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#NEMUMAAMENOS
Centenas de milhares por #NiUnaMenos na Argentina
Andrea D’Atri
@andreadatri

Uma multidão mobilizou-se em dezenas de cidades da Argentina contra os feminicídios e a violência machista. Em muitos locais de trabalho, houve paralisações de uma hora e diversas ações de protesto

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A chuva que atingiu Buenos Aires não impediu que cerca de 100 mil pessoas se mobilizassem na Praça de Maio nesta quarta-feira. Os protestos ocorreram contra os feminicídios e a violência machista, reeditando a massiva mobilização que tanto em 2015, em frente ao Congresso Nacional, como em junho deste ano, na Praça de Mayo, reivindicando #NiUnaMenos [Nem uma a menos].

A mobilização de Buenos Aires não foi a única que ocorreu. Igualmente massivas foram as marchas realizadas em outras cidades do país como Córdoba, Mendoza, Rosario, La Plata ou Mar del Plata, onde participou a família da jovem Lucía Pérez.

O mundo olha com assombro este fenômeno inédito que está se desenrolando na Argentina, onde à violência machista – que tira a vida de uma mulher a cada 30 horas ou menos – se opõe um enorme movimento de massas, que adotou a consigna cunhada há pouco mais de uma ano, por escritoras e jornalistas que jamais imaginariam que isto fosse possível.

A mobilização de quarta – que suportou estoicamente, durante várias horas, uma chuva torrencial – é apenas uma demonstração de quantas teriam se mobilizado se não houvesse a mediação das inclemências climáticas.

Mas a novidade verdadeiramente reveladora da profundidade e extensão deste repúdio à violência machista foram as diversas ações realizadas pelo movimento operário em solidariedade à luta e reivindicação das mulheres.

A CGT e as duas CTA se negaram a convocar uma paralisação a sério, somente limitaram-se à saudações e apoio meramente formais. No caso da CGT, enquanto desenvolviam-se ações de protesto e paralisações de uma hora em centenas de locais de trabalho, centrava sua atenção em firmar uma infeliz acordo com o Governo de Macri, para – somente – abrir a negociação por uma limitada bonificação de fim de ano.

Precisamente, as ações e medidas de luta as quais nos referimos se davam em distintas fábricas, estabelecimentos e dependências do Estado. Conforme cobriu o portal La Izquierda Diario [versão em espanhol do Diário], foram numerosas e muito variadas estas atividades, que também encontravam eco e difusão em listas de amigos e nas redes sociais.

É evidente que trata-se de um fenômeno inédito no mundo e em nossa própria história: as mulheres convocaram uma paralisação; a burocracia sindical lhes deu as costas e milhares nos colocamos de corpo todo.

Assim demonstraram as assembleias de trabalhadoras e trabalhadores das multinacionais de alimentação Pepsico e Kraft, para citar somente alguns exemplos. Lá se discutiu como lutar por #NiUnaMenos e exigiu-se às centrais sindicais o chamado a uma paralisação que permita dar um combate sério.

Precisamente por isso, não há nenhuma possibilidade de que os partidos tradicionais, que governam para os interesses do empresariado, possam fechar esta “ferida” aberta profundamente, que calou fundo entre centenas de milhares de pessoas. Isto ocorre porque não podem nem querem responder, sequer com medidas paliativas mínimas que poderiam salvar a vida de milhares de mulheres.

São os danos e sofrimentos padecidos cotidianamente por milhões de mulheres trabalhadoras e do povo pobre, o que se encontra na base deste fenômeno político. Aí radica sua força vital. A que impulsiona a não se deter na dor das vítimas, mas que as mulheres se transformem em sujeitos da luta para acabar com o machismo.

Nada será como antes

Nada será como antes depois destas massivas mobilizações contra os feminicídios. As mulheres se colocaram à frente deste combate. Os homens mostraram sua solidariedade e muitos participaram deste dia, uma data propícia para questionarem-se sobre seus privilégios e aceitarem ficar relegados a segundo plano.

Os setores minoritários que, até quarta, defendiam que os homens não marchassem em solidariedade à suas companheiras, quiseram reivindicar o “direito de representação” deste enorme processo, que os cobriu como tsunami.

#NiUnaMenos é um grito profundo e descarnado. A tarefa é transformá-lo em organização, fazendo verdadeiramente real aquilo que sempre dizemos, que “se tocam em uma, organizamos milhares”.

Quem duvida hoje que os numerosos Encontros Nacionais de Mulheres são uma expressão deste movimento gigantesco e, ao mesmo tempo, um espaço limitado para que se possa expressar plenamente?

As mulheres do Pão e Rosas e o PTS [Partido dos Trabalhadores Socialistas] na Frente de Esquerda, seguimos defendendo que nada melhor que fazer com que o próximo Encontro Nacional de Mulheres seja na Cidade de Buenos Aires, o centro político do país, para que seja verdadeiramente massivo com a participação destas milhares de mulheres que hoje se mobilizaram.

É necessário que sejamos amplificadoras dessas vozes que emergem da dor dos feminicídios e que clamam justiça por suas vítimas. É necessário avançar na organização de milhares de mulheres, para erguer um movimento amplo e extenso, de luta, independente do Estado e de todas as variantes políticas que representam os interesses empresariais e depreciam nossas vidas. Uma força combativa que dê uma enorme batalha para enfrentar a violência machista e os feminicídios.

 
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