando qualquer iniciativa que parta das ruas, escolas, universidades, fábricas etc. Assim fizeram na recente suspensão da greve nacional do dia 5 de dezembro, pela via da CUT que se aliou à Força Sindical e outras centrais golpistas e traiu a disposição de luta dos trabalhadores. O PT valoriza a pressão parlamentar em detrimento da ação organizada e independente dos trabalhadores e jovens. Para esse partido a nossa luta só pode ser auxiliar, para pressionar a acordos por cima, que serão revistos na primeira oportunidade. Em seus governos anteriores iniciou os ataques e fortaleceu a mesma direita conservadora que depois aplicou o golpe, à época sob o mesmo argumento de que era preciso garantir a governabilidade. As caravanas de Lula pelo Nordeste e por Minas Gerais mostraram que essa governabilidade de ontem, assim como a busca de alianças com os políticos mais corruptos do regime e da confiança dos grandes capitalistas, é hoje parte fundamental de manter esse regime político ultra-questionado em pé. Mais que isso, mostraram que um futuro possível governo de Lula apenas serviria para administrar a crise e reformas instaladas às custas da classe trabalhadora.

Essas concepções do PT guiam a direção majoritária da UNE, que é composta pela UJS, Kizomba e Levante Popular da Juventude, e é base para a atuação dessa entidade em diversas universidades. Ao invés de promover a organização das entidades estudantis para derrotar os ataques dos golpistas, nas principais universidades do país esses coletivos disputaram as eleições dos diretórios e centros acadêmicos para ganhar espaços que servirão de comitês de campanha para Lula em 2018, enquanto alimentam o profundo conservadorismo também promovido pelas reitorias contra o movimento estudantil.

Retomando posições nas entidades estudantis, o PT e esses coletivos, seus apoiadores, atuam para controlar o movimento estudantil, se apoiando nessa pressão conservadora que atinge muitas universidades, impondo um limite na luta dos estudantes que é de apenas resistir contra a direita, e por essa via incentivando não a organização direta e democrática dos estudantes, mas, sim, esperar pela via institucional também nas universidades. Buscam espaços por dentro das faculdades e do regime universitário para consolidar um movimento estudantil inofensivo às reitorias e aos governos. Quando na realidade os espaços institucionais deveriam ser sempre posições táticas para fortalecer a luta dos estudantes, sabendo que toda a instituição universitária é contrária à auto-organização dos estudantes e, mais ainda, à aliança que podemos ter como os trabalhadores. Por isso é preciso um programa subversivo em relação à estrutura atual das universidades, ou seja, estarmos nos espaços institucionais que nos é de direito, para agitar um programa por uma universidade a serviço dos trabalhadores e não dos empresários. No caso de algumas universidades como a Unicamp aUJS chegou inclusive a fechar campanha junto a um grupo político que possui membro do MBL- O mesmo que defende o pagamento de mensalidades, é contra cotas e apoia o Escola Sem Partido. Essas práticas não são novidade e sempre foram repudiadas pelos estudantes que protagonizam lutas na universidade. Entretanto ganharam espaço, com esses coletivos ganhando as eleições em importantes DCEs esse ano, como na USP e na Unicamp. Por que ganharam esse espaço? Onde estão os coletivos da esquerda para enfrentar os golpistas com um projeto alternativo à toda a traição de anos do PT?

Nos últimos treze anos, os coletivos de juventude que se formaram a partir de uma crítica aos governos do PT pela esquerda construíram oposições na UNE e espaços do movimento estudantil nacional. Mas, com a virada dos conflitos políticos e a passagem do PT à “oposição”, atualmente essas organizações parecem estar numa crise existencial. O que se vê é um enfraquecimento nacional, a falta de personalidade política frente ao discurso petista e o isolamento desses grupos ligados ao PSOL, ao PCB e ao PSTU. No último 55º Congresso Nacional da UNE ocorrido esse ano, às vésperas da traição feita pelas centrais sindicais petistas à Greve Geral do dia 30 de junho, a Oposição de Esquerda (composta por esses grupos, com exceção do PSTU que segue na ainda mais paralisada ANEL) já expressava pouca diferenciação com o PT, inclusive levando a mesma linha política que a direção da entidade, de defesa das Diretas Já e não da necessidade de tomada da greve nas mãos dos trabalhadores e estudantes para derrotar os golpistas. Essa aliança política com os coletivos petistas se expressou em casos importantes com alguns coletivos do PSOL (MAIS, Juntos e RUA) construindo uma chapa conjunta com Levante Popular da Juventude e UJS para direção do DCE da UNB, com a UJC junto ao Kizomba para o DCE da UFES e na USP, onde buscaram e festejaram apoio do PT para campanha no Centro Acadêmico da Pedagogia.

