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ESQUERDA ARGENTINA
PepsiCo, Vilca, Godoy e os novos passos por uma esquerda dos trabalhadores
Lucho Aguilar

De Jujuy até a Patagônia, passando pela Grande Buenos Aires, dados e anedotas sobre a militância operária, os “deputados dos trabalhadores” e os votos na Frente de Esquerda entre aqueles que mais sofrem com o ajuste.

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Um reconhecido jornalista não consegue entender como, ao terminar sua entrevista, o segundo homem mais votado de Jujuy sairá para correr junto a um caminhão que recolhe lixo. Um operário ceramista briga pelo voto popular com os partidos tradicionais neuquinos, em bairros onde o chamam de “o deputado dos trabalhadores”. 48 operários e operárias sem patrão se juntam na fábrica gráfica MadyGraf para organizar a fiscalização da eleição, no qual alguns deles são candidatos. Algo parecido com o que fazem os trabalhadores e trabalhadoras da multinacional PepsiCo, que sem suspender sua luta tomam o fim de semana para defender o voto de seus companheiros que são candidatos. Dezenas de professores que acabaram de ganhar o maior sindicato de Mendoza voltam às escolas mas desta vez para defender os votos da Frente de Esquerda.

Na realidade, todas estas histórias estão relacionadas com a Frente de Esquerda e a eleição do domingo passado, em que conquistou um milhão de votos em todo o país. Pequenas mas valiosas mostras de um processo que se vêm consolidando: a emergência de uma esquerda dos trabalhadores.

PepsiCo sacudiu a campanha

Os especialistas em marketing o chamaram de um erro de “inteligência corporativa”. As demissões da PepsiCo se transformaram em conflito chave que veio para arruinar a campanha eleitoral que imaginava o duranbarbarismo tradicional e sua cópia progressista. Uma comissão interna dirigida pela esquerda, com leoas (e leões) dispostos realmente a “resistir com luta”, colocaram a luta de classes na agenda política.

Camilo Mones, militante do PTS, tomou a fala no fechamento do ato da Frente de Esquerda junto ao acampamento da PepsiCo. “Os operários da PepsiCo nos demos conta de quem são os que colocam o corpo realmente na luta da classe trabalhadora. Vimos os deputados, os militantes, os dirigentes da Frente de Esquerda na porta da fábrica, em cada mobilização, em cada fechamento de rua, por isso muitos companheiros estão apoiando a Frente de Esquerda e vão votar nela. Essa experiência não se esquece nunca mais. Vamos continuar nossa luta, com todos vocês”.

Ainda que muitos mais tenham se registrado, mais de uma dezena destes trabalhadores foram parte das chapas da FIT na Província de Buenos Aires. Muitos mais foram os que colaboraram em seus bairros e na fiscalização de domingo.

As demissões da PepsiCo se transformaram em conflito chave que veio para arruinar a campanha eleitoral que imaginava o macrismo tradicional e sua cópia progressista.

#Vilcaço

"Minha família é do bairro de Puna. Sou trabalhador gari e militante do PTS. Olha, Jujuy tem 42% de pobreza, quase 50% dos trabalhadores são informais, de maneira que um resultado como este nos enche de ânimo, pode se ver nas ruas. Esperamos transformá-lo por primeira vez em deputados dos trabalhadores em outubro".

Com humildade mas com uma convicção profunda, Ale Vilca fala ao jornalista de Buenos Aires que se surpreende agradavelmente e o quer no Congresso. Sua legenda foi a segunda mais votada em uma terra onde manda o bipartidarismo e os Blaquier.

Sou trabalhador gari e militante do PTS.

12,7% dos votos que se fazem fortes ali onde pega o bagaço dos engenhos e o sol dos campos. Que se duplicou ou triplicou em localidades operárias como Ledesma, San Pedro, Palpalá, nos bairros mais precários de San Salvador, na Quebrada, onde os povos originários também o sentem próximo.

Mas além desta simpatia, o que cresce é um movimento que milita pela candidatura de Vilca nos seus locais de trabalho e seus bairros. Trabalhadores municipais, usineiros, estatais, metalúrgicos, professores, e jovens.

“Deputado dos trabalhadores”

Raúl Godoy é operário ceramista e deputado provincial pelo PTS - Frente de Esquerda em Neuquén, que no domingo conquistou 7% dos votos. E conta: “Antes muitos viam como éramos combativos ou solidários com os conflitos, mas não nos viam como viáveis para votar como deputados, ’o que vai fazer a esquerda na legislatura?’. Isso foi mudando, porque viram na prática o que nós chamamos de parlamentarismo revolucionário. Isso de usar os mandatos como tribunas para denunciar os governos e empresários, mas também para apoiar as lutas, impulsionar a auto-organização, dar confiança aos trabalhadores e também defender nossa saída de fundo".

"Mas o novo e notável é como se consolidou o voto nos bairros operários mais importantes. No caso de Centenario, onde eu nasci, onde vivem muitos companheiros de Zanon, mas também é um dormitório operário para aqueles que trabalham na fruta, no UOCRA, professores, jovens precarizados, e em algumas escolas, superamos os 10%. E um voto que desta vez se manifestou com muito mais força, que dizia abertamente que ia votar em nós, dizendo com orgulho ’estes mandatos são nossos, estes mandatos são dos trabalhadores’. Ou no bairro Parque Industrial, no qual em muitas mesas superamos os 14% e até os 15%. Um bairro operário muito marginalizado pelos governos atuais. Ali não vivem apenas os operários das cerâmicas Zanón e Neuquén, gráficos de Molarsa, da Textil Neuquén ou da madeireira MAM. Também muitas famílias que vivem amontoadas, que chegaram depois dos monoblocks com as ocupações de terras. Que sofreram a repressão, sobretudo dos jovens. Ou que sofreram as últimas ondas de demissões. E muita gente que dizia ’não quero saber nada de política’, quando se davam conta que era a Frente de Esquerda diziam ’Ah sim, me dá os panfletos, quero levar mais’. E aconteceu também que cada vez que acontecia algo ali os jornalistas diziam ’vamos a falar com um deputado que é dos trabalhadores’. Eu sou operário ceramista há 23 anos neste lugar. Ou quando fazíamos as panfletagens, as crianças nos viam e diziam ’aí vem o deputados dos trabalhadores’. Esse reconhecimento é muito importante. Mas nosso resultado fortalece sobretudo a luta nas ruas de todos esses trabalhadores que vêm defendendo suas fontes de trabalho”.

