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Diário da FLIP – segundo dia: Leia Mulheres
Gabriela Farrabrás
São Paulo | @gabriela_eagle
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A FLIP não é apenas as suas mesas principais; há toda uma outra programação paralela tão rica quanto a oficial. Outra beleza da festa, que apesar de visível precisamos sempre recordar, é o fato de que os protagonistas são escritores vivos, de que a literatura é algo que está sendo feito hoje. No segundo dia da FLIP aquilo que tinha sido anunciado – a maioria de mulheres escritoras na programação – se tornou real.

Antes de falar o que foi a primeira mesa que assisti na quinta-feira depois de ter me perdido algumas horas na praia sentindo o quanto a vida é bela, como disse tão bem Zuca no seu belo texto; e refletindo o que tinha sido a mesa de abertura sobre Lima Barreto é preciso falar sobre o primeiro Fruto Estranho.

Fruto Estranho – Josely Vianna Baptista

Fruto Estranho era uma das novidades dessa FLIP trazida por Joselia Aguiar; se tratava de uma série de intervenções poéticas artísticas feita por diferentes escritores contemporâneos, e que se revelou uma grata e forte surpresa.

O primeiro Fruto Estranho antes da mesa Pontos de Fuga foi feito um vídeo-poema feito por Josely Vianna Baptista, inspirado em episódios de etnocídio indígena, principalmente o guarani, e na busca profética por uma terra sem mal. Foi especial ver a questão indígena ali no centro da programação oficial quando as ruas de Paraty durante a festa ficam cheias de indígenas de diferentes tribos vendendo seus artesanatos e se apresentando por alguns trocados quando conseguem romper a invisibilidade a que estão destinados.

tudo abandono, e no entanto,
lá fora o pomar semeado
para os que agora cruzam
(trouxas vazias), um
por um, os onze mil
guapuruvus

Pontos de Fuga

A mesa Pontos de Fuga trouxe as prosadoras brasileiras Natalia Borges Polesso e Carol Rodrigues – que já foi entrevistada aqui quando ganhou o prêmio Jabuti– e a portuguesa nascida em Angola, Djaimilia Pereira de Almeida.

Iniciando o debate contando porque escrevem Natalia colocou e pontuou que escrevia porque pode escrever, e que isso não era banal; ser escritora é uma escolha diária. E não é banal sua afirmação de que ela escreve porque pode escrever, pois vivemos em uma sociedade que escrever, quando não se trata de fazer para gerar capital com grandes vendas e best-selllers, se torna uma impossibilidade. Ser escritor no capitalismo não é útil; é, em realidade, uma resistência contra a necessidade de embrutecimento que essa sociedade nos impõe.

Já Djaimilia fez talvez a declaração mais lúcida a todos os que escrevem: “Eu escrevo para não desperdiçar a minha vida”. Para a autora do romance “Cabelo” escrever é uma necessidade intrínseca.

Carol em seu premiado livro de contos “Sem vista para o mar” trabalha com o destino que as palavras imprimem no corpo; seus personagens tentam escapar desse tal destino. Sua obra é uma das grandes obras contemporâneas brasileiras e merece, com toda certeza, um texto só destinado a ele.

Natalia leu um dos seus contos mais bonitos de seu livro “Amora”. O conto “Marília Acorda” é sobre um casal de idosas lésbicas e sobre a imanente questão da morte. Conto tão belo, que traz as mulheres lésbicas tão invisibilizadas em uma situação em que o argumento “é só uma fase” se torna ridículo. Conto que na leitura de Natalia me trouxe as lágrimas, que me fez correr para a livraria da FLIP para comprar seu “Amora”, e que me fez chorar mais uma vez o lendo na viagem de volta para casa. Aqui coloco uma leitura minha desse conto:

O livro de Djaimilia é um misto de romance com artigo, um estudo, em que a autora negra a partir do cabelo escreve sobre o que é ser uma moça negra no subúrbio de um país europeu.

Mulheres lésbicas e mulheres negras; se há algo que liga a obra de Natalia e de Djaimilia são suas personagens invisíveis em uma sociedade racista e patriarcal. A obra de Carol também trará esses personagens e suas fugas como um método de vida quando somos obrigados a viver sobre “um contrato neoliberal que assinamos sem ler”. Mas Carol conhece que sua obra não é suficiente para dar visibilidade, é apenas uma tentativa de abrir caminho para isso. E a leitura de Carol de seu conto, de sua pontuação, que nos leva a uma vertigem, é algo que merece todos os elogios possíveis.

Volto no texto seguinte para falar mais sobre esse dia, que foi, com certeza, um dos mais cheios para mim. Fiquem com mais um Fruto Estranho, dessa vez, o de Grace Passô:

 
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