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ARTE
Arte e transgressão
Afonso Machado
Campinas

O artista, quando mira sua obra contra os valores estabelecidos, também coloca em questão os fundamentos econômicos da realidade. A violência da arte torna-se uma defesa da vida negada pelo status quo. Os conservadores sentem medo porque sabem que a explosão vai chegar; e tal explosão é prenunciada através de cores, palavras, gestos e sons.

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Tem muita gente morrendo de medo da arte que se faz hoje no Brasil. A explicação histórica para o clima de paranoia, para a possível desforra dos caretas amantes dos censores, deve ser encontrada na dialética da cultura. O conservadorismo que nos planos nacional e internacional torna o pensamento rarefeito, sufoca/reprime as energias da criação. Atualmente qualquer artista brasileiro minimamente fiel a si mesmo, é transformado numa panela de pressão: intolerância religiosa, ódio voltado contra as minorias, a ameaça de destruição dos direitos dos trabalhadores, a paixão pelo autoritarismo e o perfil decadente de uma direita caduca, são componentes que impulsionam a rebelião do corpo reprimido.

Quem fecha os olhos para um contexto hostil à criação, não pode ser chamado de artista: no máximo pode ser considerado alguém que enfeita a realidade, que faz uma decoração especial para seu próprio ego. Para além da estética do umbigo e do cimento usado pela indústria cultural (cujo objetivo político é o de colar o tempo do trabalho com o tempo livre do trabalhador), existe a arte que exterioriza o desejo de libertação: é o protesto que se volta contra o controle do corpo usado como instrumento para enriquecer os capitalistas. Mesmo que não tenha uma compreensão exata da organização política da sociedade, o artista quando mira sua obra contra os valores estabelecidos, também coloca em questão os fundamentos econômicos da realidade. A violência da arte torna-se uma defesa da vida negada pelo status quo. Os conservadores sentem medo porque sabem que a explosão vai chegar; e tal explosão é prenunciada através de cores, palavras, gestos e sons.

A arte pode ser transgressora devido ao fato da experiência estética estar historicamente ligada à transgressão. Ou seja, criar é transgredir na medida em que “o novo “ renomeia aquilo que antes foi determinado pelos padrões estabelecidos(e seja antes ou durante o acirramento da luta de classes, a arte muitas vezes aponta para a necessidade de uma outra sociedade). O conflito simbólico existe porque o enraizamento da ideologia dominante na cultura, procura colocar “ tudo no seu devido lugar “. A linguagem, o conjunto das formas de representação, são historicamente usados pelas classes dominantes para dizer até onde alguém pode ir: o belo e o feio, o bom gosto e o mau gosto, o sagrado e o profano, “ coisa de menino “ e “ coisa de menina “, o alto e o baixo, o sonho e a vigília, a lucidez e a loucura, são polaridades que inibem a ação, que mutilam a consciência e controlam nossa experiência corpórea. Em épocas de crise, a arte tende a subverter este estado de coisas.

Criar/ representar/expressar, tornaram-se atualmente no país condições para o ataque moralista, para a evocação dos tabus que na prática sempre serviram para conter as potencialidades revolucionárias da cultura. As obras de arte/manifestações artísticas são colocadas como algo fora da lei quando elas revelam que as convenções sociais não atendem aos interesses/desejos de todos. Entretanto, nem toda obra de arte transgressora é necessariamente progressista: muitas vezes a arte pode sob um véu de ousadia ser portadora de ideias reacionárias. Pois muito bem, como podemos proceder? O que diferencia nossa atitude da atitude de um direitista raivoso na recepção de uma obra de arte?

O caráter conservador e o caráter contestador de uma obra de arte são aspectos que devem justificar ou não a sua existência? Se a direita tende a proibir, massacrar, marginalizar e moralizar, a esquerda deve antes de tudo assegurar a existência de toda e qualquer manifestação artística: o debate e a análise são os únicos termômetros possíveis para se discutir e pensar a arte. São estes termômetros que possibilitam a reflexão sobre os significados de uma obra; e é esta discussão que precisa ser levada para a população. Para um marxista, uma obra de arte que expressa os interesses de grupos conservadores e da classe dominante, não pode ser censurada mas sim estudada/debatida. Esta deve ser uma diferença fundamental entre a esquerda e a direita em relação à arte!

Os artistas que realmente aspiram a liberdade, que reivindicam um outro princípio de realidade, aproximam-se naturalmente do campo político da esquerda. A esquerda não pode em hipótese alguma controlar o trabalho destes artistas: a esquerda sabe que a liberdade criadora é um pressuposto da luta pelo socialismo.

 
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