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POR UMA INTERNACIONAL DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
Rumo a uma nova etapa da situação mundial

À seguir apresentamos algumas conclusões debatidas na reunião da Fração Trotskista pela Quarta Internacional em março de 2017.

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Leia na íntegra o manifesto "Construamos um Movimento por uma Internacional da Revolução Socialista

A proliferação de nacionalismos de direita e, em particular, a ascensão de Donald Trump à posição mais alta do poder mundial, implica uma mudança de grande magnitude com relação à situação anterior e indica que se abriu um período caracterizado pelas tendências ao nacionalismo econômico (que tendem a se chocar com a estrutura fortemente globalizada do capitalismo atual), alianças instáveis, maiores disputas e rivalidades entre as grandes potências, guerras comerciais e também conflitos militares. A guerra civil na Síria pode ser uma antecipação nesse sentido.

A seguir, apresentamos algumas conclusões debatidas na reunião da Fração Trotskista pela Quarta Internacional de março deste ano. Esta breve síntese não pretende ser exaustiva, mas sim oficializar a “atualização” sintética ao Manifesto por um Movimento por uma Internacional da Revolução Socialista (Quarta Internacional) que publicamos em 2013.

As perspectivas internacionais abertas pelo “efeito Trump”

A política nacionalista que defende Trump é uma ruptura, ainda que não saibamos de qual magnitude, com os governos neoliberais e globalizadores – tanto conservadores, como social-democratas – que predominaram em todo o período da restauração neoliberal.

O governo de Trump, o Brexit e a ascensão dos partidos “eurocéticos” e xenófobos na Europa Ocidental – apesar de que ainda não defendam protecionismos abertos e consolidados, que significam reversões parciais das tendências globalizadoras hegemônicas nas últimas décadas – claramente são expressão do esgotamento do ciclo de uma suposta “globalização harmônica” que regeu as relações interestatais nas últimas décadas e que ganhou hegemonia a partir da restauração capitalista primeiro na ex-URSS e depois na China. Os EUA, como líder desta ordem neoliberal obtinha o benefício máximo para seus monopólios, mas permitia que as principais economias também tivessem sua parte. A crise capitalista de 2008 e seu prolongamento durante anos de baixo crescimento, alternado com tendências recessivas, colocou essa estrutura em questão. O nacionalismo econômico de Trump não quer dizer de forma nenhuma umisolamento nacional, mas pelo contrário, a reafirmação imperialista agressiva do interesse nacional do capital norte-americano, em primeiro lugar no terreno comercial.

No plano externo, o plano de Trump era frear a política mais agressiva em relação àRússia, que as administrações democratas e republicanas tiveram nos últimos anos como expressão política da linha da burguesia que vê a necessidade de fragmentar a esfera de influência russa e avançar para sua semicolonização. Hillary Clinton expressava a continuidade e o aprofundamento dessa orientação. No entanto, seria um erro considerar Trump isolacionista. Como expressa em grande medida sua aliança com o setor militar (e o significativo aumento do gasto militar) sua política é a de se preparar estrategicamente para seguir primando no terreno nuclear (por exemplo se propõe aliquidar a pequena vantagem que a Rússia possui sobre a quantidade de ogivas nucleares) e intervir onde o interesse norte-americano esteja em jogo. Para além de que ainda não esteja claro qual será sua estratégia na política exterior, sua política para a Rússia tem resistência ativa tanto internamente como pelos tradicionais aliados de Washington. O mais perigoso para a situação internacional é que a liderança norte-americana se tornou imprevisível e isso faz mais concreta a possibilidade de acidentes que, no mínimo, aumentem as tensões, ou inclusive possam levar a conflitos de maior magnitude. A crise que está se desenvolvendo na península da Coreia é um exemplo disso.

O desenvolvimento e aprofundamento das tendências ao nacionalismo reacionário nas grandes potências pode levar ao surgimento de nacionalismo defensivos no mundo semicolonial que podem dar lugar a fenômenos anti-imperialistas. Algo assim está se antecipando no México pais que está atualmente no olho do furacão dos ataques de Trump.

Rumo a mais luta de classes e novos fenômenos políticos

A chegada de Trump a presidência dos EUA não é um raio em um céu sereno. A crise histórica que o capitalismo vem atravessando desde 2008 vinha impulsionando tendências do tipo daquilo que Antonio Gramsci denominou de “crises orgânicas”; seja como tendência em vários países centrais, ou de forma aberta como em vários países semicoloniais e periféricos importantes como o Brasil ou o México. Nos referimos a crises estruturais de conjunto que colocam em evidência contradições profundas que as classes dominantes não podem resolver com os seus métodos habituais de dominação política, o que abre um período de questionamento profundo e de rupturas de setores importantes das classes exploradas com os partidos tradicionais em suas distintas variantes.

