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O CASO JOÃO VITOR
Médico responsável por laudo de João Victor é fã de Bolsonaro
Fernando Pardal

O caso de João Victor, de apenas 13 anos, que morreu após ser perseguido e agredido por seguranças do Habib’s por ter pedido dinheiro em frente à loja da rede, chocou o país. Ontem, a grande mídia deu as suspeitas de assassinato por encerrado após a divulgação do laudo médico que atestava morte em decorrência do uso de lança-perfume. O médico responsável pelo documento é um reacionário visceral que divulga apoio a Bolsonaro nas redes sociais.

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Teria a investigação do caso da morte de João Victor chegado ao fim? Grande parte da mídia simplesmente decretou que sim após a divulgação do laudo médico de sua autópsia.

A conclusão do laudo, apresentada acima, afirma que "a morte ocorreu de forma súbita e teve origem cardíaca, relacionada ao uso de substâncias entorpecentes/ilícitas." Note-se, em primeiro lugar, que há a preocupação do médico perito, Danilo Vendrame Vivas, em ligar a morte do menino a "substâncias ilícitas".

Se a substância é lícita ou não, efetivamente não tem absolutamente nenhum efeito sobre o efeito que ela é capaz de causar no organismo, sendo que uma quantidade infindável de substâncias legalizadas, como o cigarro, ou a gordura trans, sem dúvida possuem um potencial devastador e causador de infartos e problemas cardíacos muito maior do que o lança-perfume (uma substância que, não é demais lembrar, há poucas décadas era consumida livremente por pessoas de todas as idades e plenamente acessível de forma legal, sendo particularmente popular no Carnaval).

O efeito moral, contudo, da constatação nada médica ou técnica de que João Victor havia consumido uma substância "ilícita" é extremamente eficaz: emplaca na mídia, no discurso hegemônico e no senso comum que o garoto, cujo único "crime" foi estar faminto, era um "marginal" e responsável por sua morte por estar "drogado".

Por trás de um discurso supostamente "isento, imparcial, científico" se mostra a intenção de silenciar a voz dos que clamam por justiça no caso de João Victor, em especial de sua família, de sua mãe, a faxineira Fernanda Cassia de Sousa, que exige a investigação do caso, incluindo os testemunhos de que seu filho foi agredido (o que não é sequer mencionado na autópsia) e a filmagem de sua perseguição.

E quem é o autor do discurso "isento e científico"? Danilo Vendrame Vivas, que, conforme apurado e denunciado pela reportagem da Revista Fórum, é um propagador de mensagens homofóbicas, de machismo, de preconceito contra pobres, de apoio a Bolsonaro. Ou seja, um representante legítimo das posições daqueles que dizem que meninos como João Victor devem continuar sendo enviados pela polícia para encher as prisões e cemitérios (aliás, uma de suas postagens no Facebook se indignava chamando de "palhaçada total" o fato do Senado não ter aprovado a redução da maioridade penal).

Após a divulgação do teor de seu perfil pela Fórum, o perfil não pode mais ser encontrado na busca da rede social. Mas o ocultamento do perfil não oculta o questionamento: qual a legitimidade de Vendrame Vivas para atestar a causa da morte de João Victor? O famoso "jaleco branco", símbolo da arrogância autoritária de médicos que é notória, lhe dá o poder de afirmar, de forma incontestável, que a causa da morte de João Victor - menino que, de acordo com seus valores morais, deveria estar apodrecendo na cadeia - foi causada por lança-perfume e nada tem a ver com a brutal perseguição por parte dos seguranças do Habib’s?

Nós dizemos que não, que é necessária uma investigação séria, feita de forma independente por movimentos sociais, sindicatos e organizações populares, para que se possa de fato dizer o que está por trás da morte de João Victor. Ao lado de sua mãe, clamamos por justiça.

 
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