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DOSSIÊ DIA DOS PROFESSORES
Professores, a batalha contra a Escola sem Partido é nossa luta!
Vanessa Oliveira
Professora do ABC
Kelly F. Alonso
Professora da rede pública de São Paulo
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O Programa Escola sem Partido, ou apenas Escola sem Partido, é um movimento político criado em 2004 no Brasil e divulgado em todo o país pelo advogado Miguel Nagib, que o criou em 2003, mas que tem ganhado muito mais visibilidade desde 2015, após o ingresso de movimentos sociais e partidos políticos que apoiam o projeto.

Nesse ano, o deputado estadual do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PSC), pediu para que Miguel escrevesse um anteprojeto de lei. O texto foi, então, apresentado pelo filho do deputado federal Jair Bolsonaro na Assembleia Estadual do Rio de Janeiro. O líder do movimento fez uma versão municipal que foi apresentada pelo outro irmão da família, Carlos Bolsonaro, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Hoje os principais apoiadores desse projeto são: MBL (Movimento Brasil Livre), DEM, PSDB, PMDB, PP, PSC e PR onde a maioria dos deputados e vereadores se dizem cristãos (evangélicos e católicos) e propagam ideias que em nada tem a ver com o sentido atribuído a escola, e muito menos ao que significa trabalho educativo.

Ao entendermos o real sentido da escola e sua relação com o ato de educar, o primeiro equívoco do projeto é tornar o professor “neutro” diante de sua prática docente. Conforme mencionado no projeto, o professor não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais, religiosas, políticas e partidárias.

Se compreendermos o real sentido do conhecimento científico o qual devemos ensinar, sabemos que é impossível essa neutralidade, pois o conhecimento que deve ser adquirido na escola, parte de teorias científicas que foram pensadas e refletidas por grandes intelectuais que contribuíram e ainda contribuem com seus conteúdos para o processo de aprendizagem dos alunos.

Mas, para além dos conhecimentos científicos, o professor tem um compromisso social em relação a sua prática docente, inclusive nos documentos educacionais oficiais, os quais pontuam que cabe ao docente o papel de promover uma educação integral cujo objetivo é atingir valores atitudinais, procedimentais e factuais, ou seja, uma prática pedagógica integral que busque a riqueza das reflexões cotidianas e que integrem nos fatos e vivências desse cotidiano as ações e atitudes tomadas por seus alunos.

Diante de uma sociedade desigual, conseguiria um professor não tratar da realidade? Um professor, ao invés de promover atitudes que levem seus alunos a criar um senso crítico que respeite o outro, deve ensinar a julgar o outro ou se calar diante do julgamento? Limitando-o a pensar sem questionar o que está a sua volta? O professor deve ficar neutro diante de casos de racismo? De LGBTfobia? Intolerância religiosa? Não poderá falar da sociedade desigual que vive muitas vezes junto a seus alunos? E das contradições existentes no cotidiano da vida de milhares de pessoas? Que prática pedagógica eficaz é essa que não se utiliza das relações sociais, econômicas, politicas e culturais para avançar?

Historicamente, sabemos que a população só conquistou inúmeros direitos lutando por eles, e não se calando e esperando as decisões de quem está no poder, ou seja, venceram fazendo política, exercitando seu poder de cidadão, e é isso que o projeto quer tirar de nós, professores e alunos.

É lamentável a ideia de tornar os alunos seres apolíticos, pois, se buscarmos o significado da palavra político (politikós do grego= cidadão, relativo a questões públicas da cidade), ele em nada tem a ver com os partidos políticos da ordem. Ora, se fazemos parte de uma sociedade onde ela interfere em nossas vidas, e nós na dela, fazemos política o tempo todo!

Os idealizadores do projeto, no entanto, querem o oposto, querem o silêncio dos alunos e até os ridicularizam chamando-os de seres incapazes de pensar por si só. Diante de tantos avanços e estudos relacionados às teorias da aprendizagem será que poderíamos considerar os alunos do século XXI como tábulas rasas? Certamente Comenius, Montessori, Rosseau, Piaget e Vigotsky diriam que não! Mas um advogado e alguns seguidores que nunca estudaram sobre educação afirmam que sim, e propagandeiam ideias deturpadas sobre o papel da educação escolar, pautados em um discurso de cunho religioso e que usa de muito sensacionalismo e senso comum para confundir a cabeça dos membros da comunidade escolar.

O que defendemos como Professores do Nossa Classe Educação diante dessas reflexões?

Nossa corrente defende uma escola pública e laica com educação de qualidade, e que acima de tudo reconheça a importância de seus alunos diante da sociedade vivida e não os trate como idiotas (Do grego IDIOS = indivíduo que não participa da vida política/coletiva). Onde, através de um ensino atrelado a conhecimentos científicos, nossos alunos sejam livres e capazes de criar uma consciência crítica para construir e modificar sua história e da sociedade que o cerca. Queremos que nossos alunos cresçam, questionem e atuem diretamente no mundo em que vivemos hoje para transformá-lo! Pois, ao contrário do que os líderes desse projeto dizem, com um ensino plural, certamente doutrinação é o que nossos alunos menos irão aceitar, principalmente diante de uma educação que se proponha emancipadora e não ceifadora de pensamentos.

foto: Fernando Moraes/Folhapress

 
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