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LULA E O PT
A odisseia de Lula: perdoar os golpistas e aliar-se com a direita para 2018
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Existem muitas dúvidas sobre o que fazer para derrotar a direita e os golpistas no Brasil. A agressividade com que a direita trata de trucidar direitos em praticamente todas as esferas da vida econômica e política de milhões de pessoas é, em particular, quase um pressuposto para depositar – ainda que a contragosto – as esperanças em Lula.

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De fato, Lula e o PT agem utilizando esses ataques como a principal “campanha eleitoral” que poderia ser feita a seu favor: muito longe de enfrentá-los, o PT se beneficia passivamente dos efeitos terríveis que os ajustes têm sobre a população trabalhadora.

Como dissemos no Esquerda Diário, é uma prioridade para nós o enfrentamento com os golpistas em cada local de trabalho e estudo. Sabemos que, apesar da conjuntura reacionária e do cenário eleitoral que se avizinha em 2018, a luta de classes é que decidirá os limites de até onde chegará o governo golpista de Temer. Mas, se formos inclusive pensar o enfrentamento com a direita “nas urnas”, uma pergunta é incontornável: é possível derrotar os golpistas ao lado de um PT que abriu caminho a eles e agora diz que os perdoa?

Veja também: Mal maior, mal menor e “resistências”: um diálogo sobre o papel de Lula e do PT

"Estou perdoando os golpistas que fizeram essa desgraça no país", disse Lula durante o encerramento de sua caravana por Minas Gerais (em referência a Juscelino Kubitschek, que perdoava os militares após tentativas de derrubá-lo).

Esse perdão de Lula aos inimigos mortais de dezenas de milhões de trabalhadores não impede que os “perdoados” sigam devastando os direitos sociais, políticos e trabalhistas da população. Os golpistas não perdoam os trabalhadores. Temer, agraciado com a clemência de Lula, colocou todas as empresas mistas do país à venda (o que engloba a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Eletrobrás já na mira, o Banco do Nordeste).

Lula, Dilma e Pimentel em BH: perdoando os golpistas

O agraciamento do perdão lulista aos golpistas – mais uma vez: isso seria “enfrentar a direita”? – tem duas funções declaradas: a primeira, reaproximar-se do PMDB, especialmente dos caciques peemedebistas nordestinos, sem os quais, segundo Lula, seria impossível governar; em segundo lugar, reconquistar a confiança dos empresários e capitalistas que apoiaram com altas somas de dinheiro o golpe institucional de 2016. Esses foram os objetivos principais das caravanas pelo Nordeste e por Minas Gerais.

Acordos com os políticos golpistas

Há reconciliações que sequer aguardam o perdão. Antes mesmo das declarações de Lula em Belo Horizonte, o PT anunciava seu retorno à base do governador Renan Filho do PMDB de Alagoas (filho de Renan Calheiros, ver nesta matéria da Folha de S. Paulo). Lula, em sua caravana pelo Nordeste, já havia abençoado o projeto do PT alagoano. E se trata apenas do início: no Ceará, o senador Eunício Oliveira (PMDB) negocia com o governador Camilo Santana (PT), de quem era adversário, e afirmou ser "eleitor de Lula" caso seu partido não tenha candidato próprio. No Piauí, o PMDB entrou na base aliada do governador Wellington Dias (PT). Os dois partidos também se unem em Sergipe, onde o PT faz parte da gestão do governador Jackson Barreto (PMDB).

Em Minas Gerais, Lula também assumiu a intenção de incorporar acordos com partidos golpistas que fazem parte da base do governo de Fernando Pimentel (PP, PMDB, PRB, e semelhantes).

O perdão se torna justifica nas palavras de Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo, um dos políticos do PT mais próximos de Lula (foi seu ex-ministro do Trabalho e da Previdência). Segundo Marinho, “o PT deve permitir aliança com partidos que apoiaram o golpe” (ver entrevista aqui).

Veja, nós temos que recuperar bases. A maioria do povo também apoiou o impeachment e nós queremos recuperar a maioria do povo. Vamos precisar de uma grande aliança para governar, no Congresso. [...] O PMDB nunca foi um partido nacional, sempre foi uma federação de caciques nos Estados. Então vai depender do posicionamento do partido em cada Estado”.

