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Temer e Macri: parceiros no neoliberalismo, porém fazem uma reunião de mãos abanando
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Havia altas expectativas de acordos de integração, aumento do comércio bilateral mas nada de concreto conseguiu-se no encontro de Temer e Macri, fora acordos consulares e integração no uso das redes sociais entre as chancelarias. Decisões inexpressivas que não ajudam a criar "agenda positiva" para nenhum dos dois governantes.

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Fonte da foto: Twitter de Michel Temer

Temer e Macri são presidentes que tem como marca de intenções de governo o avanço de medidas neoliberais. Avançam tanto quanto a correlação de forças os permite. Em uma relação de forças menos favoráveis que a brasileira pós-golpe institucional, Macri sequer buscou acompanhar Temer discursivamente. O brasileiro o saudou pela agenda comum de coragem com “reformas”, ou em bom português retirada de direitos dos trabalhadores. Esse encontro binacional de parceiros de neoliberalismo deixa os dois saindo com mão abanando. Muito barulho para nada.

Temer, buscando maior legitimidade a suas medidas como a reforma da previdência que fará todos brasileiros trabalharem ao menos dez anos mais para receber uma aposentadoria de miséria, quis vende-las como um marco comum. O presidente brasileiro afirmou “temos dito que nosso governo é o governo das reformas, estamos sendo necessariamente ousados. Como temos acompanhado a mesma coragem que Macri está promovendo na Argentina.” Macri se fez de rogado e não seguiu o brasileiro nessa ênfase discursiva.

O encontro foi tratado com certa pompa e expectativa de resultados mais concretos, Macri chegou a enfatizar isso em sua fala. Havia expectativa que os resultados do encontro binacional dessem algum “ânimo” a ambos, não é o que se pode ver pelos resultados alcançados: um solicitação ao BIRD para elaborar marcos técnicos e fito-sanitários comuns (tal marco deve ficar para as calendas gregas, apesar de Macri afirmar que isso seria "um marco histórico") para assim diminuir algumas barreiras comerciais.

Macri e Temer também decidiram organizar serviços consulares comuns às comunidades em diáspora, autorizar o livre trânsito e integração de bombeiros e ambulâncias nas cidades fronteiriças, organizar o intercâmbio de informações e ações comuns em terceiros países através da parceria entre as respectivas agências de comércio exterior, e como membros da "direita moderna" decidiram organizar um intercâmbio para uso comum de redes sociais nas chancelarias dos dois países. Sim isso mesmo, uma integração de Facebook, Twitter e Instagram, veja a partir de 04:30 no vídeo anexado no final do artigo. Talvez, ao menos, o encontro sirva para produzir alguns likes.

Fora isso houve acenos ao México e ao Acordo Transpacífico no discurso, só.

Na Argentina editorialistas propunham que se aproveitasse o encontro para avançar no comércio bilateral, e assim, quando o Brasil sair da recessão isso possa ajudar a aumentar a atividade econômica do outro lado da fronteira.
Aqui, Temer em busca de uma agenda positiva depois de desgastantes decisões que adotou como a nomeação de seu braço direito Moreira Franco como ministro, buscando blindá-lo da Lava Jato ao ter foro privilegiado, e por nomear o tucano e repressor Moraes para o STF, quis fazer do encontro algo mais do que ele podia ser. A expectativa foi aumentada com a carta do presidente golpista nos jornais o Globo e no argentino Clarín.

Na carta intitulada “Brasil e Argentina: tempo de convergência pragmática” afirma: “Nossa união é ainda mais necessária num mundo que, imerso em incertezas, cede a influências desagregadoras. Diante de nacionalismos exacerbados e de crescentes pressões protecionistas, temos que nos aproximar e nos articular cada vez mais — nas dimensões política, econômica, científica e tecnológica, de segurança pública. Nossa resposta a tendências isolacionistas deve ser mais integração.” A caracterização da situação ao menos puderam compartilhar, com Macri declarando como há desafios no cenário internacional que devem ser encarados juntos pelos dois países. No entanto nenhuma grande integração saiu da tertúlia presidencial fora um aceno de intenções de tentar acordos com o México se aproveitando das tensões com os Estados Unidos dirigidos por Trump.

Macri foi mais enfático no tema de buscar aproximar o México, dizendo: “A mudança de cenário faz que o México olhe ao sul. Falei ontem com Peña Nieto lhe desejando um acordo razoável com os EUA.”

A carta de Temer criava expectativa em maiores resultados práticos de livre comércio ou ao menos uma comum pressão de seus governos de direita contra a Venezuela. Temer escreveu em seu artigo “é tempo de trabalharmos lado a lado com os demais sócios pelo resgate do espírito original do Mercosul: livre mercado e democracia. Para dentro do bloco, revitalizaremos o mercado comum, sob o primado do estado de direito”. No entanto nenhuma medida de livre comércio, nenhuma declaração contra a Venezuela saiu do encontro.

O ponto alto do encontro de mãos vazias talvez tenha sido a afirmação de Macri que o “Brasil e Argentina podem ser sócios em tudo menos no futebol”. Se o objetivo são likes e retweets, tal como na parceria de divulgação da diplomacia de ambos países nas redes sociais, seguramente a frase do argentino renderá algum fruto comum.
Veja toda a cerimônia, incluindo os protocolos de assinatura dos acordos mencionados acima e os discursos completos dos dois chefes de Estado, uma cerimônia que totalizou extensos 23 minutos e 58 segundos de transmissão.

 
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