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TERCEIRIZAÇÃO
Ameaça e discriminação contra terceirizados na Faculdade de Odontologia da USP
Redação

Por ordem da administração da Faculdade as trabalhadoras terceirizadas foram proibidas de utilizar a Copa da Clínica para almoçar e tomar café, de usufruir das pontes de feriados e do recesso de fim de ano, proibidas de sentar nos bancos da Faculdade pra descansar, fumar um cigarro ou tomar um sol e obrigadas a permanecer longe da vista das pessoas, de cabeça baixa e sem conversar com professores, estudantes e demais funcionários com ameaça de punição.

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Essa semana, a Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP) foi surpreendida com mais uma escandalosa discriminação contra os trabalhadores terceirizados. Sem qualquer alegação plausível e por ordem da administração da Faculdade, as trabalhadoras terceirizadas foram proibidas de utilizar a Copa da Clínica para almoçar e tomar café, pois “só poderiam entrar lá pra limpar”; foram proibidas de fumar cigarro em seus momentos de descanso “em lugares visíveis”; foram impedidas de usufruir das pontes de feriados e do recesso de fim de ano, mesmo toda a Faculdade não tendo expediente e trabalho; e ameaçadas com punição caso conversassem com os funcionários efetivos, professores e estudantes da Faculdade.

Não é a primeira vez que setores da administração desta unidade de ensino da USP utilizam de uma atitude evidentemente discriminatória contra os trabalhadores terceirizados – compostos em sua maioria por mulheres negras. Há pouco mais de um ano o Supervisor da Clínica Odontológica havia proibido as trabalhadoras terceirizadas de utilizarem a Copa. A alegação na época era de que “elas entravam em bando na Copa”, “falavam muito alto” e “atrapalhavam o almoço dos funcionários da Faculdade”.

Nessa época foi feito um abaixo-assinado pelos funcionários efetivos da Clínica Odontológica repudiando essa discriminação que tentava colocar funcionários terceirizados contra efetivos. Após o abaixo-assinado, a Supervisão da Clínica retrocedeu dessa atitude preconceituosa.

Porém, agora, um ano depois, setores da administração desta Faculdade voltam a expressar todo o seu preconceito contra estes trabalhadores. Não basta elas ganharem um salário de míseros R$ 980,00 enquanto se expõe ao risco de inúmeras doenças na limpeza de clínicas e de banheiros. Agora elas não podem mais utilizar os espaços de uso comum dos funcionários e professores, como as Copas, sequer pra esquentar sua marmita, passar um café ou descansar durante o intervalo do almoço. Não podem mais se sentar nos bancos da Faculdade pra fumar um cigarro ou tomar um sol, mas devem ficar longe da vista das pessoas, de cabeça baixa e fora dos ambientes frequentados pela comunidade acadêmica.

As mesmas trabalhadoras que garantem cotidianamente que as clínicas estejam em plenas condições para o atendimento; que chegam nessa Faculdade às 5 horas da manhã e saem as 22 horas da noite pra garantir que cada sala de aula e cada laboratório estejam limpos pras aulas do dia e do dia seguinte; que limpam sala por sala dos professores, dia após dia; que recolhem os lixos, limpam os banheiros uma, duas, três vezes por dia; varrem os corredores, salões, anfiteatros e pátios; passam o pano, enceram, lavam janelas, vidros e pisos... A estas mulheres e homens que se desdobram em dois e três pra garantir a limpeza e o funcionamento dessa enorme Faculdade está sendo proibido levantar a cabeça e olhar para aqueles que pisam no chão que elas enceram, de usar da Copa que elas lavam, de sentar nas cadeiras e bancos que elas limpam!

Cada departamento desta Faculdade – assim como a Clínica Odontológica, a Administração e a Biblioteca – possui os seus banheiros, vestiários e Copas. E ninguém, seja estudante, funcionário efetivo ou professor – mesmo que visitante –, sofre qualquer discriminação ou preconceito em utilizar esses espaços. O que diferencia os trabalhadores terceirizados dos demais membros da comunidade acadêmica dessa Universidade? Seria a origem social ou a cor de pele da maioria? Seria devido à posição ocupada na divisão de trabalho? Não existe justificativa plausível pra proibir um grupo de pessoas a terem os mesmos direitos dos demais que não seja baseado no claro preconceito racial e social.

Adriano Favarin, Diretor do Sindicato de Trabalhadores da USP e membro da Congregação da Faculdade de Odontologia repudiou o ocorrido “é inadmissível que qualquer trabalhador seja discriminado dessa forma. Ainda mais absurdo são essas humilhações partirem de dentro de uma Instituição de ensino, a Universidade. Acredito que quando professores, funcionários e estudantes souberem dessa barbárie preconceituosa se posicionarão firmemente contrários. Faremos um abaixo-assinado contra qualquer discriminação e pelos mesmos direitos entre trabalhadores efetivos e terceirizados”.

Ainda de acordo com Adriano outros Institutos da USP já tentaram invisibilizar os trabalhadores terceirizados, na Faculdade de Educação elas foram obrigadas a comer marmita no banheiro. Nos restaurantes elas são proibidas de comer uma gelatina sequer, mesmo quando sobra (basicamente todo dia) a administração prefere jogar no lixo a permitir que elas comam. Agora na Odontologia, além de segregá-las, querem impedir que elas possam tomar um café, fumar um cigarro ou mesmo ter um local para sentar e descansar nos seus horários de almoço.

Há um tempo a Faculdade esvaziou um antigo depósito que ofereceu para elas usarem como vestiário. Agora, aparentemente, elas deverão também transformá-lo em uma Copa. Pra Faculdade parece não ter problemas que elas tenham que lavar suas marmitas no mesmo tanque em que lavam os panos de chão e escovam os dentes! Parece não ter problemas que ratazanas dividam esse espaço com elas! Parece não ter problemas que as trabalhadoras tenham que se trocar enquanto os demais almoçam. Além do salário miserável e falta de direitos é esse tratamento desumano que as trabalhadoras que garantem a limpeza e o funcionamento dessa Faculdade recebem! E agora querem humilhá-las ainda mais proibindo que elas utilizem os espaços que elas próprias mantêm limpos, como a Copa da Clínica e dos departamentos da Faculdade!

“Resta saber se essa discriminação e humilhação é uma decisão da Diretoria ou se foi simplesmente uma postura unilateral e preconceituosa da assessoria administrativa ou do responsável direto pela Supervisão dos trabalhadores terceirizados” Adriano ainda avalia que “seria péssimo que os últimos momentos da gestão do Prof. Dr. Waldyr Jorge e do Prof. Dr. Giorgio De Micheli a frente da Diretoria da FOUSP ficassem manchados com essa vergonhosa marca de preconceito, racismo e humilhação contra o setor de trabalhadores em situação mais vulnerável nesse Instituto. Por isso acredito na reversão dessas proibições lamentáveis”.

 
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