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ELEIÇÕES NO MÉXICO
Primeiro balanço das eleições blindadas
Pablo Oprinari
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Protestos contra a farsa eleitoral

Este foi o operativo de blindagem eleitoral mais importante na histórica recente, com o aval do Instituto Nacional Eleitoral e dos partidos do Congresso. Ainda que a preocupação central do governo fosse garantir as eleições nos chamados “focos vermelhos” (Chiapas, Oaxaca, Michoacán, Guerrero, Veracruz), se expandiu a todo o país.

O objetivo era conter as ações de protesto que desde a segunda-feira passada se incrementaram, protagonizadas pelos professores e outros setores, criando um clima de instabilidade política que podia ameaçar o processo eleitoral. Foi precedido por ações de agressão e perseguição contra ativistas – como em Puebla e em Veracruz – e de repressão estatal contra os professores, como em Guerrero.

Para enfrentar tudo isso, Peña Nieto lançou nas ruas milhares de militares e policiais, mostrando que esta democracia degradada somente pode garantir sua “paz democrática” apelando à militarização.

Diante disso, durante toda a jornada ocorreram importantes ações de protesto. No correr de todo o dia aconteceram enfrentamentos em diferentes pontos de Oaxaca, Chiapas e Guerrero, assim como protestos no Distrito Federal, Estado do México, Morelos e Guadalajara.

Estas ações foram reprimidas, causando um saldo de vários feridos e mais de uma centena de presos em Oaxaca e outras localidades, como em Tlapa e Guerrero, onde também morreu um estudante pela repressão policial-militar.

Foram ações protagonizadas principalmente pelos setores organizados em torno dos professores e de organizações políticas e sociais; a ação repressiva e governamental conseguiu contê-las e evitar que mudassem o curso geral da eleição – que teve a adesão de dezenas de milhões de pessoas – ou impedissem a instalação das mesas eleitorais em algum estado. Mas, ao mesmo tempo, marcaram as eleições com um caráter muito distante da “paz democrática” que o governo Peña Nieto pretendia mostrar, e expressaram os elementos de instabilidade que definem a situação política nacional.

O pano de fundo é o desprestígio das ditas instituições democráticas. Os elementos de instabilidade política que afloraram nas últimas semanas mostram que a fissura aberta entre amplos setores da população e este regime político se conserva e resultam em novos processos de protesto e mobilização nos próximos meses.

O PRI se mantém, o PRD está em queda livre...

Nestas eleições se decidiam nove governos estaduais, a renovação da Câmara de Deputados federais e inúmeros cargos estaduais e locais.

No encerramento desta edição ainda estão sendo computados os dados do “Programa de Resultados Eleitorais Preliminares”. No entanto, já se pode adiantar as primeiras conclusões, mesmo com dados não definitivos. No terreno das eleições federais, o PRI termina como o vitorioso com cerca de 30% dos votos e o PAN próximo a 22%, enquanto o PRD não passaria de 12%. Estes índices estão abaixo do que previam as pesquisas e dos votos obtidos em 2012, quando o PRI, aliado ao Partido Verde, obteve mais de 38%. No caso do PRI, a persistência do chamado “voto duro”, a coalizão com o Partido Verde (que pode ter alcançado cerca de 7%) e o retrocesso do PAN e do PRD, lhe dariam, entretanto, a primeira minoria na Câmara de Deputados e poderia até chegar à maioria simples.

O dado relevante da eleição é a grande queda do PRD, cuja presença parlamentar será muito provavelmente reduzida à metade, e o ascenso, como quarta força, do Morena de Andrés Manuel López Obrador, com 9%, resultando numa certa reconfiguração do mapa parlamentar (que inclui também outras forças políticas, como o Movimiento Ciudadano, que ronda os 7%). Isso num contexto em que a abstenção poderá ser superior a 52% e o voto nulo ficará em torno de 5%-6%.

... eleições com pouca legitimidade

O processo eleitoral expressou, em parte, o descrédito dos partidos tradicionais entre amplos setores da população. Isso é resultado, sem dúvida, do desgaste das instituições que se acelerou depois de outubro de 2014 com a crise aberta pelo caso Ayotzinapa e que golpeou duramente o PRD, cúmplice e parte do Pacto pelo México junto com o PRI e o PAN, e por ser visto por milhões como envolvido na “narcopolítica”.

