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RUMOS DA LAVA JATO
Quem está realmente ganhando com a Lava Jato?
Tatiane Lopes
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Não é novidade que a operação Lava Jato dita a pauta do noticiário político nacional. Também é tremendo o entusiasmo que a investigação gera em setores que vão de Merval Pereira, o escrachado colunista reacionário do O Globo até figuras da dita esquerda como Luciana Genro, que tragicamente, mesmo citada em delação recente, segue defendendo a Operação como elemento progressivo frente à crise política e social pela qual passa o país, como se pudesse ou servisse para algum combate real à corrupção e ao sistema político corrompido pelas relações entre o Estado e os capitalistas. Infelizmente não são apenas desavisados ou mal intencionados que se enganam com a Lava Jato. Uma artilharia pesada martela cotidianamente a operação e seus agentes como solução milagrosa para o país e para o sofrimento da população. Mas quais são os reais interesses e quem de fato está ganhando com a Lava Jato?

É verdade que nem tudo são flores entre os atores da operação que finge querer “limpar o país”. STF, MPF e mídia, os atores que detém maior controle sobre a Lava Jato e sua projeção, oscilam em quando e quanto avançar, sobre quais setores políticos do regime, quem queimar, quem proteger, tudo isso de acordo com interesses muitas vezes particulares, outras vezes mais ligados ao cálculo da correlação de forças frente à necessidade de aprovar os ataques. Um jogo bem controlado, que pode exprimir resultados conjunturais distintos, mas que entre si sintetizam pelo menos dois objetivos estratégicos fundamentais, que estão muito longe de coincidir com as necessidades dos trabalhadores e de toda população oprimida que sofre com a crise: o de mudar a localização do Brasil e suas empresas em relação ao imperialismo, favorecendo o segundo, é claro; e o de aprofundar os aspectos repressivos do judiciário no regime.

A primeira grande empreitada da Lava Jato, em seus primórdios do sucesso, visava destruir a Petrobras enquanto empresa pública, queimando a casta burocrática certamente corrupta que geria a empresa, para retirar ainda mais direitos dos trabalhadores e abri-la para o capital internacional, entregando nossas riquezas para as maiores petrolíferas do mundo. Em investigações anteriores aqui no Esquerda Diário mostramos como a Lava Jato agia em setores específicos da empresa, mostrando alguns esquemas de corrupção e não tocando em outros, não coincidentemente, os mais lucrativos e controlados pelas grandes multinacionais imperialistas do petróleo. Moro, pessoalmente, foi treinado nos EUA para melhor atender os interesses imperialistas.

Atualmente a ação coordena ofensiva contra a Odebrecht apontand um movimento no mesmo sentido. Abrir espaço para as multinacionais imperialistas onde dominava a indústria brasileira da construção civil como é o caso da Odebrecht, mas também Andrade Gutierrez e em mercados não só brasileiros, mas de Cuba, Venezuela, Equador e Angola. Uma relocalização da indústria mundial da construção civil, portas abertas para o imperialismo para reconstruir novos grandes esquemas de corrupção na América Latina. Coincidência ou não, justamente petróleo e construção civil foram os ramos que apoiaram Trump nas eleições que abalaram o mundo no ano passado.

A generalização dos métodos arbitrários do judiciário e da PF que atingiram os políticos do regime, mas já eram comuns contra a maior parte da juventude negra e pobre que são a maioria dos 40% de presos não julgados e assassinados antes de qualquer atestado de culpa, é uma marca da Lava Jato que o Estado não pretende limpar. Conduções coercitivas, vazamentos de áudios ilegais, mandatos de busca coletiva, delações premiadas, uma série de inovações, inclusive inconstitucionais, criadas pelo judiciário e MPF que vieram pra ficar, e diferente do que acham os entusiastas citados no início do artigo, não estão servindo contra os políticos e poderosos, que mesmo sob o grande espetáculo da operação sofreram poucas condenações e mesmo nesses casos, cumprem suas penas com tranquilidade em suas mansões.

Aqui no Esquerda Diário sempre alertamos que essas arbitrariedades se voltariam contra os trabalhadores que se colocam em luta para barrar os ataques que o golpe serviu para garantir e que vêm avançando. Não é coincidência que na última leva de delações, e na posterior seleção da mídia sobre o que veicular, tenham aparecido agentes pouco citados anteriormente, os sindicalistas. Dirigentes da CUT e mesmo o reacionário Paulinho da Força apareceram como recebedores de propina da empreiteira para controlar ou diretamente impedir greves contra a patronal, o que, diga-se de passagem, não é um segredo para muita gente como esses sindicalistas independentemente de terem recebido ou nõa dinheiro atuam para impedir as lutas dos trabalhadores.

Seria por acaso essa série de denúncias contra os sindicatos nas vésperas do dia 28, o primeiro chamado, depois de muito corpo mole, de um dia de paralisação nacional que pode apontar um combate sério contra as reformas de Temer? Claro que não. Nem a mídia, o judiciário e muito menos os executivos da Odebrecht estão tendo um acesso de justiça ao falar agora sobre as negociatas da burocracia sindical para esclarecer os trabalhadores. Querem desmoralizar os sindicatos para enfraquecer a luta. E aqui não se trata de levantar alguma dúvida sobre o caráter contrário à luta dos trabalhadores das direções dessas entidades, mas, pelo contrário, de defender a necessidade urgente de que sejam os trabalhadores pela base, em assembleias nos locais de trabalho, os que devem tomar em suas mãos a batalha contra os ataques e obrigar as direções a coordenar a luta.

Se a Lava Jato volta a avançar num sentido "mãos limpas" e substituir um regime de corrupção por outro completamente novo, agora com maiores ligações ao imperialismo, demolindo partidos tradicionais e fisiológicos, colocando ainda mais em xeque o governo Temer e inclusive podendo desestabilizar a aprovação das reformas, são afirmações que dependem de outras variáveis que não são o enfoque deste texto; o que não resta dúvida, no entanto, é que o legado de entreguismo e autoritarismo é sólido independentemente de quanto ela avance em "mãos limpas", e contra ele deve ser a luta independente dos trabalhadores.

 
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