A nível internacional se abre uma etapa que coloca o aprofundamento das tendências à “crise orgânica”, tanto nos países centrais quanto na periferia. E com ela o surgimento de fenômenos “aberrantes” e colocação na ordem do dia de “soluções de força” da burguesia que se manifestam como tendências cesaristas ou bonapartistas, e que em última instância se resolverão em um sentido ou em outro no terreno da luta de classes. Estas tendências já estão em marcha com variantes nacionalistas nos países centrais. O próprio Trump, mas também o avanço da Frente Nacional na França e dos partidos da extrema direita eurocética, xenófoba e anti-imigrantes.

Também se expressaram fenômenos políticos à esquerda dos partidos tradicionais que deram lugar ao desenvolvimento de formações “neorreformistas” como o Syriza na Grécia, o Podemos no Estado Espanhol, fenômenos como o de Jeremy Corbyn no trabalhismo britânico ou de Bernie Sanders nas primárias dos EUA. A coalizão grega Syriza, única que chegou ao governo nacional de um país, mostrou sua bancarrota em poucos meses ao se converter em implementadora dos planos de ajuste e privatização da Troika. Mais recentemente na Alemanha parece se configurar uma nova tentativa de reciclagem “progressista” do velho partido social-democrata (SPD) com a figura de Martin Schulz.

Nos EUA, Trump desencadeou um forte movimento de protesto que ainda que tenha influência democrata e que em termos gerais possa ser capitalizado por uma frente popular “anti-Trump”, coloca em perspectiva a emergência de fenômenos progressistas e políticos da luta de classes. É sintomático o crescimento da militância de esquerda nos EUA que ainda que sem radicalização política, é um fenômeno que não se vê desde a guerra do Vietnã. O caráter anti-operário, antissindical e anti-imigrante do governo, seu apoio às polícias assassinas, das quais as principais vítimas são os negros, pode levar a que no marco das divisões burguesas e do aparato estatal emerja a luta de classes e conflua com este processo que vem da juventude precária, do movimento estudantil e das minorias. A luta para que a classe operária levante um programa contra toda opressão e toda injustiça contra os setores populares é de primeira ordem para uma estratégia independente e hegemônica, oposta àqueles que querem levar estas lutas em direção a alguma variante da burguesia.

Uma grande novidade é surgimento de um movimento de mulheres progressista, que neste momento é o único movimento de alcance internacional como demonstraram as massivas mobilizações do 8 de março (2017) em alguns países como no Uruguai junto com uma greve geral. Este é um fenômeno que vem se desenvolvendo nos últimos anos em países semicoloniais e imperialistas, como vimos com o #NiUnaMenos na Argentina, com o movimento de mulheres na Polônia e a marcha de mulheres que foi a primeira mobilização massiva contra Trump no dia seguinte de sua posse.

Mais em geral, a nova etapa que se abre a partir da posse de Trump (cujas consequências tanto em magnitude quanto em ritmo ainda estão por se definir), junto com o aprofundamento do processo de crise orgânica e o desenvolvimento de fenômenos políticos, coloca em evidência a possibilidade de saltos nas respostas do movimento de massas, como respostas a ataques mais diretos ou entrando em cena no marco de enfrentamentos interburgueses que deixem brechas para a ação independente do proletariado e dos explorados, como parece estar se expressando no Brasil e na Coréia do Sul. As crises orgânicas podem abrir situações mais clássicas de enfrentamentos de revolução e contra-revolução.

A necessidade redobrada do internacionalismo e do anti-imperialismo

O nacionalismo reacionário, a xenofobia e o chauvinismo das grandes potências imperialistas são tendências da situação mundial e chegaram para ficar. Mais do que nunca é necessário levantar bem alto as bandeiras do anti-imperialismo e do internacionalismo proletário.

Por exemplo, no México e nos EUA é necessário apresentar uma luta operária e popular comum a ambos os lados da fronteira que tome a defesa de seus irmãos imigrantes e que seja contra o saque que as transnacionais fazem no México. Também nos países imperialistas, é de primeira ordem levantar a exigência de que se perdoe a dívida externa dos países oprimidos, das semicolônias, mas também nos que, mesmo não sendo semicolônias, as massas trabalhadoras e populares sofram o fardo da dívida, como é na Grécia. Com estes exemplos queremos mostrar que, diferentemente do “progressismo”liberal-democrático, acreditamos que não basta a necessária solidariedade contra a perseguição aos imigrantes: trata-se de lutar também contra os fundamentos da opressão imperialista.

O internacionalismo não é um princípio abstrato, mas sim uma questão estratégica. As perspectivas que se abrem na situação internacional colocam a necessidade cada vez mais premente do desenvolvimento de partidos revolucionários nos países e uma internacional da revolução socialista que levante as bandeiras do anti-imperialismo e do internacionalismo proletário. A serviço deste objetivo é que, a partir da FT-QI, reafirmamos nestas páginas nossa proposta para colocar de pé um Movimento por uma Internacional da Revolução Socialista (Quarta Internacional).

 
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