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VOZ OPERÁRIA
Junho por dentro de uma fábrica
José Carlos, trabalhador da indústria de alimentos

Como eu vi as manifestações de junho de 2013 mexendo com a cabeça dos meus colegas de trabalho.

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Por José Carlos, trabalhador da indústria de alimentos

Foi muito rápido que aquilo tomou conta da galera, nem vi direito. No começo, ninguém ligava para as manifestações, era uma coisa distante, aí parece que de uma hora pra outra todo mundo só falava disso o dia inteiro. No vestiário, várias rodinhas debatendo se era certo quebrar as coisas ou se iam conseguir abaixar a passagem. A maioria apoiava, dizia que os manifestantes estavam certos, mas ficava se justificando que não dava pra ir porque era longe.

Depois começou a pipocar manifestação nos bairros do pessoal. Teve um dia que uns colegas estavam combinando de sair do trabalho e ir direto para uma manifestação no centro de Osasco. Outro dia um menino começou a contar que na noite anterior surgiu uma manifestação no seu bairro, ele não sabe como, mas que era mais de mil pessoas, senhoras, crianças, geral mesmo, tocaram fogo num ônibus e fecharam uma rua importante. Pouco a pouco a galera ia se envolvendo mais. Naqueles dias, agente trabalhava discutindo pra onde iam as manifestações e parecia que não iam acabar.
Depois da vitória, quando abaixaram a passagem, foi confuso. A maioria achava que “deu, tá bom”, mas tinha uns que não queriam que parassem e até falavam “agora que tem que continuar mais forte!”.

Aquelas manifestações despertaram uma vontade de resolver as coisas que não era só com a passagem, uma vontade que todo mundo tem um pouco, quando vê as injustiças do mundo, mas que acaba não ligando muito. Naqueles dias o pessoal da fábrica chegou a achar que as coisas no país podiam realmente mudar. Lembro que dava pra ver muita expectativa e alegria em vários colegas, mas depois foram vendo que não tinha sido dessa vez e alguns até chegaram a falar “então foi tudo isso só por causa de 20 centavos?!”.

Uns meses depois, muita coisa já tinha voltado ao normal, mas normal mesmo, igual antes, não tem como. Parece que a principal coisa que mudou foi que a presidenta Dilma ficou muito queimada. Tem um monte de gente que trabalha comigo que não liga nem um pouco pra política, mas que depois das manifestações começou a criticar bastante o governo da Dilma, por isso que foi tão difícil ela conseguir se reeleger, mesmo as eleições sendo mais de um ano depois. Como as pessoas foram abrindo a cabeça para querer melhorar o país e ela é a presidenta do país, era com ela o problema.

Na minha opinião, as manifestações de junho de 2013 causaram esse impacto na cabeça dos trabalhadores: gente que nem pensaria em se manifestar contra um aumento de passagem passou a achar possível mudar as coisas no país protestando. Tá certo que aos poucos muitos vão esquecendo e até duvidando das coisas que pensavam naqueles dias, mas também tem muitos que, por causa dessas manifestações, se tornaram capazes de dizer uma coisa que nem teriam como ou porque dizer antes, falam assim, “eu sou a favor de protestar, tem que ser direito, mas tem que protestar sim!”.

 
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