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CATALUNHA
Catalunha: a guerra econômica dos bancos e um programa operário para combatê-la
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A luta pelo direito à autodeterminação da Catalunha, cuja população - apesar da repressão brutal do governo de Madri - votou massivamente pela constituição de um estado independente no último 1º de outubro, ficou ainda mais forte depois da greve geral que paralisou a Catalunha no dia 3/10, recebendo solidariedade em diversas outras regiões do Estado espanhol.

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A luta pelo direito à autodeterminação da Catalunha, cuja população - apesar da repressão brutal do governo de Madri - votou massivamente pela constituição de um estado independente no último 1º de outubro, ficou ainda mais forte depois da greve geral que paralisou a Catalunha no dia 3/10, recebendo solidariedade em diversas outras regiões do Estado espanhol.

Ver aqui: A greve catalã recebe solidariedade no restante do Estado Espanhol

Este processo democrático elementar do povo catalão é temido pelos capitalistas e pelas grandes finanças do Estado espanhol: a Catalunha representa 19% do PIB de todo o Estado, e quase 16% da população total (para ter uma ideia, a Escócia, país que realizou um referendo em 2014 para sair do Reino Unido, representa apenas 8% do PIB da Grã-Bretanha).

A Catalunha é a comunidade com maior participação industrial no PIB do Estado espanhol, 18,9% segundo pesquisa de 2015 (concentra indústrias de transformação, têxtil, química, automóvel e agroindustrial). Suas exportações representam mais de 25% do total do Estado (a indústria química aporta 26,2%, o sector automobilístico, 16% e os bens e equipamentos, 12%). Além disso, é o principal destino turístico do país, tendo Barcelona como sua capital.

Dessa forma, não é em vão que o governo madrilenho, sustentado pelas grandes finanças espanholas, e os maiores capitalistas do país se opõem aos resultados do referendo. Querem preservar seus lucros nessa que é uma das comunidades mais importantes para a economia espanhola, em grave crise desde o estouro da crise econômica em 2008.

Para isso farão de tudo, e os grandes bancos fizeram o primeiro movimento. Segundo o ElPais, neste dia 5/10 o Banco Sabadell, quinto maior banco do Estado e com sede na Catalunha, aprovou a transferência de sua sede para a região de Alicante. Para estimular esta fuga de capitais, o governo central discutirá a aprovação de uma lei que permite a saída de empresas da Catalunha sem necessidade de reunir a junta de acionistas.

Isto significa que o CaixaBank, terceiro maior banco do Estado espanhol, também poderá transferir sua sede da Catalunha para outro lugar (o Sabadell não precisa dessa legislação central para já aprovar sua saída, por sua própria regulação interna). Outras empresas já indicaram que participarão da campanha de terror contra o referendo, retirando suas sedes da Catalunha: a biotecnológica Oryzon, a teleoperadora Eurona e o grupo odontológico Proclinic Expert anunciaram que vão se transferir a Madri. O grupo Catalana Occidente também "estuda sair" da comunidade catalã.

A guerra econômica contra a vontade de milhões de catalães pela independência

Trata-se de fato de uma verdadeira guerra econômica dos grandes grupos capitalistas contra a vontade majoritária de milhões de catalães, 90% dos quais votou favoravelmente pela constituição de um estado independente. Esse movimento é acompanhado pela decisão do governo de Madri de anular a sessão do Parlamento da Catalunha que colocaria em pauta a decisão do referendo.

Não apenas o governo de Mariano Rajoy, apoiado pelo PSOE (Partido Socialista Operário da Espanha), que foi responsável por duros planos de ajuste antes do governo atual, além de todos os partidos tradicionais do Regime de 78; mas também a União Europeia do grande capital - a mesma que esmagou o povo grego através da capitulação e traição do Syriza em junho de 2015 - quer afogar este processo independentista.

Vídeo do IzquierdaDiario.es, parte da rede internacional Esquerda Diario

Naquele momento, em outras circunstâncias, 62% dos gregos havia votado contra os planos de ajuste da troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI), desafiando os ditames da Alemanha. Os bancos e instituições financeiras, para usar a campanha de terror, iniciaram também uma fuga de capitais da Grécia. Isso fez mais rapidamente dobrar os joelhos do primeiro ministro do Syriza, Alexis Tsipras, que contrariou a vontade da imensa maioria dos gregos e se tornou então o aplicador dos ajustes impostos por Berlim.

