O rombo bilionário anunciado até 2020 indica que o governo continuará sem dinheiro suficiente para pagar todas as contas e terá de pedir dinheiro emprestado continuamente pelos próximos anos. Economistas já preveem que a dívida deve crescer até 2023 e só começará a cair em 2024.
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A questão é justamente que rombo é esse: a imprensa dos patrões, os governos e seus economistas insistem em dizer que o problema está na previdência, nos gastos sociais, no "inchaço" do estado e no supostamente "privilegiado" funcionalismo público, que apesar de ganhar mais do que a média dos trabalhadores do setor privado, em sua maioria não chega nem perto do salário mínimo estabelecido na Constituição Federal, calculado hoje pelo DIEESE como R$ 3.810,36.
As contas do governo não fecham desde 2014. Naquele ano, faltaram R$ 20,5 bilhões no caixa - o chamado déficit primário - porque a arrecadação de impostos não foi suficiente para cobrir todos os gastos da União. O rombo cresceu, superou R$ 159 bilhões no ano passado e deve ficar nesse patamar até 2018.
Nesse período, a dívida seguiu crescendo mês a mês, mesmo com quase metade do orçamento destinado a seu pagamento. Ou seja, aí está já uma amostra bastante evidente de que a dívida é um roubo descarado: quanto mais se paga, mais ela cresce. Porque mesmo com bilhões indo para esse buraco sem fundo, eles servem apenas para pagar seus "juros e amortizações", e com a falta de dinheiro para pagar as contas, novos títulos da dívida são colocar em circulação e a dívida segue aumentando.
Faz sentido para você? Não, né? Bom, para o capitalismo faz, porque quem manda na política - os empresários, banqueiros, especuladores e latifundiários - são os que lucram com o crescimento desse rombo.
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Como em uma família que pede dinheiro emprestado seguidamente para pagar contas do dia a dia, o endividamento do governo disparou. De 2006 a 2014, a dívida bruta do governo oscilou entre o equivalente a 50% e 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Em dezembro de 2014, a dívida estava em 56,3% do PIB. Um ano depois, saltou para 65,5%, tocou os 70% no fim de 2016 e já está perto de 75% do PIB.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado Federal, calcula que a dívida continuará crescendo até o pico de 92,4% do PIB em 2023 para, então, começar gradual melhora. Todas essas previsões, é claro, são feitas de acordo com o "mandamento sagrado" de que nenhum governo jamais tocará nessa "galinha dos ovos de ouro" dos capitalistas e seguirá pagando religiosamente a dívida enquanto as escolas e hospitais caem aos pedaços, o desemprego deixa milhões nas ruas, e outros milhões não têm sequer uma casa para morar.
O economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs - um dos grandes bancos de investimentos que fatura alto com a dívida - Alberto Ramos, concorda e prevê que o governo só voltará a terminar o ano com dinheiro em caixa (superávit primário) em 2024. Para ele, é preciso sobrar entre 3% a 3,5% do PIB no caixa para colocar o endividamento em trajetória de queda. Ou seja, é preciso colocar ainda mais dinheiro para pagar a dívida.
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Na opinião do economista José Márcio Camargo, professor da PUC/Rio, se a reforma da Previdência não for aprovada o País dificilmente voltará a ter superávit primário. "A Previdência, como é hoje, sempre tem déficit e absorve qualquer superávit, ou seja, vamos ficar enxugando gelo". Para Camargo, "o déficit primário hoje é muito menos importante do que a reforma da Previdência pois, sem ela, será insustentável."
Não é à toa que entre esses economistas que defendem os capitalistas nós "enxugamos gelo" quando pagamos a aposentadoria de um trabalhador que por décadas vendeu sua força de trabalho e gastou a vida trabalhando duro, mas ninguém fala de "enxugar gelo" quando coloca bilhões numa dívida que só cresce (e cujo custo supera em muito mais do que o dobro o da previdência, como vemos no gráfico abaixo elaborado pelo grupo "Auditoria Cidadã da Dívida"):
É por isso que todos eles defendem, unanimemente, que o governo deve apertar a "meta fiscal", ou, em outras palavras, cortar na carne dos trabalhadores e do povo pobre reduzindo custos em todas as áreas, como saúde, educação e previdência, mas jamais no pagamento da "sagrada" dívida pública.
É assim também que pensa o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES: "para que a dívida tenha uma trajetória mais sustentada, é preciso fazer as reformas que, certamente, não serão feitas no governo Temer, o que levará toda a insegurança para as eleições de 2018", diz Mendonça de Barros. "Sustentada", nesse caso, deve ser lido como o roubo sustentado aos cofres públicos para manter a dívida sendo eternamente paga aos custos de nossos direitos mais básicos.
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