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A crítica social do rapper Sabotage, 14 anos depois de sua morte
Renato Shakur
Estudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

O álbum póstumo (2016) de Mauro Mateus dos Santos, conhecido como Sabotage mostra que o rap ainda carrega aquela característica da crítica social, expressa na célebre frase “O rap é compromisso” – título do álbum lançado em 2000 pelo próprio artista.

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Decerto, o rap de Sabotage ainda tem o compromisso de narrar os problemas inerentes à vida do negro jovem morador de periferia. O álbum escrito e gravado pelo rapper dias antes de morrer assassinado, em 2003, por conta de sua vida pregressa no tráfico de drogas, foi produzido Daniel Ganjaman. Além disso, outros músicos e produtores ajudaram em sua compilação e organização, nomes como Tejo Dasmcaeno, Dj Nuts, Rica Amabis, Quincas Moreira, Mr. Bomba e Duani figuram nesta mais recente produção. O álbum também teve a participação de alguns amigos de Sabotage como Negra Li, Dexter, Quincas Moreira, Céu, Bnegão, Sandrão e Tropikillaz.

Mas como foi apresentada a crítica social do rapper que ainda se propõe a denúncia da violência e do “cotidiano difícil” (para usar uma expressão dele) no álbum póstumo de 2016? Poderíamos ir a fundo a todas as 11 faixas do CD e, seguramente, iríamos aos poucos obter essa resposta. No entanto, proponho um caminho inverso: nos deteremos em apenas uma faixa, porém bastante elucidadora daquela questão anteriormente levantada.

A música “País da fome: homens animais” começa com anúncio de sua morte com quatro tiros sem um motivo aparente, mais uma execução de um jovem negro morador de periferia. A partir disso, Sabotage dá continuação a música com seu flow inconfundível e passa a narrar a sua própria vida no crime e as de alguns seus amigos e conhecidos. Em linhas gerais, o rapper passa a narrar um cotidiano que alterna entre violência, uso de drogas, tráfico e assaltos num tom de lástima e arrependimento.

A música tem a intenção de narrar o cotidiano violento das favelas de São Paulo o qual o próprio Sabotage foi vítima. A ligação criada por Sabotage no título entre um país que sofre com a miséria da fome (mas não só esse problema) e os homens que ali habitam pode ser o pano de fundo para pensarmos sua crítica social. O que está em jogo para o rapper é que a pobreza e a desigualdade social gerada pelo sistema capitalista condicionam a vida daqueles homens. Não à toa o refrão da música propõe uma relação causal pelo uso palavras sem conectivos, mas que pode formar uma oração: “O pobre réu/ Agora é fel/ Homens animais.” Com a permissão da digressão: O pobre réu “que” agora é fel “são” homens animais!

Aí se encontra sua crítica social, o jovem negro morador de periferia que opta pela vida criminosa assim o faz por uma condição do sistema político e econômico imposto a ele, mais que isso, ele na condição onde se encontra não tem escolha alguma se não se tornar uma “homem animal”. A única diferença que os réus têm direito a defesa, o povo preto morador de favela não!

 
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