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ECONOMIA
Um ano após o golpe: como anda a economia?
Matheus Correia

Completa-se um ano após o show de horrores na câmara dos deputados, que votou o impeachment de Dilma Roussef. Um ano do golpe que prometeu a recuperação da economia, num momento de crise internacional, ao mesmo tempo que faria as reformas “necessárias” para voltar o crescimento.

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Em matéria recente do site burguês O Valor, aponta um índice de atividade econômica do Banco Central, em que o índice cresceu 1,31% no último mês. Desde do ano passado, matérias como essas aparecem colocando e recolocando estimativas de volta do crescimento do PIB e da atividade industrial que na verdade não ocorrem. A expectativa ano passado era uma recuperação tímida do PIB, ainda menos que 1%, mas o que de fato ocorreu foi uma retração do mesmo num acumulado de quase 5% anualmente.

Agências de rating, que representam a burguesia internacional, avaliam a todo momento a nota de países como bons pagadores ou não, como forma de condicionar o capital especulativo mundial e conseguir aplicar suas agendas econômicas em outros países. Antes do golpe a nota do Brasil já vinha em queda, após um ano do mesmo as expectativas não melhoraram nesse quesito.

Trotski, ao analisar a situação mundial, diz nos que é preciso considerar a economia internacional, a relação inter-imperialista entre os países do sistema capitalista mundial e a luta de classes em nível internacional. Poderíamos fazer um paralelo ao analisar o Brasil e assim nos ajudar a definir se há de fato essa tal recuperação econômica.[1]

A volta do crescimento do preço de alguns produtos da pauta de exportação brasileira, muitas vez é como um fator para a recuperação econômica. A carne é um exemplo, que após o escândalo da carne fraca impactou as exportações. A exportação de carne bovina é uma das principais pautas do país, segue de longe à soja, o ferro e petróleo mas não deixa de ter uma relevância na imagem do país, podendo levar a complicações na exportação de frangos e suínos que são tão ou mais importantes que as exportações bovinas. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas Exportadoras de Carne (ABIEC), o país exportou 1,4milhão de toneladas bovinas, totalizando um valor de US$ 5,5 bilhões. Desse montante 718 milhões de dólares foram pagos por Hong Kong, 706 milhões pela China e outros 641 milhões de dólares da União Europeia. Ou seja, somente as medidas já anunciadas por esses países e blocos econômicos, de proibir a importação da carne brasileira, já colocam em risco quase 40% do valor exportado pelo Brasil no último ano.

Em fevereiro a Folha de São Paulo atentava para um crescimento de 67% do preço do petróleo, que enquanto número considerado de forma isolada, por parecer muito, mas na verdade era irrisório. Esse gráfico mostra a evolução de preços do petróleo, nota-se grande diferença entre o boom de 2008 que permitiu um crescimento econômico no governo do PT, e o período atual.

Contudo, talvez a questão mais importante com relação ao petróleo, não está em sua exportação e importação, apesar de ser um dado importante que temos que considerar uma vez que é um produto que gera altas ondas especulativas. Mas na verdade, temos que pensar a relevância das reservas desse produto, e os rendimentos que vem dele. Não à toa ficou tão em voga na mídia, a descoberta do pré-sal, que inclusive já vinha sendo privatizado no governo do PT, mas que se consumou após o golpe com a venda dos direitos de extração e as reservas do pré-sal. A Petróbras, que junto com outras empresas como JBS já foi a maior empresa do Brasil e da América Latina, passa hoje por uma séria crise ligada aos escândalos de corrupção da lava-jato, e a crescente debilidade dessa empresa, diminuem ainda mais qualquer perspectiva otimista da economia atualmente.

Não apenas com as commodities, mas dados recentes do IBGE mostram crescimento industrial de apenas 0,1%, com queda de 0,8% se comparado com o mesmo período anterior. A pesquisa revela ainda uma importante contradição entre os diversos setores da indústria brasileira, já que houve queda em setores que refletem diretamente no consumo das famílias, como higiene, limpeza e alimentos por exemplo. A queda nestes setores é uma indicação de que a taxa de desemprego ainda é alta e compromete dramaticamente a renda da família de milhões de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil.

Ao mesmo tempo que a economia interna evidentemente anda mal, seria possível uma recuperação brasileira por fora de um cenário externo favorável?

O que se percebe em um período de crise como o que estamos vivendo é um reforço dos traços gerais que moldam o capitalismo brasileiro, e de outros países atrasados como um todo. Dados recentes apontam que a América Latina exportará mais de 50% da produção de soja mundial em 2017. Mostrando uma reprimarização das economias semi-coloniais no próximo período, mostrando inclusive porque a classificamos enquanto economias semi-coloniais, uma vez que seus traços básicos de exportação de produtos primários segue firme, mas ainda mais por seu caráter dependente da economia internacional como escoadouro da produção e manuntenção de uma balança de pagamentos dependente desses produtos, além de seu papel na Divisão Internacional do Trabalho.

Os graduais aumentos da taxa da taxa de juros nos EUA apontam uma recuperação econômica ainda muito tímida, mas ainda mais com o Brexit e a crise em outros países centro do capitalismo mundial, mostram como estamos ainda longe de uma recuperação da economia. Na verdade o acirramento das disputas imperialistas, e da ofensiva militar com o governo Trump na Síria e com outros países como Coreia do Norte, generalizam uma crise que longe de ser apenas econômica é política e social, e mostram um futuro ainda muito incerto.

