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QATAR
FIFA: corrupção, subornos e trabalho escravo
Claudia Cinatti
Buenos Aires | @ClaudiaCinatti
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Fotografia: EFE

Para o FBI e outras agências norte-americanas, a investigação sobre subornos, lavagem de dinheiro e outros delitos financeiros apenas começou.

O Qatar, um dos envolvidos, não é só suspeito de ter comprado com milhões de dólares seu lugar como sede da Copa do Mundo de 2022. Sob os olhares condescendentes do presidente da FIFA, da justiça norte-americana e dos patrocinadores, o emirado mais rico do Golfo escraviza trabalhadores imigrantes que há anos constroem os estádios e as obras milionárias de infraestrutura para a Copa do Mundo.

Em 2013, a Confederação Sindical Internacional estimava que antes que rodasse a bola no Qatar, teriam morrido 4.000 trabalhadores imigrantes. Esta estimativa era produto da pesquisa que a organização fazia desde 2011 no setor da construção relacionado com os trabalhos preparativos para a Copa do Mundo de 2022.

Segundo essa mesma pesquisa, a taxa anual de mortalidade entre os trabalhadores da construção poderia subir a 600 se o Qatar não adotasse medidas mínimas contra a exploração extrema e as paupérrimas condições de vida da mão-de-obra migrante. Isto já causou a morte de 1.420 trabalhadores do Nepal, da Índia e de Bangladesh em menos de quatro anos.

Fazendo projeções, por cada partida que se jogue no Mundial de 2022, terão morrido 62 trabalhadores.

A denúncia sobre as mortes de trabalhadores foi investigada também pelo jornal britânico The Guardian, pela Anistia Internacional e por outras ONGs contra o trabalho escravo.

Em uma série de notas publicadas durante 2013 e 2014, o The Guardian divulgava sinistros resultados destas pesquisas:

Em quase todas as empresas construtoras, os trabalhadores dormiam em até 12 pessoas numa mesma casa. Alguns denunciaram que eram obrigados a trabalhar durante 12 horas sem receber nenhum pagamento e se viam obrigados a mendigar para comer.

Em sua grande maioria os trabalhadores nepaleses não haviam recebido pagamento durante meses. Seus salários eram retidos pelas patronais e pelos contratistas para evitar que fossem embora.

Trabalhadores de outros países, entre eles a Índia, denunciaram que seus empregadores retiveram seus passaportes e documentos de identidade, transformando-lhes em ilegais.

Outros trabalhadores denunciaram que lhes foi negada permissão para tomar água enquanto trabalhavam no deserto.

O Qatar tem a taxa mais alta do mundo de trabalhadores imigrantes em relação à população local. Calcula-se que aproximadamente 90% de sua força de trabalho esteja composta por trabalhadores estrangeiros provenientes de países mais pobres, sobretudo da Ásia. No total poderiam chegar a ser entre 1,5 e 1,8 milhões, empregados na construção de estádios, estradas, portos, hotéis e sofisticados complexos de engenharia, como a cidade-ilha de Lusail, onde se jogaria a partida inaugural.

O caso do Nepal é particularmente aberrante. Cerca de 40% destes trabalhadores imigrantes são originários deste país asiático. Segundo as autoridades nepalesas, entre janeiro e meados de novembro de 2014 morreram 157 trabalhadores desta nacionalidade no Qatar, a maioria de ataques cardíacos e acidentes de trabalho.
A cadeia de exploração tem em uma ponta os traficantes de trabalho escravo nas favelas mais pobres do Nepal (um dos países mais pobres do mundo) e no outro os governantes e empresários do Qatar.

É sabido que os países do Conselho de Cooperação do Golfo empregam majoritariamente mão-de-obra imigrante sob um sistema de patrocínio empresarial (kafala). Segundo esta estrutura legal, o trabalhador estrangeiro precisa ser patrocinado por um cidadão ou empresa local para obter seu visto e não pode trocar de emprego nem deixar o país sem a permissão da companhia que o patrocina. Isto significa que sua situação depende legalmente de seu empregador, deixando-o absolutamente vulnerável à patronal que dita as condições de trabalho e o salário sem que o trabalhador possa sequer desistir. A isto se soma a retenção de documentação legal que reduz estes trabalhadores à servidão.

O Qatar não é uma exceção. A força de trabalho imigrante (mais de 20 milhões em todo o mundo) é altamente vulnerável, obrigada a trabalhar para pagar as dívidas a seus “contratantes”, em condições de absoluta ilegalidade e de abusos extremos.

A pouco mais de quatro anos de ter sido selecionado como sede da Copa do Mundo de 2022, e apesar do escândalo produzido pela denúncia, o emirado só fez algumas mudanças cosméticas, mantendo a estrutura fundamental de contratação de mão-de-obra estrangeira. Como era de se esperar, a exibição destas reformas por parte do governo do Qatar, como a construção de uma “cidade operária”, foram suficientes para satisfazer as autoridades da FIFA. Em dezembro de 2014, Joseph Sepp Blatter deu por fechado o tema, garantindo ao Qatar que nada lhe tiraria o direito de sediar o Mundial de 2022.

Evidentemente, há um mundo de distância entre as condições de escravidão moderna e o multimilionário negócio do futebol e o esporte profissional.

 
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