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EM DEFESA DO POVO HAITIANO
Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP participa de atividade da União Social de Imigrantes Haitianos
Letícia Parks
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Depois de anos de experiências de solidariedade entre trabalhadores negros brasileiros e trabalhadores haitianos, a Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP atendo o convite da USIH e participa de atividade com a União Social de Imigrantes Haitianos

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Plantando uma semente de unidade entre trabalhadores negros do Brasil e Haiti

A atividade foi organizada pela própria União Social de Imigrantes Haitianos, a USIH, com o objetivo de apresentar aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros e haitianos quais são os objetivos e realizações da USIH.

Com falas feitas nos dois idiomas – creolle e português – foi possível conhecer o grande projeto que visa desenvolver essa organização, que desde seus primórdios recebeu o apoio da Conlutas e de pelo menos um de seus sindicatos filiados através da Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP.

Esses trabalhadores da Secretaria estiveram lá justamente por fruto de uma ação solidária de doação de alimentos e roupas que foi organizada dentro da Universidade de São Paulo por eles, que levaram ao reconhecimento por parte da USIH dessa Secretaria como alguns dos milhares de negras e negros que, por serem vítimas também do racismo do Estado Brasileiro e da humilhação do trabalho no regime capitalista e racista, se colocam ao lado de seus irmãos haitianos.

Mas, dizendo assim, parece que foi simples estar lá pelo Glicério nesse dia. Não foi. Alguns dos trabalhadores haitianos que nos receberam em sua sede tinham certeza de que nossa presença lá não poderia ser boa, já que éramos brasileiros e não falávamos sua língua. O estranhamento de nossa presença era totalmente compreensível: falamos a língua que os oprime no Brasil, com a falta de direitos civis e trabalhistas, e no Haiti, com as tropas da Minustah.

Foi apenas quando chegou a fala de Pablito, diretor do Sindicato e membro da Secretaria de Negras e Negros e Combate ao Racismo, que nossa presença passou a ser compreendida. Em suas palavras, deixou claro que “nos envergonha a forma como o governo brasileiro trata vocês, e aqui no Brasil nos queremos ajudar e nos colocar a serviço da luta de vocês, em primeiro lugar dizendo que nosso governo deve retirar imediatamente todas as tropas brasileiras da ONU no Haiti”. Disse também que “aqui no Brasil os companheiros haitianos são nossos irmãos de raça e de classe, e que nós aprendemos muito com a revolução que vocês fizeram que foi a primeira revolução negra do mundo, que para nós é um grande exemplo”.

Após sua fala, os companheiros haitianos saudaram nossa presença. Acreditamos fortemente que essa deve ser a nova tradição sindical de todas as categorias do país: a de lutar pelos direitos civis e trabalhistas do povo haitiano e pela retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti.

Em agradecimento a nossa presença, Fedo disse que “usa minha voz em nome de todos os haitianos para agradecer de todo o coração o apoio que nossos irmãos brasileiros estão dando a nós. Quero dizer, como sempre, que estamos juntos na luta, para lutar, para dividir nossa história, porque somos todos guerreiros”. (Veja abaixo os vídeos na íntegra)

O que à USIH e como ela se formou

A União Social de Imigrantes Haitianos começou a ser formar há quase 3 anos, com o objetivo de oferecer serviços sociais em âmbito nacional (Brasil). Os serviços necessários pelos imigrantes são muitos, advindos da profunda opressão que sofrem quando da entrada em nosso país. São recebidos com um visto de entrada que não passa de um papel sem qualquer tipo de validade civil ou social, não podendo ser empregados regularmente como trabalhadores ou matriculados em colégios, escolas técnicas e universidades.

Além disso, devido à sua situação que beira a ilegalidade, a grande maioria dos imigrantes enfrenta situações humilhantes quando buscam serviços básicos de saúde, assistência social e de moradia, havendo muitos que se vêm obrigados a viver nas ruas e outros que morrem por doenças consideradas inofensivas, por dificuldade em receber atendimento médico e medicações gratuitas. Esse encadeamento de fatores jamais poderia ser considerado coincidência, pois como se explicaria, então a desigualdade entre esses imigrantes e aqueles que vêm dos EUA ou da Europa, que tem todos os seus direitos reconhecidos? A única explicação por trás de tudo isso é uma política de Estado que marginaliza e persegue o povo haitiano, mancomunada com os interesses imperialistas de opressão sistemática ao povo herdeiro da única Revolução Negra do mundo.