Outro fator está na luta de classes. Mais do que nunca, há uma crise com as velhas representações políticas reformistas e conciliadoras, e o fortalecimento dos “extremos” da linha política, que no Brasil tem sua representação no golpe (em que a direita ultra conservadora como os Bolsominions ganham força) e no descontentamento com o PT, mas também no coração do capitalismo com a vitória de Trump ou no Brexit levado pelos setores da direita inglesa.

Ao mesmo tempo, se assiste à um movimento internacional de mulheres contra o Trump e contra as opressões, bem como os movimentos de resistência negra que lutam por suas vidas, contra a violência policial, mas também movimentos de trabalhadores contra as medidas de austeridade aplicadas.

Luta de classes e Economia

O 15 e o 31 de março no Brasil, ainda estamos para ver como será com a greve geral a depender da mobilização das burocracias sindicais e estudantis, já mostram uma vontade de lutar contra os ataques que estão sendo colocados. Há uma profunda ligação entre a luta de classes e a economia, poderíamos refletir o papel da polícia e do aparato repressivo da burguesia para conter as lutar da classe trabalhadora, mas o fim último e que nos interessa é que a burguesia e o Estado Burguês como um todo necessitam conter a luta de classes para poder passar seus ataques.

Com certeza é uma preocupação de Meirelles, de Temer, do Paulo Skaf e da FIESP, se a classe trabalhadora e a juventude estão passivas o suficiente ou não, para poder implementarem seus ataques, passividade essa que é funcional para a manutenção dos lucros capitalistas. E nisso entra inclusive, o papel das burocracias sindicais enquanto freios da luta e braços do Estado capitalista, para manter qualquer luta que aconteça nos limites “aceitáveis”, como por muito tempo funcionou a CUT e CTB nos governos do PT.

Se os setores mais atingidos se mobilizam e impõe sua luta, a dinâmica da economia pode ser outra colocando em xeque vários investimentos especulativos que fugiriam do país com medo de uma situação que não podem explorar suficientemente a classe operária. Ao mesmo tempo, podendo colocar em xeque a organização da economia atual, colocando sua opção de organização social, com a nacionalização dos bancos, estatização das empresas sob o controle operário, planificação da economia, entre outros.

O próprio Meirelles afirmou que se a reforma da previdência não passar, as taxas de juros voltaram a subir. Que representa na verdade uma tentativa de dar garantias para as águias carecas internacionais, mas também para os setores da burguesia nacional de que seu lucro está garantido e não precisam se preocupar de uma forma ou de outra.

Os economistas burgueses apontam para uma gradual queda da taxa de juros, que hoje anda por 11,6% e que esperam para que atinja até 8% no final de 2018. De fato o aumento da taxa de juros foi usada por muito tempo para o rentismo internacional lucrar com seus movimentos de especulação e de valorização segura do capital, principalmente ligados com a questão do pagamento da dívida pública que é 45% do PIB brasileiro, que nos países semi-coloniais significa mais uma forma de dominação externa no país. Contudo, isso está longe de significar que os empresários estão lucrando menos.

Essa situação de paz e tranquilidade que tenta passar os jornais como forma de legitimar um governo golpista, não existe. Só existe paz entre e pela burguesia contanto que seus lucros estejam garantidos. Se as taxas de juros hoje caem é porque os planos de austeridade do governo, estão garantindo um aumento da taxa de mais-valia, nos termos de Marx, o que significa um aumento da exploração de trabalho.[2]

E qual o objetivo da reforma da previdência, que nos fará trabalhar até morrer, da reforma trabalhista, que aplicará a terceirização em larga escala, senão aumentar a exploração do trabalho e assim a parte que vai para o bolso do patrão como lucro?

Certamente não podemos ficar fazendo prognósticos econômicos sem cair em erros e não é isso que se pretende nesse texto. Mas uma coisa é certa, a saída para a classe trabalhadora não passa no plano econômico da ponte para o futuro, que aprofundará nossa dependência externa e a intervenção do imperialismo no Brasil, reforçando os traços coloniais e a reprimarização da economia ao mesmo tempo que aplica um fortíssimo plano de austeridade contra a população.

Ao mesmo tempo, não passa pela saída neodesenvolvimentista que tenta dar o PT e que já se mostrou sustentada apenas em um período de bonança capitalista internacional, e também no aumento da precarização do trabalho, como mostra o aumento da terceirização nos 14 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Que se apoia nos movimentos sociais ao mesmo tempo que concilia com a burguesia internacional, num plano que seria bom para todos.

Certamente, e sem provisões econômicas, a saída para os explorados passa pela subversão das relações de poder existentes. Com os trabalhadores colocando seu projeto econômico à frente, seu projeto de sociedade enquanto vigente e que pense nas necessidades da população e não do lucro capitalista. Isso só pode ser feito com a planificação da economia, mas isso é matéria para outro texto.

Referências:

[1] http://www.ceip.org.ar/La-situacion-mundial
[2] https://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap07.htm#topp

 
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