Como autorizado portavoz da política petista, Marinho deixa claro que as alianças do PT com a direita atravessarão todo o país. O perdão não redime os pecados: como derrotar a direita, inclusive nas urnas, com a mesma política de conciliação com a direita que nos levou ao golpe institucional? Alguns perguntarão: mas o PT não se referiu a “recuperar bases na maioria do povo?”

“Embora seja loucura, há método nisso”: por “maioria do povo” o PT não se refere aos milhões que se opõem as reformas e privatizações implementadas a partir do golpe, ao PMDB e as outras siglas da direita que destroem os direitos; o PT se refere aos empresários e grandes capitalistas do país cuja confiança querem recuperar.

O PT busca provar-se o melhor gestor dos interesses empresariais

Na caravana por Minas Gerais, Lula se colocou à disposição dos interesses dos empresários da Coteminas e da Kroton Educação, o maior monopólio privado da educação no mundo. Não admira que o deputado Andrés Sanchez (PT-SP) tenha proposto o pagamento de mensalidades nas universidades públicas.

Através da Coteminas e da Kroton, Lula tenta tecer boas relações com empresários rompidos com o petismo na Confederação Nacional da Indústria e na FIESP. Outro sinal de “bandeira branca” para os empresários golpistas é que toda menção a um hipotético referendo revogatório menciona a PEC 55, mas nunca os interesses que realmente tocam os empresários: a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita, mantendo-os intocáveis. O perdão se estende aos principais ataques dos golpistas.

Esse renovado pacto com os empresários aparece no plano da luta de classes: as centrais sindicais ligadas ao PT, a CUT e a CTB, garantem a “paz social” nas fábricas, empresas e locais de serviço, esforçando-se a provar seu valor na contenção de qualquer tentativa de resistência contra o golpe e o empresariado: a reforma trabalhista foi votada sem que essa burocracia sindical movesse um dedo para organizar o enfrentamento às medidas de Temer. O perdão do PT às atrocidades capitalistas em cada fábrica é permanente e inquestionável.

Esse conjunto esboça os traços de uma nova Carta ao Povo Brasileiro por parte de Lula (ao “povo das finanças e das empresas”, seria mais preciso).

Que fazer?

Poderíamos retornar à pergunta inicial: é possível derrotar os golpistas ao lado de um PT que abriu caminho à direita, diz que a perdoa e já trava novos acordos com golpistas? Essa conduta vai na contramão do ódio de milhões contra os gestores do golpe institucional, que envolvem o PSDB, o PP, e a direita mais reacionária ligada às bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala.

Inclusive ao nível eleitoral, a direita ficará intacta com a política proposta por Lula e o PT: novos Malufs, Cunhas, Felicianos e Levys, cartas de submissão aos banqueiros e bancadas reacionárias pavimentam o caminho de uma estratégia do “mal menor” que leva, diretamente, ao “mal maior”.

O PT perdoa os golpistas e busca preservar os direitos de exploração dos capitalistas, quando a tarefa é justamente a oposta: construir uma grande força política anticapitalista, para enfrentar a direita e os empresários

É natural que as pessoas, e nossos leitores, estejam preocupados com as eleições de 2018. Mas achamos que estes fatos merecem ser debatidos conscientemente. A raiva de milhões de pessoas contra a direita (e seus portavozes eleitorais como Bolsonaro, Dória, Luciano Huck, entre outros) pode ser canalizada na construção de uma alternativa política anticapitalista dos trabalhadores, que longe de perdoar os golpistas seja implacável contra eles, ataque seus interesses e questione o conjunto do regime político apodrecido de 1988. Para isso propomos impor pela luta uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que questione todas as regras do jogo, tornando todos os políticos e juízes elegíveis e revogáveis, e recebendo o mesmo salário que um trabalhador de qualificação média, além da expropriação sem indenização de todos os bens dos empresários envolvidos em corrupção, que deveriam colocar-se sob controle dos trabalhadores.

Todas as lutas em curso, especialmente as greve do Rio Grande do Sul, mostram que os trabalhadores não estão em sintonia com o perdão aos golpistas proposto por Lula. São indício saudável de que podemos construir no Brasil uma alternativa anticapitalista à esquerda e independente do PT, nos moldes da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina, que com forte inserção na classe trabalhadora colheu mais de 1,2 milhão de votos com um programa de independência de classe.

Veja aqui: Quem é a Frente de Esquerda que se fortalece na Argentina?

São ideias que podem conquistar força material em nosso país, e que colocamos para debate em toda a esquerda.

 
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