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Esquerda argentina alcança milhões de jovens com campanha "Nossas vidas valem mais que os lucros deles"
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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No artigo anterior, mostramos o início da vibrante campanha do PTS, organização irmã do MRT na Argentina e parte da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, "Nossas vidas valem mais que os lucros deles".

Com a proposta “reduzir a jornada de trabalho para 6 horas, 5 dias por semana, sem redução salarial” e que ninguém receba abaixo da renda mínima familiar, atraiu a atenção de dezenas de milhares, e entusiasmou especialmente setores da juventude trabalhadora e estudantil, que vive precarizada sem poder concluir seus estudos porque precisa deixar a vida no trabalho. Uma campanha política que já é visualizada por milhões nas redes sociais.

Nicolás Del Caño e Christian Castillo, ambos do PTS e referências da esquerda argentina, atacam um dos núcleos fundamentais da sociedade capitalista: a necessidade de estender ao máximo extenuantes jornadas de trabalho para os empregados, mantendo um gigantesco número de desempregados ("exército industrial de reserva", segundo Karl Marx). Para aumentar sua margem de lucro, os capitalistas devoram a vida dos trabalhadores nas fábricas e nos serviços, extraindo o bem mais precioso do ser humano - o tempo - e impedindo que centenas de milhões de trabalhadores em todo o mundo tenham acesso à herança cultural da humanidade, à ciência, à arte, ao ócio produtivo.

Nesta propaganda (spot), um jovem trabalhador industrial discorre sobre a crueldade do trabalho rotativo por turnos que misturam jornadas diurnas e noturnas, alterando o relógio biológico e destruindo nervos e tendões, enquanto é privado da vida em família e com os amigos. Uma realidade vivida pela maioria da juventude trabalhadora.

"Em meu serviço trabalhamos na escala 6 x2 com turnos rotativos. Você sabe o que isso significa? Que eu tenho um final de semana livre a cada mês e meio. Que há semanas que trabalho de dia e outras de noite. Não sei o que é compartilhar um churrasco com minha família. E nem falar de sair com meus amigos. Tenho 24 anos e estou destruído. Minhas companheiras também, e às vezes choram de raiva porque não conseguem pegar seus filhos nos braços. Os políticos cheios de dinheiro são pura fraude, favorecem os empresários que nos exploram. Por isso, apoio o que propõe Nicolás Del Caño.

Propomos reduzir a jornada de trabalho a 6 horas, 5 dias, repartindo as horas de trabalho entre empregados e desempregados.

Porque não quero deixar minha vida no trabalho"

Neste outro spot, o ex-deputado federal e dirigente do PTS, Christina Castillo, também professor na Universidade de Buenos Aires, aborda um problema social vivido por milhões de jovens: não podem permanecer estudando porque não tem condições de se manter sem vender sua força de trabalho.

"Há quase 30 anos dou aulas na Universidade Nacional de La Plata e na UBA, a cada ano vejo centenas de jovens que iniciam seus cursos com grandes sonhos, mas os que conseguem emprego são obrigados a se submeter a jornadas exaustivas. Nem o tempo nem o salário são suficientes para cursar e chegar ao final do mês. Por isso, de cada 4 alunos que ingressam na universidade, 3 abandonam o curso.

Para que ninguém seja expulso da universidade pública, assim como conquistamos o passe livre estudantil, com Nicolás Del Caño propomos bolsas de estudo integrais. É mentira que não há dinheiro! Com as isenções fiscais e tarifas que deixaram de cobrar do agronegócio, se poderiam conceder 400 mil bolsas de estudos no valor de $11. 500 pesos por mês. E trabalhando 6 horas, 5 dias da semana, recebendo o valor estipulado pela renda mínima familiar, poderíamos trabalhar menos, trabalhar todos, e que ninguém deixe de estudar.

Nossas vidas valem mais que seus lucros".

Em outro spot da campanha, este problema é abordado de outro ângulo: um jovem trabalhador precário de redes de fast-food coloca o problema da rotatividade do trabalho, que acaba com qualquer possibilidade de planejar a vida, inclusive estudar. A falta de emprego deixa a juventude à mercê da ganância dos capitalistas, que constroem este enorme “exército industrial de reserva” como dizia Marx, para diminuir os salários e chantagear os trabalhadores empregados.

Sou Juan, tenho 22 anos. Aos 18 consegui meu primeiro emprego, contratado por uma terceirizada. Trabalhei 6 meses numa oficina. Quando acabou o contrato fiquei 3 meses sem nada. Consegui outro emprego com turno rotativos e tive de deixar de estudar. Desde esse momento minha vida é assim. Quando não tenho emprego não posso estudar, nem sair, nem fazer quase nada porque não tenho dinheiro. Se consigo algo, é sempre rotativo e com escalas imprevistas, e posso levar até duas horas de viagem tanto na ida quanto para voltar. É impossível projetar qualquer coisa. Por isso apoio a proposta de Nicolás Del Caño.

Propomos reduzir a jornada de trabalho a 6 horas, 5 dias, repartindo as horas de trabalho entre empregados e desempregados, sem redução salarial, e que ninguém receba menos que a renda mínima familiar.”

No Brasil, o governo golpista em crise de Temer busca aprofundar ainda mais este flagelo contra a juventude através da draconiana reforma trabalhista, permitindo que se estenda até 12 horas a jornada de trabalho, com turnos rotativos e sem estabilidade, que se possa trabalhar ao mesmo tempo para mais de um patrão e se receba de acordo com a produtividade. Um retorno às condições do século XIX, atacando uma série de direitos trabalhistas adquiridos, junto com a nefasta reforma da previdência, que quer que trabalhemos até morrer.

Esta é a opinião dos grandes capitalistas brasileiros e de seus políticos pagos: que um trabalhador não tem de ter uma hora de almoço, e sim há conforto em "comer um hambúrguer com a mão esquerda enquanto se operar a máquina com a direita". Que se pode flexibilizar "a idade de trabalho", regulamentando a escravidão infantil. Que não há problema algum em se adotar uma jornada laboral semanal de 80 horas, e até 12 horas por dia, e que só se possa aposentar quando todos os ossos e nervos da imensa maioria da população - os trabalhadores da cidade e do campo estiverem triturados. Mas tudo isso é "para o bem dos pobres", ganham como nomes "reforma da previdência" e "reforma trabalhista".

Os capitalistas vivem do sangue e suor da classe trabalhadora. É daí que tiram seus lucros. Querem aumentar enormemente a exploração de todos nós, tirando nosso lazer, nosso tempo de descanso, usufruto com a família, querem que deixemos nossas vidas nas fábricas e nos locais de trabalho. Que não possamos carregar nossos filhos nos braços porque nossos tendões estão rompidos pelo trabalho repetitivo e pela interminável jornada de trabalho.

A campanha flamante da esquerda argentina, com seus grandes referentes da Frente de Esquerda (Nicolás Del Caño, Myriam Bregman, Christian Castillo) é uma enorme inspiração para os combates no Brasil. Aqui como em todo o mundo é necessário atacar os lucros dos capitalistas, batalhar pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, e a partilha das horas de trabalho disponíveis entre empregados e desempregados, para terminar com o atroz exército industrial de reserva.

Esta campanha política tem por objetivo elevar as aspirações da classe trabalhadora e da juventude, não naturalizar a violência imposta pelos capitalistas (não vamos deixar nossas vidas nas fábricas, não vamos trabalhar até morrer e abandonar nossos estudos!) e lutar para que os patrões paguem por sua crise.

 
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