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ANÁLISE
Temer está sobrevivendo, espalhando e aumentando a crise
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
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Temer vai sobrevivendo, com ele vai sobrevivendo e aumentando a crise. Em análise publicada semana passada argumentavamos como mesmo se não ocorresse a cassação da chapa no TSE a crise continuaria. Na ausência de um nome de consenso Temer sobrevive, e na miríade de interesses contraditórios beneficia-se o status quo, prolongando e aumentando a crise que vai ganhando maiores contornos institucionais e vai rachando internamente cada instituição. De quebra, a crise vai aumentando a certeza de que sem a ação "dos de baixo" não há como chocalhar e remover o andar de cima. Dedicamos breves linhas a uma "atualização" da análise da conjuntura depois da absolvição da chapa no TSE e decisão tucana de permanecer apoiando Temer.

Aparente maioria de Temer na Câmara e continuidade da profunda instabilidade

Todos analistas dão uma margem de manobra para Temer em provável votação na Câmara para aceitação da denuncia que Janot irá oferecer contra o presidente golpista. Temer precisa assegurar 172 votos para evitar sua cassação. O "mercado" com a alta do dólar, queda da bolsa e piora nas projeções de PIB e dos juros, com o aumento das previsões deflacionárias, aposta que essa "vitória" não será catastrófica mas tampouco é boa e será acompanhada de continuidade da recessão. Aqueles que dão como "líquida e certa" essa vitória de Temer na Câmara subestimam o interesse e necessidade do MPF atacar Temer para impedir que esse não respeite o eleito entre os procuradores e que esteja alinhado com Janot e com os interesses imperialistas que se beneficiam com a Lava Jato.

Por isso, a ação de Janot e do MPF a depender da contundência de novas provas na denuncia, pode oferecer novas complicações para que os deputados apoiem Temer e jogar mais ar nas labaredas de uma crise que não se extinguiu. E, mais importante, aqueles que já dão "de barato" a vitória de Temer, ignoram a possibilidade de ação dos trabalhadores, reembaralhando as cartas. A força da greve geral do dia 30 de junho, apesar das direções, que trabalham para que esta data seja menor que a do dia 28 de abril, será um teste.

Algo está claro, Temer, sem um sucessor não cai facilmente, nem termina de se recompor, prolongando, espalhando e aumentando a crise. A reforma da previdência não parece ter nenhum horizonte fácil de votação. A trabalhista, de mais fácil votação em um congresso de empresários e corruptos segue como ameaça, mesmo com um governo em crise como o que temos. A vitória de Temer no TSE e a continuidade dos tucanos no governo não fecham a conjuntura que descrevemos em declaração internacional da Fração Trotskista - Quarta Internacional, do seguinte modo:

A combinação entre a ação aventureira da Lava Jato, a negativa de Temer a renunciar, o fortalecimento de setores de extrema direita, a ofensiva de ajustes e reformas reacionárias, a persistência de um movimento de massas que resiste a esses ataques e a incipiente politização das Forças Armadas configuram uma conjuntura pré-revolucionária em que os meses se contam em dias e os dias se contam em horas.

Crise se esparrama

O PSDB conhecido por palavras altissonantes e por ficar em cima do muro decidiu ontem em reunião de sua cúpula fazer o que lhe é mais próprio à alma. Decidiu manter o intransigente apoio às reformas, manter-se no governo ao mesmo tempo que irá recorrer da decisão do TSE de livrar a chapa Dilma-Temer, e avaliar a situação "dia-a-dia". Uma decisão marcada pela pluralidade de interesses contraditórios a afetar a sigla. Alckmin e Doria não querem um novo presidente agora que possa afetar seu planos presidenciais de 2018, Aécio e seus asseclas querem um acordo "de proteção mútua" com o PMDB, governadores batalham por acordos de reeleição com a poderosa máquina eleitoral e de fundos legais (e ilegais) do PMDB, e por fim com a divisão da burguesia sobre o melhor caminho para as reformas - com ou sem Temer - o PSDB quis agradar todos e a ninguém. Importou para dentro de si todas as divisões do regime político.

Esse quadro se repete instituição a instituição em meio à crise. Os grandes jornais que atuavam em uníssono como um partido político no impeachment de Dilma agora dividem-se. O Globo aumenta suas apostas "anti-Temer" em seus editoriais, a Folha o acompanha com maior descrição e o Estadão vocifera cada vez mais não só contra os procuradores da Lava Jato, contra Janot, mas até mesmo contra Carmen Lucia em editorial de hoje (13/06).

O STF atuando como árbitro da crise nacional em todos anos anteriores importou para si as contradições do regime. Divide-se entre um Gilmar Mendes que atua como porta voz do consórcio do "fique tudo como está" e um Fachin que cada dia parece mais um preposto de Janot. A divisão do STF vai fazendo ir às favas o jurisdiquês, as "datas vênias" e outros maneirismos para cair no lugar comum da baixaria da política capitalista nacional. Com a crise no STF todas instituições do judiciário vão se polarizando, o TSE foi só mais uma mostra disso.

Crise de representatividade e institucional também se esparrama

Nos últimos anos o judiciário ganhou respeito de uma parcela da população. As algemas da PF, as decisões de Moro e do STF a atuação do MPF davam um aura de vitória do "bem contra o mal". Janot conseguiu afetar a credibilidade popular do MPF ao poupar os donos da JBS de punições. O TSE conseguiu piorar a opinião sobre os juízes. A crise de representatividade que antes atingia sobretudo os partidos, o Congresso e o Executivo vai começando a afetar o judiciário. Para piorar essa percepção de que todos - sem exceção - são "farinha do mesmo saco" isso se mistura a um aumento da crise institucional, com cada ator precisando aumentar suas apostas para se safar. Reina a pequena política cada vez mais em detrimento da chamada "grande política".

Assim, Temer precisa atacar Fachin, a PF e o MPF. A PF e o MPF em auto-preservação precisa atacar Temer. Aécio precisa se salvar. A Globo e o Estado como pólos na mídia precisam increpar seus editoriais para dar coerência as linhas adotadas, foram passados os "pontos de não retorno" e cada um precisa seguir seu curso para não sair perdendo mais.

A crise aberta a partir de denúncia da Veja que Temer estaria usando a ABIN para espionar Fachin fez Carmen Lucia erguer aos céus seus gritos de indignação e por mais que todos coloquem - hoje - panos quentes são mostras de que as brasas estão rubras e vivas.

A sobrevivência de Temer está prolongando e espalhando a crise, e espalhando uma percepção de que sem a ação "dos de baixo" tudo vai ficar como está. Se o dia 30 ou outras possibilidades de intervenção operária não aproveitar a divisão dos "de cima" para a entrada em cena dos trabalhadores, podem se fortalecer desvios e mesmo respostas à direita, pois a crise abre a cabeça a novas formas de sentir e pensar. Mas não só à esquerda.

Essa análise reforça a proposta editorial desse Esquerda Diário. É necessário "tomar em nossas mãos’ o dia 30 de junho. Ontem mesmo Paulinho da Força declarou à Folha que aceita as reformas desde que Temer negocie elas melhor. Sequer nos sites da CUT e Força existe menção à greve que está agendada para daqui a duas semanas. Sem uma contundente ação operária e sem um programa independente de resposta à crise ficaremos reféns dessa trágica novela nacional.

 
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