A crise existencial expressa uma crise estratégica a maior parte das organizações de esquerda assimila o discurso do PT ao invés de desmascará-lo. No máximo alguns setores, como Juntos, Vamos à Luta e PSTU, buscam se diferenciar em alguma medida assimilando também o discurso dos órgãos de repressão do Estado, reproduzindo o discurso da direita conservadora, defendendo os métodos e arbitragens do Judiciário, como se não fossem estes aparatos parte intrínseca desse sistema político corrupto.

É decisivo que diante de ataques tão profundos dos golpistas construamos a mais ampla frente única, que possa movimentar todas as entidades estudantis, junto aos sindicatos e movimentos sociais, para realmente enfrentar os golpistas. Começando por não dar nenhuma trégua a esses golpistas, como vimos mais uma vez no silêncio da direção da UNE, que representa a maior parte dos diretórios e centros acadêmicos que foram retomadas pelas burocracias estudantis. Enquanto diz que é contra a reforma da previdência, a UNE fica em silêncio diante da nova traição das centrais sindicais que cancelou a greve nacional e apoia a política da CUT e CTB. Ao contrário dessa postura, é decisivo que todas as juventudes de organizações de esquerda construam a mais ampla frente única contra as reformas para apoiar a luta dos trabalhadores que se colocam na vanguarda de superar essas burocracias no movimento operário, ao mesmo tempo que denunciamos e exigimos das direções das entidades estudantis que parem a trégua e organizem a luta dos estudantes pela base. Combater a política burocrática dessas direções no movimento será fundamental para construirmos uma verdadeira saída e não confiar no PT que veio trabalhando para os capitalistas nos últimos anos, inclusive concentrando renda e não avançando em direitos democráticos elementares, e têm como plano seguir os salvando ante a crise que eles próprios criaram.

O momento nacional segue as instabilidades internacionais e revela que novas formas de pensar e sentir abrem espaço à projetos audazes, à direita e também à esquerda. É uma questão de sobrevivência que as organizações que se reivindicam socialistas a partir dessa frente única disputem um projeto alternativo de país, que busque responder de fato aos anseios dos que se iludem com o discurso petista e, no que depender desse partido, seguirão vendo suas vidas serem massacradas em nome do lucro. É preciso um programa anticapitalista e revolucionário para enfrentar a direita golpista, assim como disputar o crescente número de jovens que não acreditam mais na manutenção das coisas estão e abrem os ouvidos ao Bolsonaro.

Com esses objetivos é que nós jovens da Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária, do Grupo de Mulheres Pão e Rosas e da agrupação de negros Quilombo Vermelho atuamos nas universidades, escolas e em nossos diversos locais de trabalho. Somos parte da construção do portal Esquerda Diário, que alcançou um milhão de acessos no últimos mês sendo porta voz anticapitalista das lutas e revolta dos trabalhadores, dos jovens e setores oprimidos, contribuindo para a disputa contra os políticos da ordem e os grandes empresários. Em universidades como a USP, Unicamp e UERJ construímos chapas junto a companheiros independentes para disputar os processos eleitorais, nos enfrentando com as burocracias do movimento estudantil e com os projetos reacionários das reitorias e Conselhos Universitários, porque queremos subverter o conhecimento e disputar não somente que as universidades sejam públicas, com um programa para derrotar os monopólios como a Kroton, mas queremos também disputar para quem elas servirão. Os grandes capitalistas, através da institucionalidade e da estrutura de poder dominante que lhes reserva o controle fazem com que as universidades em primeiro lugar lhes sirvam. As utilizam para inovar em tecnologias que aumentam os seus lucros, querem que os arquitetos, engenheiros, médicos, advogados, historiadores e todos os profissionais que formam estejam a serviço de reproduzir esse sistema social que se ergue sobre a exploração de milhões de vidas. Nós queremos lutar pelo contrário, para que sirvam aos interesses dos trabalhadores e da população pobre.

Lançamos neste ano um Manifesto que debate sobre o programa imprescindível à construção de uma fração decidida no movimento estudantil nacional que se coloque ao lado dos trabalhadores para subverter e questionar cada aspecto explorador e opressor dessa sociedade de classes, tomando nas mãos nosso futuro e com o objetivo de fundo de lutar por um governo dos trabalhadores em ruptura com o capitalismo.

 
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