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TEMER
O mais podre balcão de negócios da burguesia
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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É conhecido o veredito sentencioso dos revolucionários alemães Karl Marx e Friedrich Engels acerca do Estado: "O governo do Estado moderno não é mais que um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa". De 1847, quando o capitalismo ainda tinha reservado quase meio século de explosivo desenvolvimento, conduzido por uma burguesia que já havia mostrado sua cara reacionária, a sentença não deixa de ficar cada vez mais verdadeira com a putrefação da velha sociedade burguesa - especialmente nas semicolônias como o Brasil.

O espetáculo patético encenado pela Câmara dos Deputados para manter Temer no governo não teve o show de horrores medieval do 17 de abril de 2016; foi uma anedota de pregão da Bolsa. A maioria votou com o bolso. O balcão de negócios estava aberto nas últimas semanas e veio aumentando o volume: cada deputado gritava o justo preço (ou cargo) de seu voto. Não havia razão para exigir pouco para salvar a cabeça de alguém com 4% de popularidade nacional.

Temer foi pródigo: ofereceu a céu aberto R$3 bilhões do dinheiro público para rejuntar algumas centenas de votos. É notório que isso aconteça em meio a uma cifra de 14 milhões de desempregados no Brasil, e outras dezenas de milhões de trabalhadores ultra-precários, rotativos, terceirizados, sempre à beira do desemprego. Em meio à campanha do governo por "acertar as contas públicas" com a reforma da previdência, atacando as aposentadorias de milhões de trabalhadores.

O balcão de negócios da burguesia não se detinha: cargos na máquina federal e dinheiro para as emendas que os parlamentares fazem ao Orçamento jorraram. O íntegro deputado Carlos Gaguim (Podemos-TO) foi à tribuna conclamar os ministros de Temer –vários deles no plenário da Câmara– a continuar a liberar verbas para as emendas.

Já o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) usou as redes sociais para comemorar a liberação de R$ 328 mil para obras que beneficiarão a si mesmo e sua rede de aliados no interior da Bahia.

Houve um salto na compra das almas mortas dos parlamentares depois que Temer foi denunciado no FriboiGate. Em janeiro, o valor total repassado aos deputados somou pouco mais de R$ 900 mil. Em fevereiro, R$ 1,36 milhão. Em março foram R$ 4,06 milhões, e em abril R$ 5,32 milhões. Em maio, pulou para R$ 76,7 milhões. Nos últimos dois meses, segundo a agência Lupa, o governo federal encaminhou aos deputados federais R$ 2,34 bilhões.

No ranking por partidos, o PMDB aparece como o maior beneficiário das emendas empenhadas pelo governo federal nos últimos dois meses. Seus deputados receberam R$ 284,3 milhões (12,1% do total). O PT fica em segundo, tendo recebido R$ 266,4 milhões em emendas em junho e julho. Na sequência, os partidos mais beneficiados foram PP (R$ 237,5 milhões) e PSDB (R$ 218 milhões).

A maratona pela compra das almas mortas removeu do túmulo todo tipo de escória. Temer recebeu individualmente mais de uma centena de deputados –só nesta terça-feira se encontrou com, ao menos 35, incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP), almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do baixo clero. Ruralistas milionários ganharam o perdão de R$8 bilhões em dívidas à Receita Federal.

A compra foi farta. Ainda que houvesse deputados infiéis (que receberam o dinheiro para depois negar o apoio) Temer segue no leme do governo.

Referindo-se à Câmara dos Deputados, Temer, em seu discurso de retomada dos ataques a milhões de trabalhadores, disse que "a representação do povo brasileiro se manifestou de forma clara e incontestável". De fato, nosso comprador de almas mortas sabe que sua permanência aumentará o abismo entre "representantes e representados" e o afastamento de amplos setores da população de suas representações tradicionais (o que o marxista italiano Antonio Gramsci chamava de crise orgânica ou crise de hegemonia do Estado, que por ora não avança para níveis maiores de radicalização política especialmente em função das traidoras burocracias sindicais, pilar da "hegemonia débil" da burguesia).

Quanto ao parlamento, longe de ser "representação do povo", com sua cobiça avarenta mostra ser parte das instituições que representam a violência concentrada da classe dominante contra os trabalhadores, que votou a reforma trabalhista e quer votar a da previdência para preservar seus privilégios.

Essa é a "noz dentro da casca" desta farsa de democracia. Os princípios da "democracia formal" burguesa se encontram sujeitos ao controle das finanças, da chantagem, do roubo da riqueza nacional a serviço dos inimigos do povo. Assim atestava há muito, na década de 1920, um deputado conservador britânico, quando reconheceu que com alguns milhões por ano podia-se defender o que se desejasse no parlamento (ver "Aonde vai a Inglaterra?", de Leon Trotski).

Aos trabalhadores é necessário retomar o único caminho que pode levar a derrotar essa casta política dos capitalistas: o combate. Passar por cima das inúteis manobras parlamentares do PT - que tem mais medo dos trabalhadores que do avanço da direita com quem pactua tudo - é uma condição para enfrentar a nefasta reforma trabalhista.

Enfrentar (para anular) a nefasta reforma trabalhista - que Temer chamou de "revolução" para os patrões que querem retornar nossas condições ao século XIX - é o caminho para questionar todo o podre sistema dessa falsa democracia, chocar-se com todo o regime dos milionários usurpadores do povo, que hoje passa por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que coloque nas mãos dos trabalhadores a resolução dos problemas econômicos estruturais do país.

 
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