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ANÁLISE
Temer sobreviver ao TSE pode agravar a crise do país
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
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Todos principais jornalistas do país preveem uma vitória de Temer no TSE. Ao contrário do que Temer quer transparecer, essa vitória está longe de significar o fim da agonia de seu governo e serviria para continuar ou até mesmo aumentar as crises que atravessa o país.

Depois de uma ofensiva midiática e do judiciário em uma tentativa de “golpe dentro do golpe”, para promover um outro capitão das odiadas reformas para que os brasileiros trabalhem até morrer, Temer sobreviveu. Mas segue uma conjuntura marcada por um certo "vazio de governo" e de acelerar dos tempos onde os meses se contam em dias, e os dias em anos, com espaço importante para a intervenção da classe trabalhadora.

Temer aferrou-se ao cargo mas está longe de governar e recompor uma maioria parlamentar segura e mesmo as reformas pelas quais um setor da burguesia ainda o quer no cargo estão longe de garantidas de serem aprovadas. A reforma trabalhista, de mais fácil aprovação que a da previdência depende dos ritmos de Rodrigo Janot, se este oferecer a denúncia contra Temer toda política nacional ficará consumida por esse tema.

Tudo indica que o mais provável é a vitória de Temer no TSE, no entanto não é 100% seguro que Temer sairá vencedor no TSE nem que não haverá protelação do julgamento através de algum pedido de vistas, fazendo o julgamento casar com a provável denúncia que Rodrigo Janot protocolará no STF, o que exigirá em menos de um mês uma votação na Câmara se esta afastará ou não Temer.

A sobrevivência de Temer não responde somente às ações do TSE, mas há um jogo mais complexo da correlação de forças entre as classes sociais e as ações dos diferentes atores políticos no país que atravessam cada tema do país, dos julgamentos, às manchetes dos jornais e há diversos indícios que os atores tendem a aumentar suas apostas.

Temer sobreviveu até aqui por três fatores fundamentais: a) divisão em setores da burguesia nacional sobre manter-se apoiando ele ou não para conduzir as reformas que todos defendem; b) divisão daqueles que querem a saída de Temer sobre quem colocar em seu lugar; c) tentativa de conter e desviar o descontentamento dos trabalhadores por parte do PT e das centrais sindicais que marcaram uma nova greve geral dia 30 de junho mas até o momento não se colocaram ativamente em sua construção, o que poderia intensificar a crise.

Ao contrário das propagandas da mídia e do governo a situação da economia está longe de “ter melhorado” para ser um fator de estabilidade. E sua popularidade, tendo que aplicar as reformas para se manter no cargo não parecem ter nenhum caminho de recuperação. Soma-se a isso que setores da mídia, como O Globo e a Folha, partidos e alas de partidos romperam com seu governo sem condições de voltar, e, o “partido da toga e da algema” capitaneado por Janot, mas também por Fachin, Daiello e a “república de Curitiba” estão em um caminho sem volta de buscar salvar seu próprio quinhão às custas de incentivar a derrubada de Temer. Todos esses fatores seguirão atuando e de forma aumentada mesmo com a provável vitória de Temer no TSE.

Partido da toga e da algema em ação

Temer, com apoio tácito ou explícito de todos principais partidos do regime político começou a promover um cerco a instituições que ganharam grande popularidade nos últimos anos: o MPF e a PF. Ameaçando destituir o chefe da PF, Leandro Daiello e, ameaçando relocar procuradores de Curitiba para o resto do país, bem como não prometendo ratificar quem for eleito para suceder Rodrigo Janot nos próximos meses, mas escolher à dedo quem possa “estancar a sangria” na nobre expressão de seu conviva Eliseu Padilha.

À luz dessas ameaças, Janot e Fachin tomaram à frente de “seu partido”. A rapidez com que Janot deu um golpe mortal com as gravações de Joesley Batista atestaram a força que o MPF veio acumulando. Fachin secundou todos procedimentos arbitrários e repressivos nessa tentativa de “golpe dentro do golpe”. Como o que menos importa ao MPF ou a seus inimigos no parlamento é o combate à corrupção, Joesley flana por Nova York e todas empresas corruptas seguem impunes, delatores gozam de suas "prisões" e mansões.

Com a velocidade que tem tocado a delação da JBS, é uma aposta quase certa que nos próximos dias Janot irá protocolar denúncia contra Temer. As perguntas formuladas pela PF-MPF, mirando as relações do presidente com Joesley, outros empresários e até mesmo conhecidos podres de suas relações em Santos indicam esse curso que forçará a Câmara a se pronunciar se quer a continuidade de Temer ou não.