Terceira força em Mendoza

No domingo se confirmou que a Frente de Esquerda continua sendo a expressão política de dezenas de milhares de mendocinos. A candidatura de Noelia Barbeiro chegou a 8,8% dos votos, com porcentagens mais altas nos bairros populares da Grande Mendoza e no sul da província.

Na noite da votação, Noelia quis dedicar “esta votação aos trabalhadores que enfrentam o ajuste, às professoras que estão enfrentando o maltrato deste governo, aos jovens que lutam pelo passe-livre estudantil, entre outros”. Ela mesma é professora, além de referência dos direitos das mulheres e dos movimentos que enfrentam as multinacionais que saqueiam e contaminam a província.

Nas chapas da FIT foram muitas professoras, semanas depois que uma lista unitária da esquerda recuperou o Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (SUTE), o maior da província e o maior que dirige a esquerda em todo o país.

Nenhum slogan de campanha

Os exemplos que contamos são parte de um fenômeno mais profundo e extenso. O PTS na Frente de Esquerda começou vários meses antes das PASO (eleições primárias) uma campanha política propondo a redução da jornada de trabalho para trabalharmos todos e trabalharmos menos. As agrupações classistas se somaram propondo centenas de candidatos operários, muitos dos quais se integraram finalmente nas chapas unitárias da FIT. Mas muitos mais se transformaram em organizadores desta importante batalha política contra os partidos tradicionais e o sindicalismo peronista. Das gestões operárias como Zanon ou Madygraf, das grandes alimentícias como PepsiCo, Mondelez Kraft e Mondelez Stani; motoristas e operários automotivos que percorreram as fábricas e bairros da Zona Norte de Buenos Aires; aeronáuticos que militaram nos aeroportos e na Zona Sul; ou de outros grandes serviços, como telefônicos, do metrô e ferroviários, assim como de outros sindicatos como saboneteiros, do pneumático, madeireiros, águas gasosas, metalúrgicos e siderúrgicos, e de forma massiva professores e estatais classistas que são parte da condução de sindicatos e comissões internas recuperadas. Seria “injusto” nomear aqui apenas alguns deles. Junto a jovens e estudantes foram parte dos milhares que enfrentaram os aparatos dos partidos tradicionais.

Estas centenas de candidaturas operárias e estes milhares de trabalhadores que militaram junto com o PTS na Frente de Esquerda não são parte de nenhum perfil ou slogan de campanha. São a expressão da luta cotidiana para construir uma esquerda dos trabalhadores. Há exatamente um ano se reuniram os dirigentes operários do PTS, com referências de 62 sindicatos onde atuam nossas agrupações classistas. Ali se reafirmou, entre outras coisas, “a luta pela fusão entre o movimento operário e a esquerda, tomando hoje como referência de nossas agrupações a Frente de Esquerda, promovendo candidaturas operárias para que os trabalhadores se transformem em verdadeiros ‘tribunos do povo’”.

Como o é hoje Nathalia Gónzalez Seligra, a deputada federal do PTS-FIT que saiu de La Matanza, o coração do peronismo, como dirigente do sindicato de professores recuperado.

Com essa convicção, estes dirigentes e militantes operários encararam não apenas cada uma das lutas contra o ajuste nestes anos, mas sim a batalha pela consciência política de milhões que estamos vivendo nestes meses.

Estas centenas de candidaturas operárias e estes milhares de trabalhadores que militaram junto ao PTS na Frente de Esquerda não são parte de nenhum perfil ou slogan de campanha.

“Outubro” é hoje

Myriam Bregman disse neste domingo que “a Frente de Esquerda escolheu estar junto aos trabalhadores. Não basta chorar porque o governo é ruim, é preciso enfrentá-lo”. Nicolás Del Caño, nesta mesma noite, disse que “os setores que mais sofrem com o ajuste são os que mais apoio nos deram”, destacando esse apoio operário e popular que se reflete em algumas das histórias que contamos. Esta é um enorme força política rumo a outubro, que temos que fazer valer. Contra a tentativa de polarização, se alçará uma voz para dizer que precisamos de deputados da esquerda, deputados dos trabalhadores, estes legisladores estão onde tem que estar.

Essa prática a confirmaremos nas ruas. Apoiando a luta pela reincorporação em PepsiCo e a aparição com vida de Santiago Maldonado. Com essas bandeiras chamaremos a “golpear juntos” com todas as organizações que dizem querer enfrentar o ajuste, mas com “nossas próprias bandeiras”. Na próxima terça-feira, 22 de agosto, será uma grande oportunidade.

Para continuar construindo uma forte corrente classista com agrupações em cada vez mais sindicatos, para disputar as organizações operários com o sindicalismo peronista. E para continuar construindo uma esquerda dos trabalhadores que se proponha fazer as correntes da escravidão assalariada explodirem pelos ares.

 
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