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ELEIÇÕES NA FRANÇA
O que expressa um terço dos franceses não terem votado nem em Macron e nem Le Pen?
Anália Micheloud

1 em cada 3 franceses votaram em branco ou não votaram. A crise do regime francês visto através das urnas.

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Emmanuel Macron obteve 66,10% dos votos e se alçou à vitória no segundo turno contra Marine Le Pen, tornando-se o mais jovem presidente da França. Vários analistas têm destacado a sua capacidade de organizar o seu próprio espaço político em tempo recorde, por fora dos partidos tradicionais e das regras da política francesa.

Além disso, Macron ganhou em todos os distritos do país (e regiões ultramarinas), exceto em dois: País de Gales e Altos da França, onde Le Pen obteve vitória com pouco mais de 50% dos votos.

No entanto, a eleição de ontem mostra algo mais do que a vitória de Macron. Expressa sua debilidade e baixa legitimidade, que se traduziu na baixa participação eleitoral e no número de votos em branco e nulos.

Se na primeira rodada o comparecimento foi de 78,69%, no segundo turno se reduziu para 75,34%. Em Paris, Lyon e Marselha, as cidades mais populosas do país, foram onde se expressou a mais alta abstenção, crescendo em comparação a 23 de abril. Por exemplo, em Paris, onde Macron venceu por mais de 90% dos votos válidos, a abstenção passou de 16,15% no primeiro turno para 21,51% no segundo.

Enquanto Macron conseguiu 20,753,704 milhões de votos, a abstenção e o voto em branco totalizaram 16.800.000 milhões, inclusive superando em 4 milhões a Le Pen, que ganhou 10.643.937 milhões de votos.

O voto nulo e em branco foi de 12% dos eleitores ou 9% dos inscritos. Na primeira rodada, ambos somaram apenas 1,99%.

De cada 100 franceses:

25 não votaram
9 votaram em branco ou nulo
22 votaram em Le Pen
44 votaram em Macron

A crise do regime francês: Nem Le Pen e nem Macron

A rejeição que despertaram ambos os candidatos foi notável. Via-se nas ruas, nas marchas que durante duas semanas levantaram bandeiras com uma clara consigna: Nem Le Pen nem Macron!

As condições de vida e de trabalho dos franceses, especialmente da juventude, estão cada vez piores. Menos oportunidades de trabalho e baixos salários, que as patronais tentarão seguir piorando, como vimos em 2016 com a reforma trabalhista. E, inclusive, com a chamada "Lei de Macron", mais um instrumento para flexibilizar a contratação de trabalhadores que implementou Macron em seus anos no ministério da economia.

O fato de 1 em cada 3 franceses não ter escolhido nenhum dos candidatos expressou a raiva da população e falta de representatividade, não só dos partidos tradicionais, atolados em enormes crises, mas do regime francês de conjunto. Se temos de voltar a 1969 para encontrar indicadores semelhantes nas eleições, isso demonstra o nível de degradação em que se encontra o imperialismo francês. Ainda este ano, a percentagem de votos em branco foi a metade das pessoas que receberam a cédula menos entusiasmaste das últimas décadas.

Macron obteve o apoio de grandes aparatos partidários, como o Partido Republicano e o Partido Socialista, não tanto por simpatia pelo ex-ministro, mas porque eram conscientes de que a alternativa Le Pen levaria a um processo de ruptura da França com a UE, entre outras muitas medidas que não correspondem com a linha globalizante do mundo financeiro e empresarial francês. Este apoio e o medo causado por Le Pen serviu para que prevalecesse a lógica do "mal menor".

Mas isso não é garantia de um governo legítimo. Macron não conta com mais do que o apoio de 18% dos franceses, o número real que votou nele no primeiro turno. E vai ser difícil cumprir o mandato sem estabelecer alianças com partidos que dominaram o jogo político francês nas últimas décadas da V República: o socialismo e o republicanismo, ainda que mergulhados em descrédito e falta de representatividade. Em apenas um mês, Macron tem seu primeiro grande desafio: as eleições legislativas. Aí começará a aparecer a tática que pretende desenvolver Macron para construir governabilidade.

O agravamento da crise orgânica do regime francês teve esse domingo seu novo capítulo, com a rejeição de ambos os candidatos e a incerteza que prevaleceu durante a campanha eleitoral. Esta nova subjetividade da classe trabalhadora francesa, que vem se expressando nas ruas, na luta contra a lei Kohmri, em marchas contra a brutalidade policial e esse rechaço nas urnas expresso na campanha "Nem Le Pen nem Macron!" são a base para o surgimento de uma nova etapa da luta de classes no movimento operário francês.

Fonte de dados: Ministério do Interior da França

 
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