A divisão dos de cima ajuda taticamente Temer mas aumenta as instabilidades

Um fator de sobrevivência de Temer é a divisão de setores da burguesia nacional sobre sua manutenção ou não no cargo. Essa divisão também se reflete nos partidos, sobretudo em seu esteio de governabilidade, o tucanato. Múltiplos cálculos interferem no jogo dos tucanos, quem se candidataria à presidência, a probabilidade de eleições indiretas conduzirem Rodrigo Maia e não um dos “seus”, acordos com Temer para blindá-lo em troca de salvar Aécio, falta de um nome para conduzir as reformas que todo “mercado” clama.

Essa divisão pode jogar taticamente a favor de Temer, mas gera maior instabilidade. Cada cacique segue a máxima popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Os empresários se bandearão com quem aparecer como o melhor condutor das reformas. As promessas tucanas de instaurar um “semi-parlamentarismo”, caso rompam com o governo, mas que mesmo assim seguiriam em apoio às medidas no Congresso não resolve o impasse da permanência ou não de Temer e quem efetivamente governa.

As odiadas reformas, continuidade do desemprego podem aumentar a luta dos trabalhadores

Dia 28 de Abril, o país parou, palco da primeira e maior greve geral em décadas. Dia 24 de maio, uma manifestação em Brasília expressou, com os limites que as burocracias sindicais permitiram a continuidade daquele descontentamento. Dia 30 de junho, com nova greve geral marcada, abundam condições para superar o dia 28 e fornecer mais um elemento para colocar o governo, mas também as reformas na berlinda.

Essas ações levantam questionamento sobre uma base que Temer tenta oferecer para sua sustentação: a economia. Porém, ao contrário da propaganda, essa não é uma base sólida para seu governo. O próprio Banco Central em relatório recente indica instabilidades na aprovação das reformas, e não há como maquiar por muito tempo a fraqueza do PIB positivo de um trimestre recém anunciado. O crescimento do PIB, em meio a queda do consumo das famílias, responsável por 65% do computo da economia nacional, foi mascarado por uma excepcional safra que faz a economia ganhar cada vez mais contornos de primarização, destruição do meio-ambiente e dependência de multinacionais de agrotóxicos e sementes modificadas geneticamente.

Os ganhos em exportações de produtos que não tem nenhum valor agregado e não tem sequer uma tendência a alta em suas cotações internacionais não garante nenhum futuro promissor. Esse “boom” no campo foi motivado sobretudo pelo milho, mas mesmo com a safra recorde, a produtividade por hectare é quase 4 vezes inferior à americana, como mostraremos em outro artigo.

A suposta “melhora” na economia é uma melhora sem emprego. Não melhora o descontentamento e dá mais ânimo para que a classe trabalhadora faça do dia 30 superior ao dia 28 de abril. Os limites colocados pelas direções dos grandes sindicatos e centrais sindicais é o que permite que a situação continue como um impasse: Temer não é forte suficiente para se recuperar nem tão fraco que “já caiu”.

A classe trabalhadora pode romper o impasse

Esse retrato do momento, a “foto”, se Temer conseguir uma vitória no TSE não melhora o filme. Não se sabe com quais condições pode seguir governando, muito menos se pode aplicar as reformas pela quais um setor da burguesia o mantem no cargo, à falta de substituto, e pior como fazer isso sem incentivar maiores ações dos trabalhadores. Essa instabilidade pode ser a senha para uma entrada em cena superior da classe trabalhadora. Para isso é necessário tomar em suas mãos o dia 30 de junho, organizar comitês em cada local de trabalho e assim oferecer uma mostra contundente de um outro caminho à crise que questione não somente os políticos, o que está na “boca do povo”, mas também os juízes, procuradores e os capitalistas, começando pelos corruptos, como Joesley, à solta em Nova York e lutar pela estatização sob controle dos trabalhadores de todas as empresas corruptas. Para contribuir nessa perspectiva, como parte da luta para superar toda forma de “democracia dos ricos” e impor um governo dos trabalhadores em ruptura com o capitalismo o Esquerda Diário defende uma Constituinte Já.

Leia também o editorial de Marcello Pablito:Construamos a greve de 30 de junho através de centenas de comitês e assembleias de base

 
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