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RACISMO NA FGV
Aluna negra é hostilizada durante evento esportivo na FGV
Letícia Parks

Durante evento esportivo que ocorria na Faculdade Getúlio Vargas, aluna primeiro-anista negra é hostilizada por outro aluno. A universidade, onde se cobram mensalidades de R$3.500 em média, nega envolvimento de seu corpo dicente.

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Dos fatos aos dados

Durante um evento esportivo na Universidade, se pôde ouvir um aluno gritar "Negrinha aqui não!", dirigindo-se a uma estudante negra bolsista que participava do evento. Uma das poucas estudantes negras dessa faculdade, a jovem se pronunciou em repúdio à agressão que sofreu e recebeu o apoio de uma série de estudantes negros da Faculdade, assim como de docentes e da coordenadoria do curso de Administração, ao qual ela está matriculada.

Por trás do caso aparentemente isolado de racismo que se presenciou na tarde dessa 6ª feira, há uma trajetória acadêmica de uma universidade da qual os negros nunca puderam fazer parte.

A Fundação Getúlio Vargas, assim como outras particulares da elite paulista, cobra mensalidades altíssimas, de em média R$3.500, que apenas uma parcela muito pequena da população é capaz de pagar, já que em nosso país a renda média por habitante é de cerca de R$2.300. Se consideramos que os homens negros recebem apenas 59% do salário de um homem branco e as mulheres negras apenas 40%, é fácil visualizar a profunda desigualdade que reina nessas universidades.

Não existem dados oficiais oriundos dessas universidades, como FGV e Mackenzie, mas sabe-se que nelas não há cotas, apenas alguns programas escassos de ingresso de jovens oriundos da classe operária através de uma seleção por baixa renda.

O papel da FGV na promoção da meritocracia

Universidades como a FGV não permitem a entrada de jovens negros e pobres por uma benfeitoria. A verdade é que há um profundo interesse das elites, especialmente em momentos de crise, de vender uma imagem de que "com esforço, tudo é possível". A própria matéria publicada pela Folha de SP alimenta essa noção, ao advogar contra as cotas para negros: "Não há cotas na FGV, todos os bolsistas entraram por processos seletivos convencionais".

Essa afirmação do jornal carrega 2 problemas: o primeiro, o de propagandear a ideia ignorante e desinformada de que os cotistas participam de um processo seletivo "não convencional", o que é uma total alteração da realidade. Todos os cotistas de universidades brasileiras concorrem às mesmas vagas, no mesmo processo seletivo, que qualquer estudante que preste o vestibular. Fazem a mesma prova, são submetidos à mesma decoreba e à mesma falsa noção de conhecimento que exigem vestibulares e ENEM. Ganham uma pontuação a mais pela autodeclaração negra, o que reduz levemente a concorrência candidato/vaga em alguns, repito alguns cursos.

O segundo problema diz respeito a uma noção largamente alimentada de que o fato desses estudantes da FGV, por exemplo, não participarem de concursos "especiais" pudesse ser um meio de defende-los, para dizer de maneira explícita como algumas pessoas pensam, o discurso é o seguinte: "se fosse uma neguinha que entrou de favor aí não tinha como defender mesmo".

É realmente difícil não sentir nojo tanto da atitude desse estudante como da maneira como determinadas notícias são preenchidas de um conteúdo racista que se pretende proguessista e democrático. Também não nos iludamos com a pretensa "diversidade" da FGV, que ao mesmo tempo que "defende" a aluna agredida, já toma partido em defender o agressor, assumindo uma posição de "não foi um aluno nosso", afinal, haviam pessoas de fora nesse dia. Oras, jamais duvidaria que, se fosse para vir de alguém uma ofensa como essa, muito mais fácil que viesse da elite brasileira, boa parte dela matriculada em universidades como a FGV, o Mackenzie e a USP. Afinal, essa é a mesma elite que, há nada mais do que 3 gerações, distribuía chibatadas, castigos físicos e sentenças de morte nas senzalas Brasil afora e nos mucamos de São Paulo.

E não nos esqueçamos, quando nos colocam pra dentro da Casa Grande é para dizer que "é possível crescer na vida, basta se esforçar", quando sabemos que nossas mães e avós lavadeiras, trabalhadoras de construção civil, cozinhas, domésticas, se esforçam muito mais do que os corruptos de colarinho branco, mas ainda assim, vivemos sob total miséria.

A cultura que sobrevive nas universidades da elite é alimentada, há gerações, por uma lógica totalmente exclusivista, que submete esses jovens negros e pobres que ingressam nessas universidades, a um regime de estudos marcados por ofensas, agressões e desqualificações. Nos colocamos lado a lado deles em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade para todos, voltada aos interesses dos trabalhadores e do povo pobre e preenchida justamente por eles (nós). É por isso que quando a senzala entra na Casa Grande, a Casa Grande surta. E é por isso que, de lá de dentro, a Senzala tem que virar Quilombo e fazer muito barulho. Que as universidades fiquem pretas, porque vai ter, sim, muito negro aqui.

 
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