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DEBATE
Luciana Genro e Emancipa Juntos com a Odebrecht. É assim o combate ao capitalismo?
Tatiane Lopes

No último sábado Luciana Genro publicou vídeo explicando a citação de seu nome na delação de um dos executivos da Odebrecht (o vídeo está disponível no final do artigo). No vídeo Luciana assumiu ter recebido dinheiro da empreiteira para o projeto Emancipa durante pelo menos seis anos, ter relação amistosa e comparecer a “eventos sociais” com alto executivo da empresa. Uma relação que não tem nada a ver com qualquer perspectiva socialista. Debatemos nesse artigo algumas questões sobre Luciana Genro e a Lava Jato.

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A mídia e a Lava Jato adotam no caso de Luciana Genro o mesmo expediente que tem se disseminado com a operação, uma delação torna-se prova e a partir dela desenvolve-se manchetes, matérias. A acusação já se torna, de algum modo sentença. Procedimento adotado faz muito tempo pelo Estado brasileiro que mantém quase 40% dos presos sem julgamento. Sempre denunciamos como a Lava Jato fortalecia esses elementos repressivos e como poderiam ser usados contra os trabalhadores e a esquerda, agora contra a mais entusiasta defensora da Lava Jato na esquerda nacional.

Em primeiro lugar para nós não resta dúvida que as intenções da operação Lava Jato, cujos interesses seletivos se vinculam a projetos imperialistas não é de forma alguma o combate a corrupção, como Luciana insiste, mas sim fazer um espetáculo falso desse suposto combate, enquanto fortalece os métodos seletivos e autoritários do judiciário. Além de colocar em crise as construtoras nacionais abrindo o mercado para o imperialismo, e a partir das delações fazendo um jogo político desgastando alguns partidos enquanto “salva” outros.

A Lava jato foi um pilar fundamental para o golpe e segue construindo uma grande campanha ideológica em defesa das privatizações e em algum sentido também das reformas de Temer, que são ataques para que os trabalhadores, jovens e o povo pobre paguem pela crise perdendo direitos mínimos, como o de não morrer de trabalhar sob regimes ultra precários. A lista de Fachin, que atinge muitos e deixa outros como Bolsonaro de fora (citado em lista de Furnas segundo diversos grandes jornais), a mídia cumpre seu papel de aliada, usando as delações segundo seus interesses políticos, seja focando na corrupção petista, ou blindando setores como o PSDB paulista, como Alckmin que mesmo citado pouco aparece.

Para se defender das acusações, bastante frouxas diga-se de passagem, feitas pelo executivo Pedro Novis, de que teria “ouvido dizer” que alguns deputados federais teriam recebido caixa 2 da Odebrecht, entre eles a ex-candidata a presidência pelo PSOL, Luciana retoma uma troca de e-mails entre ela e o executivo Alexandrino e revela com naturalidade o que deveria ser motivo de vergonha: manteve relações políticas, cumpriu papel mediador entre a Odebrecht e o sindicato de trabalhadores que denunciava as relações de trabalho na empresa e sustentou durante pelo menos seis anos o financiamento do cursinho Emancipa, iniciativa da própria Luciana e do MES, com o dinheiro dessa multinacional que explora trabalhadores e é símbolo da relação estrutural entre o Estado capitalista, seus políticos e a corrupção.

Não é bem uma novidade que a Luciana Genro e o MES aceitam financiamento de grandes empresas. Em 2008, durante as eleições municipais, o financiamento de sua campanha pela Gerdau, Taurus (empresa que produz armamento para a PM!) e pelo grupo Zaffari anos depois já demonstrava o caminho que trilhavam. Complementaram essa trajetória na última eleição municipal defendendo a continuidade de parcerias público privadas e aliando-se com um partido burguês, o PPL que é aliado do DEM e tudo que é partido burguês tradicional país à fora. Porém, nesse vídeo do final de semana Luciana admitiu relações com a Odebrecht, a empresa que representa hoje a podridão absoluta do regime político no capitalismo brasileiro, fica mais escandaloso. Qual o interesse de uma empresa como a Odebrecht em financiar um projeto social como o Emancipa se não for por interesses políticos?

O trecho do vídeo em que Luciana fala sobre como conheceu Alexandrino aponta questões no mínimo interessantes. Se conheceram em ocasião de um debate entre o sindicato dos trabalhadores e a empresa sobre más condições de trabalho, Luciana quis mostrar que “não era radical” como achava Alexandrino, deu voz à Odebrecht porque considera a pluralidade importante. Encontrou com Alexandrino em um “evento social”, o executivo que, segundo Roberto Robaina, seu companheiro de vídeo, “tem muito peso” na política regional. Por que uma deputada de esquerda encontra com uma figura de muito peso da Odebrecht em eventos sociais e considera natural pedir dinheiro para financiar seu projeto social? Qual esse “evento social” que Luciana não revela?

Ao final do vídeo, depois que Luciana fala repetidas vezes sobre a negativa de continuar a “parceria” com a empresa diante da proposta de tráfico de influência, como se tratasse de uma escolha moral, um mérito neste caso, Robaina encerra o vídeo com colocações sobre a defesa da Lava Jato que já abordamos suficientemente neste artigo e sobre a “moral revolucionária de quem enfrenta a burguesia”, pedindo dinheiro a ela para financiar seus projetos “idealistas”. Enquanto se orgulha de não ser “radical” para os empresários, aparecendo como uma esquerda responsável e que o grande capital pode estabelecer algumas parcerias. Muita explicação e, mais uma vez nenhum corte de classe nas posições de Luciana Genro. Um radicalismo e socialismo que não há capitalista que tema.

Se há um erro que se repete na história, podemos até usar o exemplo da social democracia que Robaina resgata, é o de tentar conciliar interesses inconciliáveis. O lucro da Odebrecht gerado a partir do suor e sangue operário, que financiou a ditadura não serve para “emancipar” ninguém. É uma ousadia Robaina reivindicar Rosa Luxemburgo, cuja geração de revolucionários batalhou até a morte pela construção de organizações com completa independência de classe, para falar de moral revolucionária.

Para nós do MRT e da Faísca, diferente do Juntos!, e Luciana Genro que em seu acampamento que acontecia justamente enquanto vinha a tona essa discussão, fizeram propaganda de revolução enquanto defendem “parceiras” com os capitalistas, a independência de classe é um princípio político que não tem a ver apenas com moralidade, mas com estratégia, pois não é possível vencer o inimigo utilizando de seus próprios recursos. O PT, do qual o MES tanto tenta se diferenciar, pelas vias equivocadas, é a demonstração mais recente e trágica do rumo de traição e derrota que esse erro pode nos levar.

Não vamos repetir os mesmos erros! A juventude precisa de uma saída independente junto aos trabalhadores, seja da burguesia e seus “Investimentos sociais”, do judiciário e sua farsa no combate à corrupção ou das ilusões parlamentares de mudanças por dentro do Estado. Romper com os erros começa por mudar a prática política agora, sem atalhos.

Veja o vídeo com as explicações da ex-candidata a presidência da República:

 
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