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DEBATE SOBRE REVOLUÇÃO RUSSA NA PARAÍBA
100 anos da Revolução Russa um debate de estratégias
Gonzalo Adrian Rojas

Dando continuidade as atividades que abordam os 100 anos da Revolução Russa o Coletivo representativo dos Docentes em Luta (CORDEL) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) organizou, na última terça-feira 02 de maio, na cidade de João Pessoa no estado de Paraíba, uma Mesa-Debate intitulada: "Centenário da Revolução Russa e a Primeira Greve Geral no Brasil. Balanços e Perspectivas".

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Participei da mesa desde Esquerda Diário impulsionada pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), juntamente com o Professor de História Thiago Bernardon da UFPB e com Luciano Barbosa, Diretor do Sindicato Estadual dos Professionais de Educação (SEPE-RJ) do Coletivo Luta Educadora.

Como tivemos que fazer em outras ocasiões, a participação na mesa me fez escolher alguns eixos de intervenção e polêmicas sobre o tema, que apresentarei nesta breve matéria e que devem continuar sendo desenvolvidos.

Desde nosso ponto de vista, na perspectiva de León Trotsky em Lições de Outubro, a Revolução Russa deve ser estudada, em particular em termos organizativos e políticos, e neste sentido os cem anos da Revolução Russa é um momento chave para realizar um balanço político, um debate de estratégias. Para isso é preciso defender de forma ofensiva todas as lições e conclusões que a classe trabalhadora possa tirar da primeira ocasião em que chega a se fazer do poder político no nível estatal.

Diferenciamos táctica e estratégia a partir do acumulo dos debates sobre o tema na III Internacional e Trotsky a partir duma análise critico de Karl von Clausewitz. Entendemos táctica como a arte de orientar as operações isoladas, a direção dos combates parciais e estratégia como a arte de vencer, ligar os resultados ao objetivo da guerra, a conquista do poder político pelo proletariado e a instauração de um governo operário, entendida como afirma Trotsky no programa de transição (1938), a forma popular da ditadura do proletariado. Só conseguiremos este objetivo com independência teórica e política, subordinando a táctica a estratégia e criticando a todas as frações da burguesia e seus ideólogos, os que, por diferentes meios, vão querer apagar as conclusões revolucionárias que possamos tirar de seu legado e apresentar a Revolução Russa como a criadora de todos os males da humanidade. Mas também devemos abordar um debate de estratégias no interior da própria esquerda que apresenta que a revolução Russa é sinônimo de Estatismo e stalinismo, justamente sua contra-cara a da contrarrevolução burocrática, assim como das variantes kautskystas, maoísmo, foquismo e o próprio anarquismo ou autonomismo.

As escolhas dos eixos, então, tiveram relação com a necessária crítica a um conjunto de afirmações que em geral historiadores e jornalistas, ideólogos da burguesia, apresentam sobre a Revolução Russa, acrescentando que deve se fazer também uma caraterização e um necessário balanço das diferentes estratégias da esquerda.

Foram principalmente abordados quatro eixos. Estes eixos foram comentados com Christian Castillo, dirigente do Partido de Trabajadores Socialistas (PTS) da Argentina, integrante da Fração Trotskista – Quarta Internacional, organização irmã do MRT. Contei com sua colaboração, mas a responsabilidade tanto na mesa debate como pela matéria é minha.:

1. A revolução russa foi uma revolução social e não um golpe de estado

Para nós a Revolução Russa foi uma revolução social e não um golpe de estado. Em geral se realiza uma comparação entre a revolução de fevereiro de 1917, que seria legítima porque foi espontânea, e a de outubro que não, porque foi planejada até o mais mínimo detalhe. Este argumento não é novo, mas se repete. A crítica central seria que os trabalhadores só temos direito a nos levantar de forma espontânea e desorganizada, o que se crítica é a organização da insurreição, planejada nos seus detalhes, a capacidade do que F. Engels chama a arte da insurreição que nos orgulha é o que se critica. Isto não significa que a estratégia bolchevique seja uma estratégia Blanquista, em referência ao grande revolucionário francês Louis Auguste Blanqui. Se bem o blanquismo tem como preocupação a organização da insurreição este não leva em conta as condições objetivas. O marxismo revolucionário destaca a importância do momento insurrecional, mas só pode se obter uma vitória no caso que seja expressão da vontade dos explorados e dos oprimidos. Importante lembrar aqui as polêmicas de Marx com Blanqui e as diferenças que se expressaram na Comuna de Paris (1871) e a delimitação do próprio Lenin desta estratégia no livro Um passo em frente dos atrás (maio 1904), assim na sua polêmica com Rosa Luxemburg no interior do campo revolucionário, mas num artigo de setembro de 1904 que leva o mesmo nome.

Importante ter uma visão do conjunto do processo, tendo em consideração que os bolcheviques eram minoria no fevereiro de 1917 nos sovietes dirigidos pelas alas conciliatórias os mencheviques e os socialistas revolucionários, a chegada de Lenin e a mudança a partir de suas conhecidas Teses de Abril onde centralmente afirma que Rússia sendo capitalista o caráter da revolução é socialista e o defesa político-estratégica de não apoiar o governo provisional, se manter firme na independência política, para que o movimento de massas fizesse sua experiencia até os bolcheviques se tornarem maioria nos sovietes. No segundo Congresso dos sovietes de toda Rússia os bolcheviques já tinham 390 delegados sobre 650 e quando se inicia a insurreição mais de 500 sovietes dos 670 que existiam nacionalmente se pronunciam a favor dela. Este apoio político foi o que permitiu tanto a tomada do poder político como se manter no poder.