Apoiado pela UE e suas principais instituições financeiras, esta chantagem aberta contra o povo catalão é "moeda corrente" na política imperialista. A confiança na UE por parte das direções independentistas catalãs - ligadas tradicionalmente aos principais capitalistas da Catalunha - como Carles Puigdemont e o bloco parlamentar Junts Pel Sí (Partido Democrático da Catalunha, Esquerda Republicana da Catalunha, etc.), não pode resultar em nenhuma saída progressista para a população: são defensores da propriedade privada, e não dos interesses da população trabalhadora que quer efetivar seu direito à autodeterminação.

É preciso atacar os direitos de propriedade dos capitalistas

Assim como na Grécia em 2015, não há possibilidade de derrotar estas chantagens dos grandes grupos capitalistas espanhóis sem atacar seus direitos de propriedade, seus títulos e privilégios. O bloqueio das grandes contas bancárias, e especialmente a luta pela nacionalização, sob controle dos trabalhadores, de todos os bancos e empresas que anunciarem medidas para deixar a Catalunha, está na ordem do dia para os trabalhadores catalães e de todo o Estado espanhol. Estes devem ser passos imediatos para alcançar a nacionalização de todo o sistema financeiro sob controle dos trabalhadores.

Ver também: A autodeterminação da Catalunha, marxismo e revolução

Contra a guerra econômica, os trabalhadores bancários podem cumprir um grande papel, organizados para controlar os movimentos financeiros e bloquear qualquer medida como a fuga de capitais que Sabadell e CaixaBank anunciam fazer. Isto prepararia as condições materiais para o controle operário destes fundos financeiros, para quebrar a vontade dos capitalistas e colocar estes recursos a serviço da população.

Da mesma forma os estivadores e trabalhadores dos portos, que tem um papel importantíssimo na Catalunha (pelo montante das exportações) e que foram protagonistas da defesa dos colégios eleitorais contra a repressão da Guarda Nacional de Madri durante o referendo. O controle dos portos e do fluxo dos navios poderia antecipar o monopólio do comércio exterior.

É claro que estas medidas não poderiam ser tomadas pelas direções atuais do processo catalão, defensoras do capitalismo e das grandes famílias empresariais. A auto-organização dos trabalhadores deve colocar em cena uma direção operária e independente dos políticos capitalistas, que hoje defendem a constituição de um estado catalão nos moldes da Áustria ou da Holanda, respeitando as leis da União Europeia. A via eleita por Puigdemont, presidente do governo catalão, quer uma Catalunha capitalista que seja herdeira do mesmo podre regime de 78 e da monarquia espanhola.

O Podemos e Izquierda Unida defendem um programa imaginário: são "favoráveis" ao direito de decidir do povo catalão, desde que o referendo se dê "em acordo com o governo de Madri". Isso equivale a na prática negar o direito à autodeterminação da Catalunha.

Ver aqui: Que a classe operária encabece a luta do povo catalão

Contra isso, é necessário batalhar por uma Catalunha independente, operária e socialista, que rechace a tutela e as leis imperialistas da União Europeia, e desencadeie um grande processo de luta por uma federação de repúblicas socialistas ibéricas, a caminho da constituição de uma federação de repúblicas socialistas de toda a Europa.

Para que haja uma profunda luta contra o Regime de 78, a monarquia, os grandes bancos e a patronal, a classe trabalhadora e os setores populares precisam estar à frente desta luta democrática, como foi na greve geral do dia 3 de Outubro. A organização irmã do MRT no Estado espanhol, a Corrente Revolucionária de Trabalhadores (CRT) que impulsiona o IzquierdaDiario.es, batalha no movimento operário, das mulheres e da juventude por este programa e esta estratégia, pela constituição de uma república socialista dos trabalhadores na Catalunha.

Salvador Lou, trabalhador em Barcelona e dirigente da CRT

 
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