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BLACK POWER
Vamos Armar Nossos Blacks Contra o Capitalismo!
Bruna Motta

Se reconhecer enquanto negra e ter orgulho disso nada mais é do que se reconhecer enquanto sujeito que pode mover a história, porque acreditar que podemos combater o racismo é acreditar que podemos mudar a realidade.

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Uma das coisas mais bonitas que tenho visto nos últimos anos é a quantidade de cabelos blacks que vem se rebelando contra os ferros alisantes e produtos químicos com propósitos embranquecedor no geral e florescem em mulheres que não mais titubeia em se auto reconhecer enquanto negra. Da mesma forma vemos o fortalecimento de manifestações artísticas e cultural da população negra como um todo, com o aumento de iniciativas de saraus, slams e outras atividades artísticas periféricas onde a população negra tem sido protagonista.

Isso é a materialização de um sentimento de reconhecimento e orgulho de sua história e de si mesma enquanto negra. É combater em seu próprio corpo as marcas de uma sociedade racista que nos educa através de teorias como a do Branqueamento Racial, ensinando que quanto menos traços de estereótipos negros carregar no corpo, melhor é, que em outras palavras significa ensinar que cabelo crespo deve ser alisado, os cachos devem estar comportados, o nariz e lábios devem ser finos e a pele deve ser clara.

São ideiais que vai marginalizar e criminalizar tudo o que representa a cultura negra, como o hip-hop, capoeira, funk, religiões de matriz africana, etc. Nesse sentido, usar um turbante na cabeça, parar de alisar ou esconder os cabelos crespos, é também expressar em seu próprio corpo resistência a esse sistema que nos educa através de ideologias racistas.

Esse processo de se reconhecer enquanto negra, que no geral passa por ter orgulho de sua história e por uma disposição de lutar contra o racismo, não coincidentemente se fortalece no Brasil durante as jornadas de junho, como ficou conhecida as manifestações que ocorreram durante o mês de junho de 2013 pelo país inteiro, reunindo milhares de jovens e trabalhadoras/es numa luta que teve como pauta inicial o aumento no preço do transporte público mas foi apenas uma abertura para que a população fizesse exigências mais profundas relacionadas além do transporte público a moradia, educação, saúde e contra a violência policial, questões essas que atingem sobretudo a população negra.

Novamente vemos o crescimento e fortalecimento desse processo de auto identificação enquanto negra entre estudantes secundaristas durante as ocupações de escolas em 2015 onde novamente as negras e negros e filhas/os de trabalhadoras/es seriam os mais afetados com os fechamentos de escolas e fechamento das salas no período noturno, onde foram linha de frente juntamente as outras mulheres e lgbts.

Digo que não é coincidência que as mais diversas expressões de combate ao racismo cresça e se fortaleça nos momentos de maior agudização da luta de classes, visto a profunda ligação do racismo com a formação e manutenção do capitalismo. O racismo surge com o capitalismo e o capitalismo funda suas bases através do racismo, já que para se desenvolver precisa criar uma ideologia que oprima pessoas se utilizando do critério de raça, justificando a colonização da África e escravização de africanas/os no processo inicial de acumulação capitalista; e justificando até hoje o fato das mulheres negras estar nos piores e mais precarizados postos de trabalhos, serem as principais vítimas de violência sexual, e sofrerem com a solidão de ter seus filhos, parentes e companheiros presos ou vítimas das “balas perdidas”.

A burguesia brasileira funda seus impérios através do trabalho escravo. É sob sangue e trabalho de homens e mulheres negras que se construiu as bases para o capitalismo se desenvolver. Após a abolição da escravidão no Brasil o racismo não acaba e os meios de controle da população negra se intensifica. Com políticas de incentivo a migração européia para ocupar os postos de trabalho a população negra foi jogada para os trabalhos informais e pior remunerados, para as favelas e para as cadeias.

Ainda hoje o trabalho da população negra cumpre um papel central para a manutenção dos lucros capitalistas. O racismo serve ao capitalismo para aumentar os lucros dos capitalistas de maneira direta ao manter os negros nos piores postos de trabalho e as mulheres negras nos piores ainda, com menores salários e flexibilização dos direitos que vai ser justificado através do discurso de meritocracia.

Não ter a compreensão do quanto a formação da identidade negra tem uma profunda relação com a formação da classe trabalhadora no Brasil pode levar a um grave erro, que é ver a auto identificação como negra como um fim em si mesmo, acreditar que armar os cabelos por si só combate ao racismo. O problema dessa perspectiva de luta contra o racismo é que apesar de se basear em um sentimento muito legítimo que é de poder ter orgulho de seu próprio corpo, não se preocupa em combater um sistema que permite e naturaliza que um policial atire em uma menina negra com seu black na cabeça dentro de sua escola.

Esse processo de se reconhecer enquanto negra e ter orgulho disso nada mais é do que se reconhecer enquanto sujeito que pode mover a história, porque acreditar que podemos combater o racismo é acreditar que podemos mudar a realidade. E é essa a questão, devemos armar mesmo nossos blacks, armar mais, armar sempre, mas temos que arma-los contra o sistema. Contra esse sistema que funda suas bases através do racismo e se apropria do machismo e do conjunto das opressões para se manter. Que lucra com nosso trabalho, com nossos corpos, com nossas lágrimas, com nossas dores, com nossas mortes e com nossas vidas.

Armar nossos blacks contra as reformas, contra a polícia, contra as opressões e contra o capitalismo.

 
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