Parte da perseguição estatal está nas nas dificuldades enfrentadas para a legalização e oficialização da Associação, relatadas por Fedo e Laurie durante o evento do qual participamos. Foram anos de enfrentamentos jurídicos, com leis de município, estado e nação, para conseguir a oficialização e o CNPJ que permitiram a abertura da sede na região do Glicério, na cidade de São Paulo, onde se reúnem trabalhadores e estudantes, haitianas e haitianos, que migraram para o Brasil em busca de condições econômicas e políticas mais estáveis que em seu país.

A Minustah: o braço armado brasileiro da política imperialista e punitiva da França e EUA

Um país que carrega a experiência da primeira e única Revolução Negra do mundo pode ser potencialmente perigoso para o imperialismo, que se baseia no racismo criado pela sua classe dirigente, a burguesia, para superexplorar e oprimir povos ao redor do mundo.

A Revolução Haitiana só é concluída em 1838, com a França fazendo o povo pagar uma dívida de 60 milhões de francos para a França pela libertação dos escravos sob a ameaça de enviar uma nova tropa do exército. O cansaço e o papel de forças traidoras da Revolução fazem com que o acordo seja aceito e, durante as décadas posteriores, o Haiti sofreu uma série de medidas opressoras para do Estado francês para garantir o pagamento dessa dívida. Em décadas mais longínquas, sofreu invasões dos EUA, teve eleições interferidas, fraudadas e anuladas. Teve sua agricultura aniquilada e foi forçado a receber mercadorias exclusivamente do gigante norte-americano, como explicamos mais aqui.

Já fazem 13 anos que as tropas da Minustah (tropas brasileiras da ONU) estão instaladas em território haitiano numa pretensa missão “humanitária”. A história da missão, entretanto, não tem nada de humanitária. Surge a partir da eleição de Jean-Bertrand Aristide, um ex padre da Teologia da Libertação, que foi o primeiro presidente eleito em um processo eleitoral democrático na história do país. Na sua primeira eleição, foi deposto por um golpe, em 1991. Conseguiu governar de 1994 a 1996, tendo sofrido um segundo golpe, e na eleição de 2001 passou a ser perseguido pelo governo norte-americano, sofrendo denúncias de corrupção. Os ventos de golpe voltavam a soprar no país, colocando a população em revolta e convulsionada pelo seu direito democrático de eleger o próprio presidente.

Quando ainda governava, em 2002, a ONU já havia autorizado uma intervenção política no país, e quando em 2004 ele é levado à força para a África do Sul, no meio de sua gestão, a revolta popular se intensifica e, podendo se tornar um processo mais profundo de questionamento do regime, o que nesse país simbólico é extremamente ameaçador para a burguesia mundial. Ao início de 2004 a ONU se pronuncia novamente, autorizando a intervenção militar no país, chamado ao qual o então presidente Lula (PT) responde enviandoas Tropas da Minustah.

Desde que estão lá, as tropas não exerceram qualquer função humanitária. Não existem médicos, enfermeiros, engenheiros ou arquitetos na missão. O que existe é muita denúncia de estupros, execuções, invasão e roubo de casas, saque de supermercados, entre outras atrocidades cometidas por esses militares.

A ida dos membros da Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP na sede da USIH e sua demonstração de irrestrita solidariedade apontam o caminho da unidade das fileiras operárias, um grande medo da burguesia, pois se o racismo serve para nos dividir, a solidariedade entre as diversas camadas de trabalhadores pode ser uma enorme força de criação de sua unidade. Através da Secretaria, vemos um sindicato que se coloca lado a lado dos setores mais oprimidos da classe trabalhadora, atuando como tribunos do povo pobre, trabalhador e oprimido, em defesa de suas demandas, mesmo que não sejam aquelas sentidas pela sua categoria em específico. Sabemos que a dificuldade de se organizar é imensa, e enquanto batalhamos pelo direito de que cada trabalhador possa ter seu sindicato, sua associação, batalhamos também por cada uma de suas demandas mais sentidas, demonstrando que se nossos irmãos haitianos sofrem barbáries em nosso país, como irmãos de raça e de classe, nos solidarizamos e sentimos junto com eles cada um desses ataques. Viva a unidade dos trabalhadores!

Marcello Pablito fala em nome da solidariedade entre os trabalhadores negros brasileiro e haitianos, pela retirada das tropas brasileiras do Haiti:

Fedo, dirigente da USIH, agradece a presença da Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP e reforça a necessidade de solidariedade e união entre os trabalhadores para vencer a opressão

 
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