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CORRUPÇÃO E IRMÃOS BATISTA
JBS contratou auditoria privada para "provar" que não havia corrupção em empresa do grupo
Fernando Pardal

"Quem paga a banda escolhe a música". O ditado popular se aplica muito bem aos serviços de auditoria privada das empresas Veirano Advogados e Ernst & Young para apurar possíveis irregularidades na Eldorado Celulose, empresa do grupo J&F, dono da JBS.

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A auditoria realizada na Eldorado Celulose, que concluiu que não havia irregularidades na empresa, ocorreu apenas dois meses antes da delação de Joesley Batista, que apontou crimes de corrupção naquilo que havia sido supostamente investigado pelas auditorias privadas.

Um dos pontos delatados por Joesley é de que um empréstimo de R$ 946 milhões feito pelo FI-FGTS (fundo de investimentos que usa recursos do FGTS) foi obtido por meio de pagamento de propinas, e que os cerca de R$ 37,4 milhões em pagamentos feitos pela Eldorado a empresas de Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e intermediador dos empréstimos do FI-FGTS, eram referentes a pagamentos ilícitos.

O fato pode surpreender acionistas de fundos de pensão ligados à Eldorado, mas chega a ser ridícula a ideia de que uma empresa contratada pelo próprio Joesley iria denunciar qualquer irregularidade em sua empresa que fosse prejudicá-lo. É evidente que, numa relação de clientela com os auditores, onde é o cliente que paga aos investigadores, eles só dirão o que o capitalista que os contrata quer.

É o mesmo mecanismo, aliás, que ocorre com as agências de risco de Wall Street: no filme "A grande aposta", um diálogo emblemático com um dos analistas da agência mostrava exatamente isso; ou a agência dava a nota mais alta exigida pelas empresas, ou as empresas iriam a outra agência de risco e eles perderiam o cliente. O caso da auditoria privada é exatamente o mesmo: se uma empresa de advocacia realmente aponta podres e corrupções do cliente que a contratou, nenhum outro a contratará. Só pagam a auditores que digam que "está tudo bem" na empresa.

A Veirano Advogados, ao ser questionada pela reportagem do jornal Estado de S. Paulo sobre a auditoria da Eldorado, respondeu: “em investigações desta natureza, há escopo de atuação definido pelos órgãos da própria companhia, e o resultado depende das informações por ela disponibilizadas, não tendo o escritório mandato para ir além dos limites contratuais estabelecidos, nem tampouco poder de exigir a produção de provas ou evidências”.

Ou seja, é ainda mais ridículo: a auditora vai "investigar" exatamente aquilo que for determinado pelo seu cliente, não tendo nem sequer poder legal para ir além disso. É literalmente a compra de um "certificado" de não-corrupção para qualquer capitalista mostrar a seus investidores.

De acordo com o Estadão, essa mesma firma de advocacia foi responsável pela investigação feita no BTG Pactual após a prisão de André Esteves, principal acionista do banco, em 2015, envolvido em denúncias na Lava Jato. A conclusão da investigação foi de que, dentro do escopo apresentado pela empresa, não havia irregularidades. (Quem diria!)

Já a Ernst e Young deu outra justificativa para o fato de que não tenha apontado irregularidades: eles dizem que a conclusão apresentada ao conselho executivo da Eldorado não refletia a investigação que havia feito. Seja ou não verdade, mostra mais uma vez o ridículo da coisa: se o resultado da auditoria apontar alguma irregularidade, quem pagou por ele pode simplesmente deixar essa parte de fora quando for apresentar aos acionistas. Afinal, o relatório da auditoria é de propriedade dele e ele usa como bem entender. Atualmente, a Ernst e Young é responsável por uma investigação na JBS.

É o tipo de "negócio" que escancara, ainda mais do que a sempre presente compra de políticos pelas empresas o quão descarados são os capitalistas para comprar qualquer coisa. De políticos a auditorias, tudo no capitalismo é uma mercadoria a seu dispor. Cabe a nos encerrar essa "farra".

 
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