2. Rejeitamos a afirmação que os bolcheviques abortaram um processo no qual havia um desenvolvimento de uma democracia burguesa na Rússia

Vinculado ao anterior, se afirma que os bolcheviques abortaram uma situação na qual havia um processo de desenvolvimento da democracia burguesa na Rússia para desde o início instalar um regime político autoritário. Um golpe de estado bolchevique não haveria permitido a consolidação de uma democracia constitucional para ser substituída por um regime autoritário. Rejeitamos esta afirmação, o próprio Max Weber, um liberal na defensiva, um militante anti-espartaquista (marxistas revolucionários alemães dirigidos por Karl Liebnecht e Rosa Luxemburg) e um anti-bolchevique nada neutro, militante, como deixa claro na sua conferência A política como vocação, na Universidade de Munich em janeiro de 1919, um insuspeito nos seus estudos políticos sobre a Rússia aborda a Revolução Russa de 1905 e expõe as dificuldades do próprio liberalismo para construir uma democracia liberal no país dos tzares.

No campo socialista era o argumento central usado por Karl Kautsky contra os bolcheviques, mas sua estratégia não era a da tomada do poder político pelo proletariado, senão uma estratégia parlamentária onde a tarefa do proletariado não seria preparar a insurreição mas fortalecer seu peso político no Parlamento aspirando a que os corpos legislativos subordinem aos poderes executivo e judiciário. A tarefa do proletariado esta bem longe da estratégia bolchevique da tomada do poder político e a destruição do Estado burguês para impor o governo operário. A soma de táticas de Kautsky que foi convertida em estratégia é conhecida no campo do marxismo como a “estratégia de desgaste” mudar as relações de força no interior do próprio Estado burguês, pressionando e usando o peso da classe trabalhadora no interior da democracia burguesa como se esta não tivesse um limite político e estrutural de classe.

Na Alemanha, onde esta estratégia moderada triunfa, onde os setores revolucionários são derrotados e seus principais dirigentes assassinados, não teve tampouco como resultado o desenvolvimento de uma república democrática burguesa, senão um regime político com fortes elementos bonapartistas como foi a República de Weimar com uma constituição parlamentaria, mas no marco de um regime plebiscitário onde o próprio Presidente poderia, por exemplo, declarar estado de exceção. Depois das derrotas das tentativas revolucionárias de 1921 e 1923 sem poder resolver os antagonismos de classes levou a chegada do nazismo ao poder.

3) Os bolcheviques estavam preocupados pela participação política das massas exploradas e oprimidas ou os sovietes eram só instrumentais?

Outro argumento comum é que os sovietes para os bolcheviques eram meramente instrumentais e que tinham como objetivo desde um início o regime de partido único. Rejeitamos esta ideia. Os bolcheviques se bem não fetichizavam os sovietes, sempre estiveram preocupados por encontrar formas novas que expressem a auto-organização das massas exploradas e oprimidas.

A questão é conceitual. O central é que organismos de duplo poder da classe operária acaudilhando aos setores oprimidos podem cumprir essa função em cada situação política específica, na Russia foram os sovietes, na Italia de Antonio Gramsci poderiam ser os Conselhos de Fábrica, por exemplo. O importante é saber que organismos expressam o novo poder operário que pode quebrar o Estado burguês. Deste ponto de vista os sovietes não eram só instrumentais para os bolcheviques.

Os sovietes, que utilizam muitos elementos da comuna, são um avanço qualitativo em relação a esta, já não adequado ao governo de uma cidade senão ao poder de Estado em transição num pais. A potencialidade dos sovietes se expressaram só em parte na experiência soviética pelos quatro anos de guerra civil interna e os 14 exércitos imperialistas que atacaram a Rússia soviética vivendo desde o início uma situação emergencial.

O problema político central é que as medidas de restrição da democracia soviética e no interior do partido que eram emergenciais para poder derrotar a contrarrevolução se transformam em “normais” com o stalinismo, de fato nunca se voltou a normalidade de uma democracia soviética. O stalinismo foi uma contrarrevolução burocrática e não era o caminho único que poderia tomar a revolução. O regime de partido único não era um dos objetivos da revolução. Não era um destino inexorável. Nesse sentido é central o papel exercido pela Oposição de Esquerda na URSS, a Oposição de Esquerda Internacional e posteriormente a IV Internacional e Leon Trotsky.

4) Defendemos a atualidade da estratégia bolchevique

Durante a mesa apresentamos a atualidade da estratégia revolucionária bolchevique, a estratégia da tomada do poder pela classe operária e a ditadura do proletariado, afirmando que não é anacrónica.

Mesmo que, por questões de espaço, só mencionaremos nesta matéria mas desenvolveremos em outras sobre o tema, é muito importante delimitar a estratégia bolchevique de outras estratégias políticas, como por exemplos, a guerra popular prolongada maoísta na segunda Revolução Chinesa de 1949, a foquista como interpretação oficial da revolução cubana de 1959 teorizada por Regis Debrais e a tática, mas convertida em estratégia com elementos espontaneístas apresentada definida por Kautky como “estratégia de desgaste” no campo do marxismo, da qual antecipamos alguns elementos nesta mesma matéria. Também é relevante nos diferenciar de outras correntes "emancipatórias" como as autonomistas de Antonio Negri ou anarquismo que negam da luta política.

Como conclusão, para nós é importante construir partidos revolucionários da classe trabalhadora no plano nacional, assim como no plano internacional, independentes dos governos, dos patrões e do Estado, que para nós desde o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) integrantes da Fração Trotskista (FT) é a IV Internacional.

 
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