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PODEMOS, EM BUSCA DE UMA ESQUERDA PAPAL?
Estado Espanhol: Pablo Iglesias quer missa com o Papa Francisco
Diego Lotito
Madri | @diegolotito
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

O líder do Podemos confirmou essa semana que, se Francisco der a missa, ele a escutaria e tomaria notas

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O líder do Podemos confirmou essa semana que, se Francisco der a missa, ele a escutaria e tomaria notas.

Pablo Iglesias e Héctor Illueca publicaram esta semana uma coluna de opinião no diário 20Minutos com o chamativo título "Si la misa la oficiara el papa Francisco" ("Se a missa for oficiada pelo Papa Francisco"). O líder do Podemos garante que "Francisco é a oportunidade para que o melhor da igreja católica saia à luz". Além disso, argumenta que "ignorar o que representa o papa Francisco para construir um mundo melhor e identificar toda a igreja católica com os setores ultramontanos (defensores da centralização da igreja católica) e bunkerizados em certos espaços do poder do episcopado espanhol seria de uma torpeza imperdoável de nossa parte."

Segundo Iglesias, o Papa Francisco vem tendo "uma intensa atividade diplomática evidenciando uma nítida visão geopolítica das transformações em andamento e uma firme vontade de contribuir com o desenvolvimento de umas relações internacionais pacíficas". Também o elogia por seu papel de “árbitro” na Venezuela, por opor-se “às políticas de austeridade no sul da Europa” e por ter encabeçado um “novo rumo” no Vaticano.

Os elogios ao maior hierarca do Vaticano e da igreja católica, vêm para moderar e tentar encobrir a polemica que se abriu alguns dias antes, quando o grupo Unidos Podemos (proposta da Izquierda Unida), pleiteou no congresso uma moção para que se elimine da televisão pública a transmissão da missa católica nos domingos. Uma iniciativa parlamentar que foi rechaçada por PP e PSOE e que reabre um profundo debate. Qual deve ser a relação entre igreja e Estado? Por que a igreja católica segue tendo semelhante poder político e econômico no Estado Espanhol? Por que o Estado segue financiando a transmissão das missas católicas que se dedicam a difundir conteúdos reacionários contra as mulheres e os homossexuais, enquanto centenas de coletivos sociais dos direitos das mulheres e dos LGBT não têm espaço na TV para difundir suas ideias?

Como já estamos acostumados a ver, Pablo Iglesias, depois de fazer um discurso pela esquerda na tribuna parlamentar, parece se assustar consigo mesmo e volta atrás, moderando o discurso para não perder simpatias entre futuros eleitores. Porém, os elogios de Pablo Iglesias ao chefe do Vaticano sequer são algo novo. Lembremos quando Francisco fez seu primeiro discurso em frente aos parlamentares Europeus em Bruxelas em novembro de 2014 e Pablo Iglesias irrompeu em aplausos ao sumo pontífice.

Ou mais recentemente, em abril de 2015, quando Iglesias não poupou esforços em sua busca por uma foto com o Papa Francisco para que abençoasse sua campanha política, uma operação falida - que inclusive contou com uma ajudinha do kirchnerismo desde a Argentina - mas que era um novo passo na renúncia de Iglesias ao anticapitalismo que tanto defendeu no passado.

Elogiar a “defesa dos direitos humanos” da parte do atual Papa Francisco é um ato de cinismo surpreendente, tendo em vista as denúncias feitas por suacumplicidade com a última ditadura militar argentina.

Como foi comprovado, o atual Papa teve uma relação estreita com os genocidas, que foi desde permitir o sequestro de sacerdotes jesuítas, dizer “não sei nada” na sua declaração como testemunha na Megacausa ESMA em 2010 e encobrir a apropriação de filhos de desaparecidos nascidos em cativeiro, como denunciou na Argentina Estela de la Cuadra, tia de Ana Libertad, a última das netas recuperadas pelas Avós da Praza de Maio.

Em uma entrevista exclusiva com o La Izquierda Diario em setembro de 2014, De la Cuadra afirmou que “o papel de Bergoglio foi proteger os executores da ditadura”.

Mas os crimes de Bergoglio não são só coisas do passado. Semana passada, o La Izquierda Diario apresentou o documentário “Não Abusarás”, produzido por jornalistas argentinos, sobre os abusos sexuais eclesiásticos na Argentina, com testemunhos e documentos que esclarecem o sistema internacional de encobrimento e impunidade articulado pelo Vaticano. Isso é “o melhor da igreja católica” que, segundo Iglesias, Francisco está permitindo que saia à luz?

Em vez de se dedicar a elogiar a Igreja de Francisco, Pablo Iglesias e o Podemos deveriam apoiar a luta para impor a separação efetiva da igreja e do Estado, o fim do financiamento do culto católico, o fim da educação religiosa e a expropriação dos bens da igreja.

 
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