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DOSSIÊ DIA DOS PROFESSORES
A educação nos primeiros anos da Revolução Russa 
Mauro Sala
Campinas
Tatiana Ramos Malacarne

Nos primeiros anos da Revolução Russa os revolucionários se debruçaram em discutir um programa e um cúrriculo que atendesse as demandas da classe trabalhadora e da nova sociedade que estava se formando, rompendo com os valores burgueses que até então predominavam no ensino.

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Logo após a Revolução Russa, ainda no mês de outubro de 1917, os revolucionários bolcheviques começaram a elaborar um plano para a educação que rompesse com o Antigo Regime e com os valores burgueses e fosse parte integrante do projeto de construção de uma sociedade plena.
 
Todo acúmulo de conhecimento humano era, até então, monopólio da burguesia e da nobreza. Na Rússia, somente uma parcela minoritária, filhos da elite tzarista e da burguesia, tinha acesso a uma educação de qualidade. Contudo, a maioria das pessoas carecia de cultura e letramento, seguindo no analfabetismo mais profundo, sobretudo no campo, onde vivia a maior parte da população.
 
Os revolucionários tinham, então, uma dupla função no campo da educação: acabar com o monopólio das elites sobre o acesso ao conhecimento sistematizado e acumulado pela humanidade e destruir, desde a raiz, os valores e práticas burguesas e tzaristas até então dominantes nas escolas. Para tal tarefa, criaram um Comissariado do Povo para a Educação, que ficou conhecido como Narkompros.
 
Esse comissariado, que ficou a cargo de Anatoli.V. Lunacharski, teve a importante contribuição de Nadezhda K. Krupskaya, uma das principais idealizadoras do currículo que seria destinado para emancipação da classe trabalhadora. Ela assumiu essa tarefa primeiro como vice-comissária do Narkompros e, em 1921, assumindo a liderança pela Sessão Pedagógica da Comissão Científica e Estatal, onde ficou responsável, entre outras coisas, pela elaboração dos currículos e dos programas escolares.

Lenin e Krupskaya, 1920.

O Narkompros defendia uma educação politécnica, ou seja, uma educação voltada para um ensino multilateral da juventude. Desta forma os alunos tinham oportunidades de realizar não apenas vários ofícios com a finalidade de escolher no futuro uma especialização, mas também de conhecerem os fundamentos técnicos, científicos e sociais do próprio processo de produção. No entanto, é importante ressaltar que os revolucionários não educavam somente para o futuro, como na sociedade capitalista. A educação era voltada também para as tarefas cotidianas da revolução.

Em 1918, instituíram uma declaração sobre os princípios da escola única do trabalho, que defendia que a escola deveria ser gratuita e obrigatória: nenhuma criança na URSS deveria estar fora da escola. Foi considerada única porque todo o sistema de ensino, do jardim da infância até as universidades, constituíam uma única escola. Isso significa que todos os alunos frequentariam o mesmo tipo de escola, sem distinção de sexo ou origem social, como acontecia no governo tzarista que oferecia um ensino precário (ou nenhum ensino) para os filhos dos camponeses e operários e um ensino diferenciado e de qualidade para os filhos da burguesia e da elite tzarista. O estado soviético seria responsável pela construção, manutenção e por todos os gastos dessa escola.

Para os revolucionários, a educação era fundamental para a construção de uma sociedade sem classes. Ainda que os iluministas tivessem defendido no século XVIII a universalização do ensino, a escola jamais foi única, sendo diferenciada segundo as classes e a divisão social e hierárquica do trabalho. A educação para a classe trabalhadora sempre foi diferente da burguesia e demais estratos das elites, estes últimos sempre tiveram uma formação voltada para se tornarem dirigentes. Ao contrário desta prática de educação que intensifica a divisão das classes sociais, os revolucionários estavam partindo de ideais marxistas em construir uma nova sociedade, livre da exploração e da opressão em que o livre desenvolvimento de cada um fosse a condição para o livre desenvolvimento de todos. O ensino defendido pelos revolucionários deveria colocar o indivíduo tanto em contato com os conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos como fornecer aos jovens uma capacidade conscienciosa de trabalho e de auto-direção. Os alunos deveriam sair da escola plenos, dominando tantos os conhecimentos acumulados pela humanidade quanto sabendo trabalhar e organizar a produção.
 
Assim, o programa revolucionário, rompendo com a separação entre concepção e execução do trabalho como mercadoria, deixou um grande legado para a humanidade, reconhecendo tanto a importância do trabalho, uma vez que o trabalho é inerente a existência humana, independente da sociedade e do período histórico em que se vive, quanto dos conhecimentos teóricos. Assim, os jovens trabalhadores não eram privados de todo acúmulo cultural e científico produzido pela humanidade.

O sentido da politecnia e da auto-organização foram os guias do projeto educacional nos primeiros anos de existência do estado operário na URSS. Contudo, com a ascensão de Stálin ao poder, ocorreu um enorme retrocesso, sendo recolocado, no lugar do ensino politécnico, a formação voltada à profissionalização, acentuando novamente características de uma formação especializada, o que significou um imenso passo atrás na ideia de formação omnilateral defendida nos primeiros anos da revolução. O recuo da politecnia para a especialização profissional foi o passo dado na educação soviética condizente com o processo de burocratização do estado promovido pelo stalinismo.

Bibliografia
KRUPSKAYA, Nadezhda K. A construção da pedagogia socialista: escritos selecionados. São Paulo: Expressão Popular, 2017.

 
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