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FEMINICÍDIO
Foi feminicídio: Kelly Cadamuro, não esqueceremos!
Patricia Galvão
Diretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

No dia 1º de novembro, Kelly Cristina Cadamuro foi brutalmente assassinada após uma carona dada ao assassino que premeditou o crime. Foi feminicídio!

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Kelly Cristina tinha apenas 22 anos e participava de um grupo para organizar caronas. Ela saiu de São José do Rio Preto até Itapagipe em Minas Gerais para visitar o noivo. A carona oferecida por Kelly era a princípio para um casal em viagem, mas na verdade tudo não passou de uma emboscada. Kelly foi morta por estrangulamento e ainda não está descartado que tenha sofrido alguma violência sexual. Ela foi encontrada morta dentro de um córrego entre as cidades de Frutal e Itapagibe, em Minas Gerais. Seu assassino é Jonathan Pereira do Prado, de 33 anos que premeditou tudo. Ele estava foragido de uma unidade prisional desde março deste ano.

Diversos grupos da direita usaram a morte de Kelly para criticar ativistas de direitos humanos. Militantes do MBL pedem a pena de morte, o endurecimento do sistema prisional e até que se possa defender tortura e pena de morte na redação do Enem. Porém, não reconhecem o feminicídio e tampouco admitem que o opressão patriarcal é parte de um sistema que se vale da opressão para lucrar com a exploração. Sequer reconhecem as práticas machistas mais elementares.

Jonathan Pereira do Prado está preso e para a polícia trata-se de latrocínio, roubo seguido de morte. Mais dois suspeitos de receptação, Wander Luis Cunha e Daniel Teodoro da Silva também estão presos. Porém, Kelly Cristina foi escolhida por ser mulher. Por isso gritamos: foi feminicídio! Seu assassino viu uma “presa fácil”, uma mulher viajando sozinha. É revoltante sua morte e todas as circunstâncias que a envolvem. E é especialmente revoltante que milhares de mulheres morram todos os anos no Brasil vítimas de feminicídio. A relação intrínseca entre o machismo e o sistema capitalista é evidente quando nesse sistema a vida das mulheres valem menos. Valem menos nas relações de trabalho e por isso são extremamente lucrativas, não à toa as mulheres ganham menos que os homes e são maioria nos trabalhos precários. Valem menos porque tem seus corpos objetificados para vender produtos, vide um mar de propagandas que transformam o corpo da mulher em objeto sexual apenas para vender de carro a cerveja. Assim, estupros e assassinatos são o último elo de uma cadeia de violência na qual as mulheres são submetidas no capitalismo

A direita defende a pena de morte e a tortura é a mesma que promove figuras como Jair Bolsonaro e Alexandre Frota que abertamente fazem apologia a estupros, e defendem que mulheres ganhem menos que homens porque engravidam. É a mesma direita que aplaude Marcos Feliciano, que também foi acusado de estupro, que vocifera contra a comunidade LGBT e contra o direito das mulheres ao controle do seu próprio corpo. Essa mesma direita incentiva ações como em Minas Gerais de um cidadão que quer a retirada do termo feminicídio do código penal porque não reconhece a opressão patriarcal e o machismo mesmo com as estatísticas que apontam que o Brasil é o 5º país com maior índice de violência e morte de mulheres no mundo.

Andrea D’Atri, grande referência do feminismo na Argentina e dirigente nacional do PTS, apontou recentemente sobre um caso de feminicídio em seu país, a enorme luta das mulheres por nem uma a menos e a proposta de aumento das punições “(...) se reduziu o significado de‘opressão patriarcal’ao de‘violência machista’e então, se resignificou aquela definição das condições históricas e sociais da discriminação e subordinação coletiva das mulheres nas sociedades atravessadas pela divisão de classes, exclusivamente como‘violência’. O grupo social que sofre essa violência não é mais do que um grupo formado por vítimas. Vítimas de outro grupo social constituído por agressores. A opressão das mulheres deixa de ser um assunto social, para se transformar em um assunto criminal. O patriarcado, o Estado, o sistema capitalista, a heteronormatividade foram substituídos por um sujeito individual, homem: o agressor”.

A reflexão que nos traz D’Atri busca problematizar a redução da opressão de gênero ao tema da violência e ajuda a refletir como isso termina levando as resoluções a um problema meramente criminal apresentando como saída para as mulheres a busca por mais punição, exigindo que seja o estado capitalista – o mesmo que sustenta a violência – o que tenha um maior poder punitivo. Ou seja, o mesmo estado, capitalista e patriarcal, que legitima, justifica e reproduz a opressão as mulheres não apenas com a violência mas também através da desigualdade salarial, negação de direitos democráticos básicos como o direito ao aborto, da precarização do trabalho, este mesmo estado é o que supostamente poderia garantir justiça através de seus próprios tribunais (com juízes não eleitos por ninguém) se isentando de qualquer responsabilidade.

A dor e revolta dessa morte brutal deve se transformar em luta contra o velho sistema, contra o velho patriarcado. É preciso fazer surgir um mundo novo, parido do ódio e revolta do velho mundo podre capitalista. Um mundo onde a vida das mulheres valha.

Kelly Cristina Cadamuro, presente!
Nem uma a menos!

 
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