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CRISE DOS DE CIMA
PSDB não é Madame Bovary, é golpista (e machista)
Patricia Galvão
Diretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil
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Diante da enorme crise “dos de cima”, com as delações feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS, especula-se uma possível “debandada” da base do atual governo ilegítimo, liderada principalmente pelo PSDB. As delações colocaram em risco a execução das reformas trabalhista e da previdência, desejo da direita golpista e dos capitalistas sedentos por descontar a crise nas costas da classe trabalhadora. Articulando uma saída reacionária à crise política, com eleições indiretas, o PSDB está metido até o pescoço no mar de lama das delações da JBS junto com Temer.

O ministro das relações exteriores, Aloysio Nunes, do PSDB, ao ser questionado sobre uma possível saída do seu partido do governo do golpista Temer, afirmou “O PSDB tem compromissos com o governo e com o programa de governo. E o PSDB não é Madame Bovary”.

Com certeza o PSDB não é Madame Bovary.

O ministro faz referência a um clássico da literatura do século XIX, escrita pelo francês Gustave Flaubert, um crítico mordaz da burguesia. O autor [e sua obra] foi considerado “imoral e corruptor” de moças “de família”, chegando a ser processado (e inocentado).

Emma Bovary, a heroína da história, é uma moça pequeno burguesa provinciana e sonhadora, presa a um casamento infeliz e vida tediosa que, ao tentar uma fuga do tédio e da vida matrimonial a qual foi confinada, comete adultério, se endivida e suicida-se. Muito além de uma simples história de traição, Madame Bovary traz profundos questionamentos sobre a sociedade da época e o papel relegado às mulheres.

Assim como Emma Bovary, os homens também se entediavam com a vida. Eles, no entanto, podiam viajar, estudar fora, tinham amantes. As mulheres não podiam ter uma vida independente, não podiam sair sozinhas, viajar. Não lhes era permitido uma vida por fora do casamento e o adultério era respondido em muitos casos com a morte (da mulher).

Mesmo que discordemos das escolhas de Emma, muitas vezes fúteis, atrapalhadas ou até egoístas, ela rompe com a imagem moralista idealizada de mulher. Mais ainda, Emma assume os rumos de sua vida, tentando romper com o papel que lhe é imposto. Vale lembrar que no século XIX, e até hoje, impunham a mulher o papel de mãe e esposa devota. Havia até artigos científicos afirmando a natureza doméstica da mulher. Emma luta para dar algum sentido à sua vida e romper com essa lógica. E na sociedade machista do século XIX, seu fim não seria outro que não trágico.

Portanto, Madame Bovary não é uma história de traição.

O PSDB não é Madame Bovary. É o partido da ordem, do sistema capitalista opressor. É parte da direita que avança sobre os direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos negros, da juventude. Temer é o agente do golpismo e executor das reformas desejadas e exigidas por políticos como os do PSDB.

Ao fazer referência à personagem, Aloysio Nunes tenta lavar a cara do seu partido num discurso do tipo “jamais trairia o governo ou seus princípios”. Longe de ser uma questão de princípios, o jogo político do PSDB é de conveniência: Quem serve para aplicar as reformas? Se não Temer, busquemos outro, num grande acordo com os de cima para atacar os de baixo. A referência desastrosa à Madame Bovary revela mais uma vez a faceta machista da direita. Essa alusão à traição conjugal é carregada de moralismo ao tentar comparar o oportunismo do PSDB frente a crise política à busca de uma mulher do século XIX de se libertar das amarras de um casamento da qual se sente prisioneira.

Dentro ou fora do governo golpista o PSDB mantém fiel a sua agenda de ataques, custe o que custar. Suas manobras oportunistas, por mais novelescas e absurdas que pareçam são a parte mais real da feia realidade do sistema capitalista e jogo político da burguesia. House of Cards seria uma comparação mais plausível para o momento político atual. Fica o lembrete para a próxima citação do PSDB.

 
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