Por sua vez, expressou os limites da recente dinâmica política na qual o movimento por Ayotzinapa retrocedeu e os partidos do Congresso instalaram o processo eleitoral buscando recompor sua legitimidade. Isso é o que explica que não tenhamos visto uma derrocada eleitoral e do peso institucional do PRI e do PAN e ainda mantenham a maioria dos governos em aliança ou se alternando.

No caso do PRD, a crise que vivencia expressa os limites do seu papel opositor, direitizado e cúmplice visível do PRI do PAN, e o “voto castigo” de amplos setores que o apoiavam no passado considerando-o a oposição aos governos priistas e panistas. Isso, que se anunciava desde o Pacto pelo México e Ayotzinapa, representa não apenas um dado da realidade muito importante, mas de consequências importantes para o regime político, já que se aprofunda a crise do partido que foi sua “ala esquerda” durante 25 anos e a principal contenção dos setores operários, populares e juvenis.

De outra parte, há fortes indicadores da crise de legitimidade das instituições. O elevado abstencionismo, mesmo sendo característica da maioria das eleições intermediárias e que talvez não seja substancialmente maior que em 2009, não pode dissociar-se de que hoje, nos últimos meses, se constituiu um movimento de repúdio às eleições. Junto com isso o voto nulo, impulsionado, por exemplo, pelo Movimiento de los Trabajadores Socialistas (MTS), rondou altas porcentagens – cerca de 5% até o encerramento desta edição –, uma cifra similar à de 2009, quando se realizou uma grande campanha midiática pelo voto nulo, expressando um forte repúdio à farsa eleitoral e deixando para adiante a necessidade de uma perspectiva política para lutar contra o regime político.

De uma forma mais contraditória, o voto em determinados candidatos independentes – uma novidade da última reforma política – que se postularam como uma “alternativa” ao PRI, ao PAN e ao PRD, expressou – a despeito de sua política e inclusive de sua trajetória anterior – este processo de deslegitimação das formações políticas tradicionais que se reflete no conjunto do México, ainda que em zonas e estados com maior tradição e peso conservador. Destaca-se o triunfo de Jaime “Bronco” Rodríguez, uma figura ex-priista e candidato a governador do importante estado de Nuevo León. Rodriguez deverá ter a elevada vantagem de 17% sobre a candidata priista, convertendo-se no primeiro governador independente e fora dos partidos tradicionais da política mexicana, expressando uma mudança na configuração política num dos estados chave – no terreno econômico e político – do importante norte do país, vinculado estreitamente aos Estados Unidos e a uma poderosa fração burguesa.

O ascenso eleitoral do Morena e sua conversão em quarta força representa um elemento novíssimo da situação política. No fechamento desta edição, ainda se avalia quantas “delegaciones” políticas do Distrito Federal – espécie de distritos – obterá e qual seu peso no principal centro político do país (segundo os últimos dados, teria cinco das 16 “delegaciones”, contra as seis do PRD, que perderia 10 para outros partidos). Sua ascensão é também expressão desta crise que aflige os partidos principais da democracia para ricos, e que amplos setores que antes aprovavam o PRD agora o abandonam e se inclinam para a força política de Andrés Manuel López Obrador, a quem enxergam como opositor.

Como já dissemos no La Izquierda Diario, será fundamental discutir, diante dos milhares de jovens e trabalhadores que apoiaram o Morena em 7 de junho, qual política necessitamos para atender às aspirações populares e como enfrentar os ataques do governo e do regime político. Isso, ao lado de impulsionar a mais ampla mobilização – confiando apenas na força dos trabalhadores e da juventude combativa – para derrotar os planos contra o povo trabalhador.

Preparar a luta contra o governo e este regime assassino

Apesar das intenções de Peña Nieto e dos partidos do Congresso, eleições marcadas pela repressão e descrédito dificilmente podem encerrar por si mesmas, com a crise aberta pelo desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa e que continua se expressando na persistência do descrédito e do desprestígio das instituições e dos partidos. Porém, o governo do PRI buscará – apoiando-se em seu peso institucional e mediante acordos políticos com o PAN e o PRD – avançar com novos ataques contra os trabalhadores e o povo. A repressão e a militarização da jornada de 7 de junho é uma mostra do que preparam. Diante disso é necessário retomar o caminho da luta e mobilização contra esta democracia assassina. O Movimiento de los Trabajadores Socialistas (MTS) conclama a concentrar nosso repúdio à repressão neste 10 de junho na escola Normal de Maestros ao Zócalo da Cidade do México.


FOTO: Wikimedia.org

 
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