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"São Paulo, lugar no qual os muros falavam": entrevista com a grafiteira Luna Buschinelli
Gabriela Farrabrás
São Paulo | @gabriela_eagle
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Como parte da campanha "em defesa da arte de rua" lançamos mais uma entrevista com uma grafiteira. A artista entrevistada da vez é Luna Buchinelli, paulistana de apenas 20 anos que já vem imprimindo sua arte pela cidade.

Gabriela - Luna, nos conte um pouco sobre como começou seu envolvimento com o grafite e sobre o seu trabalho

Luna - O desenho sempre fez parte de mim, essa sempre foi minha válvula de escape, a forma que eu me sentia mais confortável para me comunicar com o mundo ao meu redor. O grafite sempre esteve inconscientemente no meu cotidiano, passei a maior parte da minha infância e juventude morando em São Paulo, lugar no qual os muros falavam, tem ouvidos, parecem ser a própria voz da cidade. Me aventurei a experimentar a técnica de spray e fazer graffiti com meus quinze anos, e a partir daí soube que aquilo era algo que eu precisava pra vida. Precisava mesmo! A experiência com o spray é mágica, muito diferente da do papel. Amo as duas, porém cada uma me faz sentir algo diferente, e explorar dois pontos opostos do meu próprio mundo lúdico.

GF - Por que fazer arte?

L - Para mim nunca houve um por que específico, faço arte porque preciso, fazer arte pra mim é como manter meus órgãos funcionando, meu coração batendo... sem ela eu simplesmente me sentiria só mais um saco de ossos chacoalhando por aí.

GF - O que é ser uma mulher grafiteira?

L - O mundo do graffiti sempre foi um universo dominado por homens, mas acho que essas barreiras nunca me pareceram grandes o suficiente para desistir. Gosto de lidar com desafios, sinto que eles me fortalecem a cada dia. É claro que por ser mulher, muito nova e por estar entrando nesse mundo, no início houve muitas pessoas que me olharam torto, subestimaram e duvidaram de mim. São coisas chatas de lidar, mas coisas do tipo não podem nos impedir. Às vezes temos que nos arriscar por aquilo que amamos, e o que talvez por alguns seja denominado loucura acredito ser a minha sanidade. Nunca me imobilizei pelas questões de gênero, sempre me acreditei capaz. Para mim é uma honra saber hoje que sou aceita e admirada por várias pessoas do meio e superei grande parte desses obstáculos.

Meus sonhos sempre foram maiores do que as barreiras que os cercavam.

GF - O que você vem achando da repressão por parte de Dória que vem prendendo pixadores e grafiteiros, querendo enquadrá-los por formação de quadrilha, afirmando que pixo e grafite não são arte e que se são arte deveriam estar então em galerias?

L - O problema de agora na minha opinião vem de uma questão bem mais profunda: O que é Arte afinal? Arte é aquilo que está só nos Museus? E os Artistas que já tiveram obras expostas em museus e galerias, sempre estiveram ali com suas obras expostas? E o que não é considerado arte por um, necessariamente não pode ser também para o outro?

O graffiti pra mim, como eu já mencionei antes, é a própria voz da cidade. Reprimir o graffiti é tirar a voz do povo, calar quem tem algo a dizer, expressar e manifestar.

É claro que a arte que está na rua sempre foi efêmera, mas não concordo com essa atitude violenta que esta sendo imposta de forma tão rígida. Antes de querer abafar as vozes da cidade, deve-se entender primeiro o por que delas estarem ali. Apagar e reprimir apenas por não achar algo bonito ou estético para você é tornar-se ignorante.

Muitas obras de grafiteiros se encontram sim em galerias de Arte e são reconhecidas mundialmente. Porém não as vejo como graffitis. Por mais que utilizem a mesma técnica, materiais e sejam feitos pelos mesmos artistas que fazem coisas semelhantes nas ruas são duas coisas bem distintas. O “graffiti.” no museu, carrega uma identidade muito diferente daquele que é feito na rua. Grafitar pra mim é o ato de expressar e manifestar na rua, onde aquela obra vai se tornar publica, ser acessível a todos. E a partir do momento que é colocada ali já não pertence mais ao artista, mas sim a cidade, as pessoas que vão ser ou não tocadas por ela, aos moradores do bairro..

A vida na cidade hoje é tão amargurada, sem cor... cinzenta. Os espaços que deveriam ser do uso e lazer da população as vezes são apenas como corredores invisíveis, locais de passagem, dos quais ninguém nota ou vê.

Da casa para o trabalho, do trabalho para casa, para a escola e assim por diante.

Colocar cor, mensagens e escritos na cidade, ao meu ver nos tira desse cotidiano que nos transforma em seres quadrados e robóticos.

Como diz a música do Pink Floyd: Don’t be just another brick in the wall !”

A cidade precisa de cor, precisa de um escape. Alguns podem pensar que são livres aqui dentro, já eu me sinto presa. É uma grande selva de concreto, um ambiente sufocante e esmagador. E se não lutarmos contra isso sinto que seremos engolidos por esse sistema. Nos tornaremos então também cinzentos.

 
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